Estamos num momento confuso na gestão de negócios. Isso é fato!
O que antigamente se resumia a um chefe que mandava e um funcionário que obedecia, hoje se tornou uma confusão de conceitos que incluem: coaching, gestão colaborativa, programas de gestão de dados, coleiras, gráficos, método japonês, método americano e uma infinidade de promessas de finalmente fazer seu negócio entrar nos eixos e dar lucro.
Posso dizer que por ter vivido muitos anos dentro de grandes companhias isso é geral, mas o denominador comum é o gestor que fica buscando a solução final de seus problemas.
O que quero falar hoje é que todas as metodologias, softwares ou filosofias são ferramentas dentro de uma caixinha. Nenhuma delas por si só vai te salvar. Assim como ferramentas técnicas (IATF, Compost Barn, etc.).
O que precisamos parar por um momento e raciocinar é que o gestor como ponto central de tudo isso é quem vai escolher qual ferramenta usar e quando usar, e esse é o pulo do gato. Ter 10 martelos e 20 serrotes não vão garantir que um marceneiro entregue um móvel de qualidade.
Então, como desfazer esse impasse?
Os melhores gestores que já conheci sempre contavam com 3 características muito bem desenvolvidas: Empatia, execução e humildade.
Eu te diria que você pode não saber inseminar uma vaca, mas para manter o melhor inseminador na sua fazenda, será necessário ter exatamente essas 3 habilidades. Vamos a cada uma delas para entender como se relacionam com o seu negócio.
Empatia, trata-se da capacidade de se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sente. Simples na definição, mas desafiadora no dia a dia. Ninguém nasce empático. Todos nós nascemos na verdade bem egoístas, só pensando em que horas vamos ser alimentados, trocados, ninados e conforme crescemos, entendemos que os outros existem e tem suas necessidades também.
O gestor em última análise tem de estar num patamar acima, entendendo que um funcionário não é uma máquina que está ao seu dispor e sim um ser humano complexo e cheio de potencialidades que podem te surpreender. Empatia assim como músculos, pode ser treinada. Como fazemos esse exercício? Como fortaleço minha capacidade empática? Simples: Quando vier aquele pensamento de julgamento do outro cale essa voz dentro da sua cabeça e comece a se perguntar “Peraí, e se eu estivesse ali? E se eu acordasse todos os dias para fazer essa tarefa? E se eu tivesse aprendido assim?”. Te garanto que o seu entendimento vai mudar, no começo menos, mas depois de um pouco de prática te garanto que você vai ficar bom nisso.
Execução. Uma habilidade que exige equilíbrio entre coragem e medo. Muitos gestores pecam por não agirem, outros por atropelarem tudo. O segredo é basicamente você saber dosar o tempo de pensar numa ação, para que essa ideia amadureça, mas que não amadureça demais e se perca o timming de ação (sabe aquela pessoa que quando resolve agir já não adianta mais? É disso que estou falando).
Execução boa é quando você dá um tempo entre pensar numa solução e agir. Por quê esse tempo é importante? Porque nossa mente trabalha como um computador que tem a tela principal (que são as coisas que tomam sua atenção no exato momento) e outros programas rodando em segundo plano (essas ideias não estão esquecidas, elas estão amadurecendo).
As vezes é importante que um pensamento fique em segundo plano sendo trabalhado pela sua mente para que seu cérebro consiga adicionar informações e balancear outras. Isso faz com que qualquer decisão seja melhor, pois considera diferentes perspectivas, prós e contras. Geralmente quando você age por impulso seu cérebro não tem tempo de perceber tudo e por outro lado quando se demora demais para agir a sementinha do medo tem tempo de germinar e a tendência é que nada aconteça, pois o medo é paralisante.
Humildade é nosso último item do tripé e talvez o mais difícil de definir, porém não menos importante. Quando digo humildade não estou falando de pobreza ou de parecer que você não tem o que tem. Nesse caso estamos falando de humildade intelectual. “Hayla, o que isso tem a ver comigo?”. Te explico.
Humildade intelectual é se permitir ter mais dúvidas do que certezas, ou seja, é assumir que qualquer conceito hoje pode ser mudado, contanto que faça sentido. É basicamente estar verdadeiramente aberto a novos raciocínios, ideias e soluções, lembrando que isso não significa aceitar tudo. Estar aberto é escutar, raciocinar (dar aquele tempo para o cérebro), questionar e enfim chegar às suas próprias conclusões. Em termos práticos é ouvir seu ordenhador dando uma ideia por mais estranha que ela pareça num primeiro momento e pensar se faz sentido ou não.
Obviamente você vai escutar abobrinha, mas dessas abobrinhas vão surgir muitos insights geniais vindos de pessoas que você jamais imaginou. Acredite em mim! Além disso, quando um gestor é de fato aberto a escutar sua equipe, consultores etc. se cria um clima ao redor dele mesmo de cooperação.
Pense (e use a empatia), quão frustrante é criar coragem e se preparar para dar uma ideia ao seu chefe e ele simplesmente te ignorar. Quando um líder escuta, considera e agradece uma sugestão ou opinião (por mais que ela não seja acatada) isso encoraja quem está em volta a pensar e não a se retrair, como ocorre em 99% das vezes. Gerando dois problemas: Ninguém contribui e você acaba isolado.
Portanto humildade, empatia e execução são habilidades que desenvolvemos com muito treino e que se inter-relacionam o tempo todo no nosso cérebro. É como se fosse uma balança de três pratos. Lembra-se que iniciei o texto dizendo que esse mundo da gestão vivia uma confusão? Pois bem, a melhor maneira de organizar essa bagunça toda é ter em mente que esses três termos que comentamos vão ser sempre seu Norte, o resto é chave de fenda, furadeira e martelo, que tem obviamente seu valor, mas não entregam resultado por si só.
Raciocine comigo, quando surgir uma oportunidade de um curso X ou um software de gestão Y se recorrermos a humildade para escutar do que se trata antes de recusar e quem sabe perguntar ao seu consultor ou alguém que você confie se é momento ou não de aderir a determinada coisa você pode economizar seu precioso tempo ou investi-lo em algo que faz total sentido.
Se todos ao seu redor estão caminhando para Compost Barn por exemplo, porque não usar a capacidade de execução e humildade para ir conhecer, escutar, saber do que se trata, usando obviamente a empatia para entender que talvez a realidade dos outros não seja a sua. Entende como apenas a mudança no olhar das coisas vai te colocar num outro patamar? Por um lado, você para de gastar tempo e dinheiro com milhões de ofertas de produtos e serviços milagrosos e por outro você talvez saia da inércia de um negócio que não se atualiza.
Um último ponto que quero destacar é você, leitor, que tem o desafio da sucessão. Se é filho de um produtor e se sente inseguro ou carrega consigo a síndrome do impostor, mude a perspectiva. Já vi filhos que voltam à fazenda depois de anos afastados, sem absolutamente nenhum conhecimento técnico, sem saber nada nem de vaca nem de agronegócio, mas que tiveram a sacada que o grande ponto não é a técnica ou a tecnologia escolhida e sim a cabeça do gestor que vai atrair pessoas para colaborarem com o negócio ou afastar e assim cair na famosa solidão da liderança que muitos experimentam.
Termino a reflexão por aqui, na esperança que você se sinta um pouco mais tranquilo e quem sabe disposto a repensar como estão esses três pratinhos na sua balança.
Um forte abraço, até a próxima!