Prof. Dr. Paulo Machado
Pesquisadores da Clínica do Leite - ESALQ/USP
O Método MDA de gestão de propriedades leiteiras foi criado para auxiliar produtores de leite a atingir o sucesso, baseado em anos de experiência na implantação e condução de projetos de produção de leite utilizando conceitos de gestão da Qualidade Total. Fundamentado nos cinco princípios básicos de gerenciamento a seguir, ele foi criado pela Clínica do Leite (ESALQ-USP) com o objetivo de profissionalizar e facilitar o gerenciamento de propriedades leiteiras, atrair e reter bons funcionários e trazer mais riqueza ao produtor.
1. Objetividade
O primeiro passo de qualquer viagem é decidir o destino e só depois a estrada. Sem saber aonde queremos chegar é impossível escolher a melhor estrada, a mais rápida, a mais curta ou a mais segura. O princípio da objetividade é a habilidade de só fazer aquilo que te deixa mais próximo de onde quer chegar. É, portanto, a definição clara e escrita da missão, visão, valores e metas do negócio.
Para que uma empresa alcance o sucesso, sua missão, visão e metas devem atender a necessidade de todos aqueles interessados no negócio: os clientes, os empregados, a sociedade e os acionistas. No caso da empresa produtora de leite este último muitas vezes é o próprio produtor e sua família.
Portanto, para definir o destino da viagem, é preciso entender o que cada um dos quatro interessados no negócio querem:
- O que o a indústria (cliente) quer em termos de qualidade, volume, entrega e constância?
- O que os empregados querem? As necessidades básicas e sociais deles são atendidas? Eles são reconhecidos pelo trabalho? Fazem parte das decisões? Veem a empresa como um local seguro para trabalhar?
- O que a sociedade quer? As leis são atendidas? O meio ambiente e os animais estão sendo respeitados?
- E os acionistas? A empresa dá o retorno econômico e financeiro esperado?
A objetividade também está ligada com a constância de propósito. A definição do destino e a implantação dessa visão no dia a dia da empresa é um processo lento e precisa de persistência. É papel do dono da fazenda garantir que esses princípios sejam praticados, reforçados e estimulados para que a mudança se torne parta da cultura da empresa e das pessoas. Para isso é necessário compreender o princípio da coordenação.
2. Coordenação
A única forma de garantir que todos os interessados do negócio terão suas necessidades atendidas é através do estabelecimento dos procedimentos operacionais, das rotinas e do monitoramento das atividades. É preciso integrar o sistema de produção com os recursos disponíveis e fazer com que todos entendam o papel e função de cada um. Ou seja, fazer tudo igual todos os dias!
E as melhorias? Fazer tudo igual todos os dias não implica a ausência de mudanças, muito pelo contrário. Para atingir o sucesso é preciso melhorar constantemente. Entretanto, as mudanças e melhorias devem ser baseadas em fatos e dados e só são justificáveis se um dos interessados não estiver ficando satisfeito.
Para isso é necessário identificar quais são os indicadores que permitem a tomada de decisão, ou seja, os indicadores devem possibilitar que o gerente:
- Saiba se os interessados estão sendo atendidos,
- Reflita sobre o presente,
- Aja no curto prazo,
- Olhe para o futuro e
- Tome decisões de melhoria.
É imprescindível que o gestor entenda que em todos os processos os resultados variam e é papel dele saber se um resultado está dentro da variação normal do processo ou se é um evento especial que aconteceu por causas externas. No segundo caso o gestor deve trabalhar para eliminar essa causa. Já no primeiro ele não deve fazer nada a não ser que ele conclua que os resultados dentro da variação normal não esteja atendendo os interessados. Ai sim é preciso fazer mudanças, mudar o sistema (materiais, equipamentos, genética...) ou os processos (a forma de fazer).
3. Autoridade e Responsabilidade
Fazer com que todos saibam seu papel, sua função e como fazê-lo é imprescindível para que os processos sejam executados da maneira correta. Entretanto, quando um indivíduo recebe a responsabilidade de executar uma tarefa, ele deve, também, receber a autoridade para cumpri-la.
Dar autoridade significa dar poder e autonomia para que o outro possa tomar decisões. Para fazer isso é necessário que o gestor entenda e faça com que todos entendam os limites da sua atuação. O gerente, por exemplo, tem responsabilidades diferentes do ordenhador. O primeiro deveria ser responsável pelo atingimento de resultados, já o segundo pelo comprimento dos procedimentos de ordenha. Com responsabilidades diferentes cada um também deve ter autoridades diferentes. O gerente deve ter a autoridade para otimizar os processos, resolver os problemas, acompanhar os resultados, entre outros. Sem isso ele não consegue cumprir sua responsabilidade. Já o ordenhador deve ter a autoridade para executar os procedimentos e identificar problemas, bem como reportá-los para seu superior.
Para mais informações veja o artigo: A organização das tarefas e das pessoas na fazenda produtora de leite.
O processo de transferir autoridade para que as pessoas assumam a responsabilidade pelos resultados é chamado delegação.
4. Delegação
“Se quiser fazer bem feito faça você mesmo”. Apesar de inspirador o dito popular é praticamente impossível de ser aplicado na realidade de uma propriedade produtora de leite. A única saída é delegar.
Ao fazer com que o as pessoas entendam suas atribuições, autoridades e consequentemente se responsabilizem pelos resultados que estão entregando, o gestor passa a ter o melhor controle da empresa que se pode conseguir sem precisar fazer tudo sozinho.
Delegar é a melhora maneira de se atingir os resultados esperados, e portanto atender as necessidades dos interessados. Mas para isso é necessário saber delegar. É preciso saber como transferir responsabilidade e autoridade para a pessoa certa, para aquela que tem condições técnicas e emocionais para realizar as tarefas a ela designadas. É também necessário que se crie ferramentas e uma cultura de comunicação clara e transparente para que os problemas possam aparecer e serem resolvidos. O primeiro passo para isso é entender o princípio da unidade de comando.
5. Unidade de comando
Para que cada pessoa envolvida no negócio aja com responsabilidade e autoridade, entregando os resultados esperados, e portanto, permitindo que o gestor coordene todos os processos e atinja os objetivos do negócio, é preciso transparência na comunicação.
A transparência vem de cima para baixo fazendo com que todos saibam que a empresa existe para atender as necessidades dos empregados assim como dos outros interessados, mas também de baixo para cima com as ocorrências, problemas e resultados de cada processo e setor.
Para que a informação suba na hierarquia da empresa é imprescindível que cada pessoa tenha uma única unidade de comando, ou seja, cada empregado deve responder para somente uma pessoa.
Como cada empregado tem suas responsabilidades e autoridades cada um deve entregar o melhor resultado possível das tarefas que cabem a ele. Entretanto, em alguns momentos pode haver conflito de recursos entre as tarefas. Como é papel de cada um defender as suas atividades, deve haver uma, e somente uma, figura que decide qual é o melhor uso daquele recurso. Se houver duas e cada uma também está defendendo os seus resultados não haverá acordo.
Um bom exemplo para ilustrar uma situação como essa é uma fazenda que tem como atividades o leite e a produção de grãos. O responsável pelo leite precisa que o tratorista realize uma atividade no ao mesmo tempo que e responsável pela agricultura precisa que o tratorista realize outra. Nenhum dos dois estão errados pois cada um deve defender os seus respectivos resultados. Mas como o tratorista não tem um único chefe e sim dois ele não sabe o que fazer. Nesses casos é papel do dono da fazenda, autoridade maior, garantir que o princípio da unidade de comando seja seguido e, portanto o tratorista deveria responder para o dono.
Em suma, para que uma propriedade tenha sucesso na produção de leite é necessário que fique claro para todos o que é certo e o que é errado, sendo que o certo é sempre voltado para o atendimento das necessidades dos interessados. Definido isso, é preciso criar uma nova cultura na empresa voltada para a entrega de resultados em que os problemas são os resultados não atingidos. Portanto medem-se resultados para mudar e melhorar os processos além de treinar as pessoas. Procura-se o que está errado e não quem está errado.