Compost Barn, o que ninguém te conta antes de construir - Parte 2 |
Atualizado em 17/12/2020
Quem construiu o barracão para nunca mais ver uma vaca "batendo"? Quem construiu um Compost Barn pensando que seria inverno o ano todo? E quem construiu achando que as vacas iam voar e você ia precisar comprar outro tanque, fazer leilão todo ano, etc? Pois bem... pegue a senha e vá pro fim da fila senhor (a).
Infelizmente estamos sempre em busca de algo. Aquele algo que vai resolver todos os nossos problemas, aquilo que vai superar todas as nossas expectativas e vai enfim nos fazer chegar a terra prometida, Canaã. Com o Compost Barn não seria diferente. Vou sempre a fazendas que, apesar de terem construído, não se atentaram a algumas questões da construção e manejo cruciais para que o resultado do barracão seja realmente bom.
Quais os principais pontos que você não pode errar? Você vai ver que fazer um projeto com um consultor específico será um dos melhores investimentos.
A orientação do barracão deve ser Leste-Oeste, para que o sol passe por cima e você tenha a maior área de sombra possível pelo maior tempo possível abaixo da cobertura. Se fizer Norte-Sul você vai perder eficiência pois haverá sol dentro do barracão mais tempo. É possível trabalhar? Sim, mas se prepare para deixar uma metragem maior de cama por vaca pois elas vão evitar áreas de sol.
Economia que não vale a pena definitivamente. O beiral vai proteger a cama da chuva que, caso molhe, irá expor suas vacas a risco de mastite sem necessidade alguma. Lembre-se que mesmo que sua fazenda seja numa região como o Centro-Oeste, que não chove em boa parte do ano, o resto dos meses chove e seu risco será sempre iminente. Faça a conta de quanto pode te custar um surto de mastite e, seja honesto nessa conta, medicamento, descarte do leite, queda significativa na produção (que adeus, nunca mais volta), CCS e até perda de animais. “Ah! E se eu não fizer o beiral na pista de trato”. Vai molhar a comida. Pois bem, esse é o maior custo da fazenda e eu não gostaria de perder nada da comida feita com tanto trabalho.
Leite é liquido, pelo menos até 2020 ainda é. Então temos que hidratar nossas vacas. Elas perdem uma quantidade enorme de líquido a cada ordenha e precisam repor isso. Seu barracão pode ser lindo, mas deixar poucos bebedouros ou deixá-los sujos interfere diretamente na ingestão de água dos animais. Se elas bebem menos água elas põem menos leite no tanque, é a lei da causa e efeito. Sabe por quê? Porque a natureza é sábia! A vaca sempre vai (fisiologicamente) pensar nela primeiro antes de produzir leite para o bezerro. Um ponto importante é que haja um bebedouro na saída da ordenha para aproveitarmos o estimulo fisiológico de sede que vem no momento da retirada do leite. Deixe um cocho com largura de 0,80m por animal e multiplique pelo número de conjuntos, ou seja se saem 6 vacas por vez deixe espaço para as 6 beberem água sem disputa ao mesmo tempo. Sempre dê o maior número de chances para que as vacas bebam água. Saiba que água entra em praticamente TODAS as funções fisiológicas (imunidade, termorregulação, digestão, etc.) ou seja “Vaca que bebe menos água passa mais calor”. Estamos entendidos?
Esse é um atalho muito popular, mas péssimo! A turma constrói um barracão de revista mas esquece da sala de resfriamento. É o seguinte: Pense no aquecimento dos animais como um carro acelerando na pista. A sala de resfriamento vai frear bruscamente esse carro e apenas ela tem esse poder!
Se as vacas não forem para a sala de resfriamento e ficarem os 40 min resfriando, elas entram em estresse térmico (temperatura acima de 39.1°C) e demoram muito a sair de lá. O banho é a maneira mais efetiva de tirá-las do estresse. O que vai mantê-las abaixo dessa linha de estresse? As condições climáticas a que elas se expõem logo após o banho, ou seja a temperatura ambiente (em dias mais quentes o efeito do resfriamento vai durar menos), se os ventiladores estão ligados, umidade mais baixa, etc.
Você pode usar aditivos alimentares com comprovação cientifica que ajudam bastante a ficarem menos tempo em estresse térmico também. Agora calma, não quer dizer que você precisa ficar com um termômetro 24 horas monitorando os animais. Já sabemos que as vacas esquentam em determinados horários, com algumas variações.
Que horários são esses? Elas começam a acelerar pela manhã, após a primeira ordenha e entram em estresse térmico por volta do meio dia e vão assim até o final da tarde, quando, teoricamente, elas deveriam tomar um segundo banho. Após essa ordenha do final do dia elas começam a esquentar de novo e tendem a passar a noite em estresse. Lembre-se que a cama do composto não é tão fria quanto a areia do Freestall e que ela fermenta, além de que, durante a noite, a construção está irradiando calor. Mas calma! Não precisa se desesperar. Considere então que os ventiladores devem ficar ligados durante a noite e também e, se possível, dar um banho extra por volta das 22:00h. Obviamente banhos extras devem caber no seu manejo, mas sabendo da importância com certeza fica mais fácil de encaixar. Note no gráfico o efeito do resfriamento no momento da ordenha.
Ventilador de frango nem pensar, ok? Sou categórica em relação a isso e a economia não vale a pena. Um ponto importantíssimo antes de comprar um ventilador é ir conhecer um projeto em que já estejam instalados e verificar o funcionamento deles. Por quê? Porque a velocidade de vento que precisamos é de 2 m/s na cama e 3 m/s na sala de resfriamento. Nesse quesito muito se promete, mas pouco se entrega. Cuidado com marcas que prometem entregar essa velocidade de vento a uma distância muito grande uns dos outros (20m por exemplo), pois pode ser uma tática comercial para baratear o projeto total. Minha dica: procure equipamento específico para vacas e vá visitar fazendas para vê-los em funcionamento! Temos excelentes equipamentos tanto nacionais quanto importados.
Comprar ventilador e não ligar é uma triste realidade em muitas fazendas. Sabemos do custo e da crise no fornecimento de energia, especialmente em alguns estados. Vamos às recomendações e depois às alternativas.
O certo é ventilação ligada 24 horas. Pensando na cama, nas vacas e na qualidade do ar. Ponto. Negociação possível: Fazer grupos de ventiladores ou instalar inversores nos ventiladores. Os grupos podem ser "uma linha sim e uma não" que se alternam em alguns períodos do dia, onde a energia é mais cara por exemplo. Os inversores têm se mostrado como uma excelente alternativa para manter a ventilação e usar menos energia, isso tudo pode ser programado no painel para que seja totalmente automático com custos bem razoáveis. Os inversores podem vir integrados aos ventiladores ou serem comprados a parte.
Como falei acima, pense no aquecimento das vacas como um carro acelerando na pista. A sala de resfriamento funciona como um freio brusco, já o resfriamento da linha de cocho é um freio mais brando. É efetivo, dá resultado, mas não tão palpável como a sala de resfriamento e, lembre-se, vai precisar de um bom manejo de dejetos.
Erro básico da atividade leiteira como um todo. Cuidamos e discutimos minúcias de dietas, detalhes de construção, fisiologia, etc. Mas esquecemos de quem opera toda nossa engrenagem. Esquecemos que quando a fazenda opta por construir vai mudar uma série de manejos e para que tudo isso funcione você vai precisar treinar, conversar, treinar de novo, acompanhar, conversar de novo... Enfim o trabalho com pessoas é repetitivo e exige paciência, mas é o que vai fazer sua fazenda voar, é o que vai fazer com que a engrenagem rode.
Concluo aqui, esperando de coração que essas dicas sejam valiosas e que possam minimizar os erros de quem está com a melhor das intenções mas precisa de orientação para realmente chegar lá. Comentem e repliquem!
Leia também:
HAYLA FERNANDES
Descrição: Médica veterinária pela UFG, mestre em sustentabilidade e pecuária e consultora técnica. Proprietária do perfil @vaca_feliz_oficial no Instagram. Contato: (62) 99949-5588.
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JULIANO PERPÉTUO DA SILVAMACHADO - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS EM 19/11/2020
Hayla tbm quero te agradecer pelo que vc está fazendo pelos produtores !!! Quero te dizer que aprendi muita coisa hj com vc . Trabalho com montagem e manutenção de ordenhadeiras e montagem de ventiladores para compost barns
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RENATO BARROSOABAETÉ - MINAS GERAIS EM 22/10/2020
Parabéns pelo artigo, vc acha que daria certo um compost Barn para criação de bezerros em baias coletivas, tipo 10 animais por baias, vi algo assim na Nova Zelândia.
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 22/10/2020
Olá Renato! Acredito sim e aqui no Brasil algumas fazendas já estão fechando suas recrias. Muitas outras fazendas devem começar a ir para esse lado.
Creio que tudo depende de como está indo a sua recria, se o gado aguenta estar fora ou necessariamente precisa ser fechado. Outro lado também é que muitas fazendas não melhoram o manejo e esperam que a estrutura vá solucionar 100% dos problemas. Outro ponto é a viablidade econômica disso. Te recomendo uma consultoria especifica nesse assunto para não investir nenhum real sem antes ter todo o cenário desenhado. Forte abraço |
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OAKIS JOSELEOPOLDINA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE EM 31/07/2020
vc teria fotos de um barracão feito de forma mais simples possível
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LATICINIOS REZENDE LTDAMONTANHA - ESPÍRITO SANTO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS EM 13/07/2020
Bom dia!
É possível fazer um Composto sem a área cimentada para alimentação? A ideia é não ter a pista. |
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 15/07/2020
Olá
Olha, particularmente acho muito arriscado. Acompanhei fazendas que optaram por não construir e o manejo da cama tinha que ser muito mais intenso e o risco de mastite era muito maior. Sei que a economia pode ser atraente, mas nesse caso não aconselho. Abraço |
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AMILTON SOARESEM 09/07/2020
Faz 3 anos que estou em busca de informações sobre compost barn. Visitei várias propriedades, umas recem inauguradas e outras a mais tempo trabalhando nesse sistema. Concerteza ainda vão ter muitas dúvidas e erros tbm. Estou em busca de acertar mais do que errar. Não vai ser fácil. Vc poderia me passar no que deve me ater para errar menos.
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 15/07/2020
Olá Amilton,
Recomendo que leia os artigos que escrevi antes. Trouxe vários pontos que devemos nos atentar antes de optar pela construção. Em linhas gerais te diria que primeiro de tudo é organizar a gestão da fazenda, depois procurar um bom técnico que faça o projeto e por fim se preparar para essa mudança na fazenda, especialmente com as pessoas. Abraço |
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ADEMAR SEHNEM JUNIORSÃO LUDGERO SÃO MARTINHO - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE EM 26/05/2020
Boa Noite Hayla, meus parabéns pelo seu admirável trabalho.
Bem, você teria algum material para disponibilizar falando sobre sala de resfriamento na prática? Dimensionamento, aspersores, ventiladores, projetos... Grato |
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 26/05/2020
Olá Ademar, no meu perfil do Instagram (vaca feliz oficial) tenho alguns vídeos que postei na semana do conforto. Se não achar me avise pelo direct que te mando. Vou preparar uma publicação sobre isso, uma boa né?
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JOAO BATISTA RODRIGUESSÃO ROQUE DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE EM 25/05/2020
Estou gostando muito dos artigos e gostaria de saber tambem informacoes contrucai em forma de tunel de vendo porq houvir dizer que economiza ventiladores e aumenta o conforto animal se tornando assim o investimento mais barato. Sera que isso procede?
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 25/05/2020
O túnel é uma opção que ainda temos pouca experiencia no Brasil, mas com certeza vai crescer.
Se construir como composto será desafiante o controle da umidade da cama, já que o sistema trabalha com umidade alta. Sobre a economia dos ventiladores procede sim. Porém lembre-se que o túnel também não dispensa a sala de resfriamento. |
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CID LUIZ SEPANSKIEM 25/05/2020
Excelentes esclarecimentos.Mas tenho uma duvida:As vacas tem historico de serem criadas em terra,solo mais duro.Elas não gastam mais energia no compost barn,já que a serragem,ou outro produto usado é muito mais "fofo".
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 25/05/2020
Olá Cid. Apenas nos primeiros dias a cama fica fofinha, nos próximos ela já vai ganhando umidade e esterco e fica mais firme. Mesmo fofa não é desconfortável. O problema é bem pior quando a cama fica compacta, aí sim temos um desafio.
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CAROLINA RODRIGUESITUVERAVA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO EM 25/05/2020
Parabéns pelas colocações Hayla! O primeiro passo para qualquer mudança em uma propriedade é a busca pelo conhecimento! Obrigada por compartilhar tanta informação pertinente a quem busca esse conhecimento!
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LEANDRO DREWSAUGUSTO PESTANA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE EM 25/05/2020
Ótimo conteúdo!
Gostaria também de ter informações sobre o melhor (%) de declive de piso para galpão de alimentação, para segurança e conforto das vacas. Teria alguma sugestão de valor, ou literatura para pesquisa? |
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JOSELITO BONIFÁCIO OLIVEIRABRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE LEITE EM 25/05/2020
Como no artigo 1, colocações perfeitas.
Passei e passo por todas essas questões colocadas. |
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AYRTON BERGER JUNIORPONTA GROSSA - PARANÁ - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 25/05/2020
Oi sou de Ponta Grossa Pr região fria e umida no inverno.Aqui varios pecuaristas de engorda estão fazendo os barracões de composto Bar minha pergunta se vai dar certo .
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HAYLA FERNANDESGOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO EM 25/05/2020
Olá. Ayrton, eu achava que isso ia demorar mais para chegar no corte, mas me parece que no sul já existem produtores indo pra esse lado. Não tenho informações e experiencia para compartilhar por enquanto, mas acredito que pode ser um caminho.
Abraço |
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VANOIR DE CARVALHOSÃO LUÍS DO PARAITINGA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE EM 25/05/2020
No inverno também e preciso deixar os ventiladores ligado a noite
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