A resposta de maneira geral é: depende. Algo que é muito bom para determinado produtor poderá ser motivo de prejuízo para outro. Dessa forma, o objetivo principal desse artigo é expor algumas particularidades do uso de cana in natura ou ensilada.
Um primeiro fator a ser considerado é custo de produção do volumoso. Nas Figuras 1 e 2 são apresentados os custos de produção da cana-de-açúcar in natura, com corte realizado manualmente ou mecanizado e da silagem de cana-de-açúcar com alguns aditivos, respectivamente. (Os cálculos e predições de custo foram realizados com preços de insumos e mão-de-obra praticados no mês de janeiro de 2010).
Figura 1. Custo de produção de cana-de-açúcar com diferentes aditivos.
![](http://wm.agripoint.com.br/imagens/banco/23920.gif)
(NaOH: Hidróxido de sódio; CaO: Óxido de cálcio)
A primeira comparação que pode ser realizada na Figura 1 é que o valor da cana cortada manualmente é mais elevado em relação ao corte mecanizado, e essa elevação no custo da cana manual é função principalmente da elevada mão-de-obra requerida para o corte da mesma. Em relação ao uso dos aditivos que realizam a hidrólise (NaOH e CaO), pode-se observar que o NaOH eleva drasticamente o custo de produção do volumoso, sendo esse um dos principais motivos para o seu desuso, outro ponto a ser considerado para este aditivo é o elevado risco em sua manipulação. O CaO apresenta custo inferior ao NaOH e é uma alternativa viável de aditivo para cana-de-açúcar.
Um comentário prático que deve ser levado em consideração ao uso de aditivos que tem como premissa a hidrólise da fibra e teoricamente elevação na digestibilidade do volumoso, é que esse acontecimento não pode ser totalmente verdadeiro. Existem alguns trabalhos que demonstram que o uso de tais aditivos a partir do momento em que realizam a hidrólise da fibra, torna os componentes solúveis prontamente disponíveis a microrganismos deterioradores. Por final, o uso da ureia é realizado para finalidades nutricionais do animal, como forma de corrigir o déficit protéico apresentado pela cana-de-açúcar.
Na Figura 2 são apresentados os valores de custo de produção para a silagem de cana-de-açúcar com diferentes aditivos. É importante salientar que os aditivos aqui apresentados têm finalidade de controlar a fermentação alcoólica que ocorre durante o período fermentativo desse volumoso, sendo que os custos de produção são menores para silagem de cana com Lactobacillus buchneri, CaO ou ureia. Isso ocorre em função do controle dessa fermentação, o que leva a menores perdas de matéria seca durante o processo. A silagem aditivada com NaOH mais uma vez tem seu custo elevado em função do preço do aditivo ser muito caro.
Figura 2. Custo de produção de silagem de cana-de-açúcar com diferentes aditivos.
![](http://wm.agripoint.com.br/imagens/banco/23921.gif)
(LB: silagem aditivada com Lactobacillus buchneri - 5x104 ufc/g forragem; NaOH: Hidróxido de sódio; CaO: Óxido de cálcio)
Quando é realizado a comparação entre as Figura 1 e 2 verifica-se que o custo para silagem é extremamente mais elevado do que a opção pelo volumoso in natura. Assim, o leitor possa estar pensando no momento, que a saída é sempre optar pela cana-de-açúcar in natura. E nossa resposta é não, o uso da cana in natura ou ensilada vai depender de outros fatores e não somente de seu custo de produção.
Um exemplo é a falta de mão-de-obra dentro da propriedade, onde diariamente um funcionário é requerido para realizar o corte da cana, ou seja, se a falta de mão-de-obra é um problema, a concentração da atividade do corte poderá ser realizada em um período curto do ano, onde toda a cana plantada será colhida e ensilada.
Apesar de o produtor com está opção de ensilar a cana ter elevado seus custos de produção, terá vantagem em outros pontos: o talhão de cana poderá ser manejado de forma homogênea, ou seja, as práticas agronômicas serão realizadas no mesmo período de tempo. Porém, caso exista a disponibilidade de mão-de-obra e o número de animais a serem alimentados não seja limitador, o uso da cana in natura é altamente vantajosa em função de seu baixo custo.