Acredito que todos nós já escutamos a expressão ‘ver para crer’. Com base nessas palavras e levando em consideração que a grande maioria das pessoas necessita mesmo observar antes de realmente estar convicto, uma das atividades que os produtores mais solicitam e gostam de realizar são as visitas a outros tambos leiteiros. A mim particularmente, conhecer outros tambos, ver outras realidades, trocar informações é com certeza uma das atividades, por assim dizer, de melhor impacto positivo, principalmente nas questões de manejo e tomada de decisões na propriedade.
"A mim particularmente, conhecer outros tambos, ver outras realidades, trocar informações é com certeza uma das atividades, por assim dizer, de melhor impacto positivo, principalmente nas questões de manejo e tomada de decisões na propriedade".
Porém, gostaria de relatar um caso, onde, apesar de toda minha convicção de que estava fazendo a coisa certa, de realmente acreditar nos benefícios de uma atividade como esta, tive um resultado desanimador. Certa vez ao retornar de uma excursão com um grupo de produtores, observei que algumas pessoas estavam muito quietas, com seus pensamentos distantes, um comportamento que não tinha observado no caminho de ida. Alguns dias se passaram e tive a oportunidade de conversar com estas pessoas. Lhes perguntei o que acharam do passeio. Com a resposta que obtive, pude refletir sobre este tipo de atividade e rever um pouco a forma de realizá-la.
Quando programei a viajem estava muito contente e pensava que todos iriam gostar e obter muito proveito. Conseguimos visitar uma propriedade que utiliza tecnologia de ponta, possui animais de alta genética, um manejo quase perfeito, tem um modelo de gestão muito bom, ou seja, uma propriedade top, ou como dizemos no Sul, ‘trilegal’. Mas então por que o desanimo do produtor ao ter a oportunidade de conhecer um lugar assim? Com algumas palavras ditas por algum deles, pude entender: “Eu nunca na minha vida vou conseguir chegar a este nível. Minha vontade aquele dia era de vender todas as minhas vacas e buscar outra atividade para mim e para minha família”, concluiu.
"Acredito fielmente que todos temos a capacidade de chegar a ter uma propriedade top, mas para isso, temos um longo e árduo caminho a percorrer".
Foi então que entendi e percebi, que estava saltando algumas etapas no processo de desenvolvimento de meus produtores. Acredito fielmente que todos temos a capacidade de chegar a ter uma propriedade top, mas para isso, temos um longo e árduo caminho a percorrer. Temos muitas etapas de desenvolvimento até chegar a este nível. Hoje programo os passeios a lugares que estão no processo de melhoria, tambos que mostram aos produtores que sim - é possível evoluir! Lugares que criam esperanças positivas aos visitantes, que nos mostram que o caminho tem várias etapas e que a cada uma delas precisamos superar. Essas propriedades não são perfeitas, mas na sua imperfeição, motivam a todos. Hoje o caminho de volta é muito mais animado!
*Rodrigo trabalha na Cooperativa Naranjito, no Paraguai, há 150 km de Foz do Iguaçu. Ele é responsável pelo setor de leite da cooperativa e trabalha com toda a cadeia leiteira, desde a coleta de leite, até a venda. Há cinco anos, a cooperativa vem realizando um grande trabalho junto aos seus associados para mostrar-lhes que a atividade pode sim ser lucrativa. “Temos conseguido muitos avanços, mas ainda, há muito trabalho por fazer". A cooperativa possui 64 produtores com uma média de 208 litros/produtor/dia. "Somos pequenos mas buscamos primordialmente a qualidade, pois foi a maneira que encontramos para fazer com que estes pequenos produtores ganhem dinheiro com o leite, e assim, quem sabe, um dia eles se tornem grandes".