Marcos Veiga
A mastite subclínica afeta de 20 a 50% das vacas leiteiras e é considerada a forma mais frequente de mastite. A maioria dos casos de mastite é de origem bacteriana, o que representa mais de 90% de todos os diagnósticos. As infecções bacterianas causam danos ao tecido epitelial secretor de leite e podem afetar permanentemente a produção e composição do leite. Desta forma, as perdas econômicas causadas pela mastite subclínica são consequência direta na redução de produção de leite, perdas de qualidade e demais custos (tratamentos, descarte da vaca, custos de prevenção e diagnóstico).
Para quantificar os prejuízos causados por grupos específicos de bactérias causadoras de mastite (contagiosas e ambientais) sobre a produção e a composição do leite de quartos, foi concluído recentemente um estudo pela equipe do Qualileite FMVZ/USP. Foi avaliado o efeito da mastite subclínica, causada por diferentes tipos de patógenos, sobre a CCS e produção de leite de quartos mamários contralaterais (sadios e infectados) e sobre o retorno econômico (produção de leite do quarto mamário × preço do leite), por meio de estimativas de um programa de pagamento por qualidade do leite.
Para realizar o estudo, foram avaliadas 650 vacas em lactação (etapa 1), de sete rebanhos leiteiros, durante 3 semanas consecutivas, para identificar vacas com mastite subclínica. Na etapa 1, as vacas foram consideradas infectadas quando apresentaram pelo menos 2 resultados de CCS > 200×103 células/mL e cultura bacteriológica positiva, na terceira semana de coleta. As vacas infectadas foram avaliadas por quarto mamário na segunda etapa de coleta (15 dias após a primeira etapa), sendo mensurada a produção, a CCS e a composição do leite (146 vacas, 584 quartos), além de coleta asséptica para cultura.
Considerando a correção do preço do leite dos últimos 20 anos, o preço médio do leite brasileiro foi estabelecido em US$ 0,31/L (R$ 0,94/L). Após estes cálculos preliminares, estimou-se o pagamento da qualidade do leite usando um programa de uma empresa de laticínios comercial. As concentrações de gordura e proteína do leite e CCS em nível de quartos foram consideradas para calcular faixas de bonificação e neutralidade. Nenhuma bonificação (<400×103células/ml) ou penalização (>500×103células/mL) por qualidade foi aplicada quando a CCS do leite variou entre 401 e 500×103células/mL. O retorno econômico foi determinado pela produção de leite do quarto mamário × preço final do leite.
Considerando todos os quartos mamários avaliados (n = 584), 375 (64,2%) foram cultura-negativa e os isolados bacterianos mais frequentes foram Corynebacterium spp. (7,9%), Staphylococcus cagulase-negativa (5,8%), Staphylococcus aureus (5,3%), Streptococcus uberis (4,6%), Streptococcus agalactiae (3,9%), outros Streptococcus spp. (2,4%), Gram-negativos (2,4%), Enterococcus spp. (1,4%) e Streptococcus dysgalactiae (0,7%). Quartos mamários sadios (124 pares) apresentaram menor média geométrica de CCS (153×103 células/mL) do que quartos contralaterais infectados (337×103 células/mL ).
A CCS e a produção de leite de quartos mamários infectados por patógenos ambientais foram comparadas com quartos contralaterais sadios. Quartos sadios apresentaram menor média geométrica da CCS (207,2×103 células/mL) do que quartos contralaterais infectados por patógenos ambientais (1.278,7×103 células/mL). Os quartos sadios apresentaram maior produção de leite (3,64 L/quarto.ordenha) quando comparado com quartos contralaterais infectados por patógenos ambientais (3,08 L/ quarto.ordenha).
De forma similar, os quartos sadios apresentaram menor média geométrica da CCS (250,9×103 células/mL) do que quartos contralaterais infectados por patógenos contagiosos (1.623,4×103 células/mL). Desta forma, quartos sadios produziram em média 0,73 L/quarto.ordenha a mais do que quartos contralaterais infectados.
Dentre os patógenos isolados causadores de mastite subclínica (n = 15), as perdas na produção de leite variaram de 0,07 Kg/quarto.ordenha (quartos infectados por Corynebacterium spp.) até 2,9 Kg/quarto.ordenha, (Escherichia coli, Figura 1).
Figura 1. Perdas de produção de leite em nível de quartos mamários por patógeno causador de mastite subclínica. *Resultados significativos (P<0.05). ** Resultados que apresentaram tendência (P<0.1).
As perdas econômicas variaram de US$ 0,02 a 0,98/quarto ordenha, sendo maior nos casos de mastite subclínica causados por Enterococcus spp. (US$ 0,43/quarto.ordenha), Streptococcus dysgalactiae (US$ 0,74/quarto.ordenha) e Escherichia coli (US$ 0,98/ quarto.ordenha). Staphylococcus aureus resultou em perdas econômicas de US$ 0,26/quarto.ordenha (Figura 2).
Figura 2. Perdas econômicas em nível de quartos mamários por patógeno causador de mastite subclínica. *Resultados significativos (P<0.05). ** Resultados que apresentaram tendência (P<0.1).
Em termos gerais, a perda econômica foi menor em quartos mamários com mastite subclínica causada por patógenos ambientais (US$ 0,18/ quarto.ordenha) quando comparado com a perda ocasionada por patógenos contagiosos (US$ 0,22/ quarto.ordenha).
Os resultados do estudo indicam que quartos mamários com mastite subclínica causada por patógenos contagiosos e ambientais aumentaram a CCS; e consequentemente, diminuíram a produção de leite e o retorno econômico quando comparado com os quartos contralaterais sadios.
Fonte:
GONÇALVES, J. L. Impacto da mastite subclínica sobre a produção de leite e retorno econômico de vacas leiteiras. 2017. 149 f. Tese (Doutorado em Ciências) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
*Juliano L. Gonçalves é pós-doutorando do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e pesquisador do Laboratório Qualileite-FMVZ/USP.