Tiago Tomazi*
Marcos Veiga dos Santos
Estudos recentes indicam que o número de vacas em lactação por rebanho tem aumentado em diversos países. Paralelamente, a atividade leiteira tem se deparado com a crescente carência de mão de obra qualificada. Em sistemas intensivos de produção de leite, a mão de obra necessária para o manejo de ordenha representa até 55% de todo o trabalho da fazenda. Desta forma, deve-se buscar estratégias para minimizar os custos operacionais e otimizar o uso de mão de obra, a fim de tornar a fazenda economicamente mais eficiente.
Rebanhos leiteiros especializados estão adotando sistemas de ordenha cada vez mais automatizados e informatizados, os quais reduzem o número de pessoas necessárias para o manejo de ordenha, além de fornecer informações mais precisas que auxiliam na tomada de decisão quanto às estratégias de produção de leite e controle da mastite no rebanho. Equipamentos de ordenha modernos possuem sistemas que mensuram o fluxo (Kg ou mL/minuto) de leite extraído por vaca durante a ordenha. Tais sistemas possuem extratores automáticos de teteiras (EAT) que acionam a retirada do conjunto de ordenha quando o fluxo diminui abaixo de um limiar pré-definido. Além disso, um ajuste adicional no sistema de EAT permite pré-estipular um tempo máximo de ordenha (minutos) após o fluxo de leite atingir o limiar de fluxo de leite definido.
A extração automática do conjunto de ordenha a partir de níveis mais altos de fluxo de leite pode reduzir o tempo de ordenha sem que ocorram prejuízos de produção total de leite e de sanidade do úbere das vacas. O aumento do limiar de fluxo de leite para extração automática de teteiras de 0,2 para 0,4 Kg/min reduziu o tempo de ordenha sem afetar a produção e composição do leite e a prevalência de mastite clínica e subclínica de rebanhos leiteiros. Relatos em nível de campo indicaram que o aumento do limiar de fluxo de leite para extração das teteiras de 0,32 para 0,59 Kg/minuto reduziu o tempo de ordenha, ao passo que, a qualidade e o volume total de leite produzido não sofreram alteração.
Programações de equipamentos de ordenha modernos permite a extração automática do conjunto de teteiras por meio da combinação da taxa mínima de fluxo de leite extraído com a duração máxima pré-estipulada de tempo de ordenha das vacas. Esta estratégia permite reduzir o tempo total de ordenha pela limitação do tempo de extração de leite de vacas que necessitam de um tempo mais longo para serem ordenhadas. Este método foi aplicado com sucesso em vacas em estágios avançados de lactação e reduziu em 34% a duração máxima de ordenha das vacas mais lentas sem causar perdas da produção de leite ou aumento da CCS e incidência de mastite clínica. Resultados de estudos subsequentes não indicaram efeitos prejudiciais desta prática na sanidade da glândula mamária. Especificamente, não houve aumento na CCS devido ao aumento do volume de leite residual causado pela ordenha incompleta.
Com o objetivo de atingir a eficiência máxima de manejo de ordenha, pesquisadores da Nova Zelândia avaliaram a combinação entre o uso de EAT e ajuste da duração máxima de tempo de ordenha de vacas leiteiras do parto até 35 semanas de lactação. Quatro critérios de determinação de tempo de ordenha foram avaliados em relação aos seus efeitos sobre a produção de leite, CCS, condições de esfíncter e pele do teto e sanidade da glândula mamária: a) extração automática do conjunto de ordenha ao atingir o fluxo de 0,2 Kg de leite/minuto; b) extração automática do conjunto de ordenha ao atingir o fluxo de 0,4 Kg de leite/minuto; c) extração automática do conjunto de ordenha ao atingir o fluxo de 0,2 Kg de leite/minuto ou quando a ordenha atingisse o tempo máximo pré-determinado (7,5 minutos na ordenha da manhã e 5,4 minutos na ordenha da tarde); e d) extração automática do conjunto de ordenha ao fluxo de 0,2 Kg de leite/minuto até as vacas atingirem 63±21 dias em lactação, e posteriormente, extração automática ao atingir o fluxo de 0,2 Kg de leite/minuto ou quando a ordenha atingisse o tempo máximo pré-determinado. Estima-se que 20 a 30% das vacas têm o tempo de ordenha encurtada após a adoção da estratégia de tempo máximo de duração de ordenha.
Os resultados deste estudo da Nova Zelândia indicaram que o ajuste para extração automática das teteiras por meio do aumento do limiar do fluxo de leite de 0,2 para 0,4 Kg/minuto reduziu o tempo de ordenha sem afetar a produção de leite, a incidência de mastite clínica e a integridade dos tetos das vacas. Vacas ordenhadas com a extração automática de teteiras de 0,4 Kg/minuto apresentaram um leve aumento na CCS (81.283 vs 125.892 células/mL) durante o período de início até as 15 semanas de lactação. No entanto, esta diferença na CCS não foi observada ao avaliar as vacas da 16º semana de lactação até o final do período experimental (35 semanas).
A extração automática das teteiras ajustada por meio da pré-determinação do limiar do fluxo de leite extraído combinado com o tempo máximo de ordenha, quando aplicada tanto no início quanto no pico de lactação das vacas, reduziu ainda mais a duração da ordenha sem afetar a produção de leite, a incidência de mastite clínica ou a CCS. Essa redução foi mais expressiva, pois as vacas de ordenha mais lenta determinam o tempo de permanência de uma sessão de vacas na sala de ordenha, principalmente em sistemas de espinha de peixe ou sistemas paralelos, os quais dependem do término da extração de leite de todas as vacas.
Com base nos resultados deste estudo, ambas as estratégias (aumento do limiar de fluxo de leite e/ou utilização de um tempo máximo de ordenha) têm potencial em reduzir o tempo de ordenha e melhorar a eficiência técnica e econômica da propriedade leiteira sem afetar a produção e a qualidade do leite. No entanto, tais estratégias devem ser utilizadas com cautela em rebanhos leiteiros, pois o sistema de ordenha e o perfil de vacas em lactação são fatores que podem sofrer grande variação entre rebanhos. O ajuste inadequado do sistema de ordenha pode trazer prejuízos para a produção de leite e causar aumento da CCS e de incidência de mastite. Para que tais problemas sejam evitados, recomenda-se a manutenção periódica do equipamento de ordenha por um técnico especializado, bem como o monitoramento da qualidade do leite e sanidade das vacas em lactação.
Fonte: Jago, J. G.; Burke, J. L.; Williamson, J. H. Effect of automatic cluster remover settings on production, udder health, and milking duration . J. Dairy Sci. 93:2541–2549, 2010.
*Doutorando do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Produção Animal, FMVZ-USP.