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Uma nova ordem mundial virá, mas não se sabe ainda qual

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 14/09/2001

6 MIN DE LEITURA

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Os surpreendentes e lamentáveis acontecimentos desta semana chocaram o mundo inteiro, não só pela magnitude e drama, mas pelo fato de terem ocorrido no coração dos EUA, em New York e Washington, supostamente imune a um ato de guerra feito – tudo indica – por extremistas, ceifando milhares de inocentes. Nem o mais fantasioso analista poderia imaginar que seria provável um ataque terrorista sobre o Pentágono e sobre a ilha de Manhattan, pondo abaixo as torres do WTC e literalmente parando os EUA e o mundo por alguns dias. As filmagens em tempo real e claras deram um ar de cinema aos episódios e magnificaram ainda mais os atentados.

A análise das razões que levaram a tais atrocidades evidentemente não é fácil de ser feita, mesmo porquê não está claro ainda quem ou qual país está por trás da operação, embora as suspeitas recaiam sobre extremistas árabes, tendo como motivação a política externa dos EUA na disputa interminável entre Israel e Palestina.

Confirmada esta hipótese para a autoria dos atentados (e não, como alguns sugerem, que tenha sido causada pela ultra-direita americana, o que traria outros contornos), os cidadãos americanos sofreram na pele as conseqüências de um conflito que não pertence diretamente a eles, assim como o sujeito que estava trabalhando no WTC nada tem a ver com as convicções religiosas destes extremistas, que justificam estas ações suicidas sob o consolo de se chegar ao paraíso. Isto acentua, sem dúvida, a perplexidade de todos. Why us ?, se pergunta o americano.

Então, porque isto ocorreu ? A análise que se segue é apenas uma tentativa de colocar os atentados sob uma perspectiva mais ampla e não tem a pretensão de desfocar o fato de que estes ocorreram em grande parte como fruto da insanidade de um punhado de indivíduos (seja este punhado dezenas ou centenas de pessoas).

A partir do final da Guerra Fria, a polarização existente entre EUA e a finada URSS deixou de existir. O peso da ordem - e o poder – mundial se concentraram cada vez mais nos EUA, que praticamente balizam a economia e a política de grande parte do mundo. Como disse um articulista de um jornal, se os juros sobem nos EUA, você não consegue mais pagar a prestação de sua casa por aqui.

A globalização, em tese um movimento positivo por permitir o acesso a diferentes mercados e o intercâmbio tecnológico e cultural, tem gerado cada vez mais insatisfação, com protestos crescentes e mais violentos sempre que as nações mais ricas se reúnem, representando os EUA, neste caso, a personificação deste processo tido por muitos como de grande perversidade.

A distribuição de renda atualmente no mundo revela a disparidade com a qual os diversos países precisam jogar ao entrar no campo das negociações, sejam econômicas ou políticas. Para se ter uma idéia, alguns dados pinçados de diversas fontes:

- Quatro de cada dez africanos abaixo da linha do Saara são desnutridos, enquanto que a taxa de obesidade cresceu 17% na França nos últimos 3 anos (revista Veja, 12/09/01).

- Somando todos os países dessa parte do continente, exceto a África do Sul, há menos estradas asfaltadas do que na pouca desenvolvida Polônia (revista Veja, 12/09/01).

- Cerca de 24 milhões de africanos estão contaminados com o vírus da Aids e 14 milhões já morreram (revista Veja, 12/09/01).

- O PIB norte-americano é quase 15 vezes maior do que o brasileiro, que está entre as 10 maiores economias do mundo (artigo Conjuntura MilkPoint, 17/08/01).

- Em mais de 70 países, a renda per capita é inferior à de 20 anos atrás (artigo Conjuntura BeefPoint, 06/09/01).

- Três bilhões de pessoas - metade da população mundial - vivem com menos de US$ 2 por dia (artigo Conjuntura BeefPoint, 06/09/01).

- As 225 pessoas mais ricas do planeta possuem, em patrimônio, o equivalente à renda anual acumulada de 2,5 bilhões de pessoas (40% da humanidade), (artigo Conjuntura BeefPoint, 06/09/01).

- A fortuna das 15 pessoas mais ricas do mundo é superior ao PIB acumulado dos países da África (artigo Conjuntura BeefPoint, 06/09/01).

- Se em 1960 os 20% mais ricos do mundo tinham uma renda 30 vezes superior ao dos 20% mais pobres, em 1995 essa renda era 82 vezes maior (artigo Conjuntura BeefPoint, 06/09/01).

O fato é que parte do mundo está cada vez mais à relegada à própria sorte – ou azar – no jogo da globalização. Nesta situação, onde a pobreza, a ignorância e o desespero proliferam, abre-se um perigoso espaço para que ditadores (Saddam é um exemplo) e líderes extremistas (o tal Bin Laden) fermentem sua ira, utilizando-a contra aqueles que melhor personifiquem “o mal”, em sua concepção pessoal e cultural.

É evidente que tal situação não justifica as barbaridades realizadas, assim como outras que ocorrem no mundo. Mas podem explicá-las parcialmente e representar um sinal de que os problemas e conflitos mundiais, assim como as crescentes disparidades, precisam ser finalmente encarados pelos países que têm condição de mudar a realidade.

Como colocou Candido Mendes, presidente do Conselho Internacional de Ciências Sociais da UNESCO, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Paz e justiça, em artigo na Folha de São Paulo, hoje, 14/09:

"... O Terceiro Mundo decompôs-se como esperança de desenvolvimento equilibrado no fim do último meio século. E o fundamentalismo mantém em vigília o sentimento de auto-estima, resistente para além da miséria e da marginalidade econômica crônica neste mundo, vasto mundo, para além do que olham os G7, na fotografia da grande risada final de todos os encontros.

Babilônias ou World Trade Centers, não os há impunes a quem luta contra o que sente como rapto da alma, depois da promessa, por mais que paciente, do fim da pobreza absoluta. E vamos, de vez, nesse 11 de setembro, à civilização do medo, perdido o mundo equânime que adiamos, por demais".

Este incidente demonstrou que, mesmo distante, os países do Ocidente, especificamente os EUA, fazem parte do mundo onde ferve este caldeirão de pobreza e insanidade, onde a vida de cada um vale muito pouco diante do contexto mais amplo, e podem sofrer suas conseqüências. Resta saber se as ações daqui para a frente se concentrarão apenas nas retaliações, no recrudescimento da política externa, no fortalecimento da ultra-direita americana, no combate ao terrorismo e aos movimentos sociais e políticos potencialmente danosos ao status quo, ou se haverá de fato mais sensibilidade para encarar problemas e conflitos que se arrastam por décadas em várias regiões do mundo, bem como mais sensibilidade para que a globalização diminua a distância social e econômica entre os países (ex: abertura das fronteiras agrícolas e eliminação dos subsídios, no nosso caso) e não oposto.

Embora a segunda opção seria sem dúvida melhor para o mundo, é mais provável que a primeira seja a via escolhida, pelo menos no curto prazo. De qualquer forma, uma nova ordem mundial se abrirá a partir de agora. Só não se sabe ainda qual será.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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