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Sinais de amadurecimento do setor lácteo

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 03/09/2001

4 MIN DE LEITURA

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É difícil buscar pontos positivos em meio a um cenário em grande parte negativo, motivado pela drástica queda dos preços de leite naquele período do ano em que costumávamos denominar “entressafra”, frustrando enormemente as expectativas.

Mas, imersas neste instante de turbulência, existem evidências que ao menos apontam para o processo de amadurecimento do setor lácteo nacional, a começar pelas conquistas obtidas no início do ano, relativas às tarifas anti-dumping, hoje algo que soa até distante em função dos acontecimentos recentes envolvendo o setor.

Também deve ser assinalada a maior mobilização de produtores, seja através de protestos como o que levou ao pedido de instalação de CPI, como pela criação de associações de produtores visando adquirir maior poder de barganha na aquisição de insumos e comercialização do leite. Temos a percepção de que este tipo de iniciativa está aumentando e é de grande importância para a organização e para a obtenção de maior atuação dos produtores junto às suas organizações de classe, sem falar nos potenciais benefícios diretos advindos destas associações.

Num âmbito mais global, envolvendo os demais elos da cadeia, nota-se o surgimento da Láctea Brasil, cuja proposta sem dúvida representa um avanço nas relações entre estes elos e sobre a qual são depositadas expectativas consideráveis no que tange ao marketing institucional do leite e educação do consumidor, embora os trabalhos da entidade estejam apenas se iniciando.

No aspecto técnico, há modificações dignas de nota, a começar pelo expressivo aumento da produção nos últimos 10 anos, culminando com a quase ausência de entressafra neste ano, mostrando que, havendo sinalização positiva do mercado, o produtor nacional já sabe perfeitamente como manter a produção no período seco, o que definitivamente não era o caso há alguns anos atrás.

Ainda no aspecto técnico, tivemos a realização do 5º Interleite, na semana passada, em Belo Horizonte (MG), com a presença de mais de 400 pessoas apesar do momento conturbado, da greve das universidades federais e, principalmente, dos baixos preços do leite. Fazendo um paralelo do 1º Interleite, realizado em 1994 em São Paulo, para este último, percebe-se claramente o processo de transformação verificado no período.

O de 1994 contava exclusivamente com palestrantes internacionais, especialmente dos EUA e Canadá, sendo esta justamente a sua grande atratividade. O evento foi realizado no Hotel Transamérica e as inscrições custaram a bagatela de US$ 400/pessoa, com quase 400 inscritos. Nesta época, havia poucos eventos desta magnitude e a presença de estrangeiros era relativamente rara. Avaliando hoje o programa, fica fácil constatar que a maior parte das excelentes apresentações daquele evento dificilmente teria aplicabilidade significativa no Brasil de 2001. Por outro lado, se hoje o evento custasse US$ 400, não teria mais do que 10 inscritos (talvez nem com R$ 400 teria público significativo). As expectativas e as possibilidades – do setor e do próprio país - eram outras naquela época, sendo esta disparidade de cenários um indicativo da perda de renda do setor entre 94 e 2001.

O evento de 2001 trouxe quase que totalmente palestrantes nacionais, com ênfase na busca de soluções adaptadas às nossas condições. Pelas opiniões colhidas no local, os palestrantes nacionais deram total conta do recado, mostrando que existe por aqui ampla consistência técnica não só em áreas exclusivamente nossas, como a produção tecnificada em pastos tropicais, mas também em áreas cujo conhecimento ficava anteriormente restrito aos países de maior tradição. Não seria surpresa se, no próximo Interleite, a alteração do nome “Simpósio Internacional” por “Simpósio Nacional sobre Produção Intensiva de Leite”, ou a substituição das bandeirinhas dos países pelas bandeiras dos estados mais representativos em produção de leite, aumentasse ainda mais a presença de público no evento e a sua atratividade.

Outro fato digno de notar é que esta mudança de sinalização na área técnica já atinge de forma definitivamente o setor produtivo. Em uma mesa redonda realizada com 3 produtores que aplicam o sistema a pasto, além de um professor da área, todos que compareceram ao evento puderam notar o profissionalismo, a preocupação com os resultados e a valorização da técnica desta nova leva de produtores.

Isto tudo é sinal de amadurecimento, sob várias frentes. Muitos podem criticar dizendo que de nada adianta estimular a aplicação de técnicas quando se recebe preços aviltantes, quando há um desequilíbrio de forças que tende a se acentuar, quando não há segurança de mercado para o produtor. Mas não vamos confundir as coisas. Há que se atuar em ambas as frentes. A evolução técnica é tão importante quanto a evolução do produtor enquanto elo ativo na cadeia. Pode-se dizer que pouco adianta atuar na defesa do setor se há estagnação técnica e desinteresse em evoluir, e vice-versa. É preciso lembrar também que se estamos vivendo um momento de excesso de oferta, por mais doloroso que seja o ajuste, não é algo que possa durar para sempre.

A prova de que o produtor e o técnico entendem desta forma é o próprio fato de termos tido um público expressivo, ávido por informações, em um dos piores momentos da atividade nos últimos anos.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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