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Retrospectiva 2005: o que dá para tirar de positivo?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 27/12/2005

6 MIN DE LEITURA

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Final de ano é sempre momento de reflexões pessoais e profissionais. Nessa época, analisamos nossos erros e acertos, fazemos novos planos, renovamos alguns projetos não realizados, recarregamos as baterias e criamos assim as condições para que, no ano seguinte, sejamos melhores, de acordo com nossa concepção do que "melhor" venha a ser.

Entre as várias mensagens que recebemos de nossos leitores e amigos, está o belo texto de Carlos Drummond de Andrade: "Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante, vai ser diferente".

Falando de esperança e renovação, apesar de 2005 terminar com gosto amargo para o setor leiteiro - e não só ele, mas a pecuária e a agricultura em geral - analiso que 2005 foi um ano positivo.

Sem dúvida, a conjuntura do segundo semestre frustrou as melhores expectativas. Dando uma passada pelas notícias do início do ano, a expectativa era de um grande ano para o setor, o que aconteceu somente no primeiro semestre. A produção formal, 14% maior do que a de 2004 (dados até setembro), o baixo crescimento do PIB, o crescimento de produtos alternativos de consumo e o câmbio desfavorável se encarregaram de virar o disco. Fica a lição: uma conjuntura favorável em um mercado com baixas barreiras de entrada e sem limitações climáticas ou geográficas, como é o caso da produção de leite, gerará aumentos expressivos de produção, ainda mais se atividades concorrentes estiverem em baixa. Para acomodar esses aumentos, é preciso ter uma via consistente no mercado externo.

Em relação às exportações, apesar de provavelmente terminarmos o ano com um pequeno superávit, a sensação é de derrota: muitas indústrias tinham planos mais ousados para exportação, planos estes que foram frustrados ou que acabaram embutindo perdas decorrentes do valor do dólar. Para o produtor, a sensação é de que ele, com os preços em queda, acabou bancando a retomada das exportações. Sobre essas, há muito ainda a se fazer. Estima-se que, hoje, mais de 70% das exportações são feitas por apenas duas empresas, Nestlé e Itambé. À medida que novas fábricas fiquem prontas e que novos nichos de mercado sejam descobertos, o setor crie de fato condições para ser um exportador nato, ficando menos sensível inclusive às variações cambiais. É necessário também investir nos acordos bilaterais, como vem fazendo com sucesso o Chile, bem como na abertura de novos mercados, como foi feito com o México em 2005.

Nesse ano, ficou claro o efeito que os preços internacionais exercem sobre os preços internos. Quando os preços internos ficaram significativamente mais altos do que os preços vigentes no mercado externo, o que ocorreu em maio e junho, boa quantidade de leite entrou no país. Esse leite vindo de fora, aliado ao excedente interno, nivelou novamente os preços, mostrando que, em um mercado relativamente aberto como o nosso, especialmente quando temos vizinhos que produzem excedentes estruturais, como é o caso da Argentina, não dá para contar com preços muito mais elevados do que os preços externos. Portanto, estamos falando em preços médios entre US$ 0,20 e US$ 0,23 por kg de leite, em se tratando de matéria-prima para produção de commodities lácteas.

Sobre preços internacionais, o ano terminou com a definição do fim dos subsídios à exportação em um longínquo 2013, com expectativa de alguma redução significativa em 2010. É pouca coisa, mas é uma sinalização. Há controvérsias, no entanto, sobre os possíveis efeitos da queda dos subsídios no preço internacional dos lácteos. Enquanto alguns modelos estimam que haverá elevação dos preços externos, outros apontam que deverá haver uma reorganização da produção, com países em desenvolvimento e com produção de leite eficiente rapidamente ocupando o fatia da Europa, sem que haja aumento significativo dos preços externos. Entre esses países, estão Brasil, Argentina, Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Chile e países do leste Europeu, principalmente Polônia e Ucrânia. Nesse aspecto, talvez a frase do ano tenha sido a do presidente da Nestlé, Ivan Zurita, durante o debate na Expomilk: "O Brasil está condenado a ser o maior produtor de leite do mundo", ao enfatizar que a empresa vê no país potencial para ser um plataforma exportadora de lácteos.

Os temas do ano foram a qualidade, apesar do adiamento da Instrução Normativa 51, e o marketing institucional, que foi amplamente comentado na segunda metade do semestre e vem ganhando eco junto a várias instituições, a ponto de ter sido criado um grupo de trabalho na Câmara Setorial de Lácteos. Hoje, ao contrário do que se podia dizer há apenas um ano atrás, é bastante factível que venhamos a ter, nesse próximo ano, a definição de um programa de marketing de lácteos em larga escala, contemplando um modelo de arrecadação compatível com as particularidades brasileiras. Essa possibilidade concreta sinaliza o amadurecimento do setor. O marketing, no entanto, não é uma alternativa de curto prazo, visando resolver um problema conjuntural de excesso de leite, mas sim uma estratégia de médio e longo prazo, visando preservar e ampliar nosso mercado.

Sobre a qualidade, os maiores laticínios lançaram programas de pagamento com base em componentes, células somáticas e contagem bacteriana e outros certamente seguirão a trilha. A necessidade de aumentar o teor de sólidos não está somente nas exportações, mas também no perfil do consumo interno: à medida que a população envelhece, muda o padrão de consumo; diminui o consumo de leite fluido e aumenta o consumo de derivados, cuja fabricação depende dos sólidos.

A melhoria da qualidade coloca importância estratégica na rede de fornecedores, coisa que, no passado, inexistia. Cada vez mais vai fazer diferença a qualidade dos produtores de leite de determinado laticínio. Qualidade, nesse caso, significa não só a qualidade do leite produzido, mas a capacidade de produzir a custos competitivos e a segurança do leite produzido em relação a contaminantes e doenças. Cada vez mais, a questão ambiental terá peso, bem como aspectos trabalhistas e de bem-estar animal. Isso, por sua vez, estimula o investimento em relacionamentos de mais longo prazo e também no desenvolvimento dos fornecedores. Os clubes de compra lançados pela DPA e Danone, seguem essa linha de pensamento, além, evidentemente, de colocar um peso menor na variável preço do leite. O programa de fidelização da Itambé, com bonificação natalina para produtores fiéis, idem, assim como o da Avipal. Esse novo cenário, embora ainda mesclado com resquícios do passado, vai cada vez mais se estabelecer, principalmente pelo fato de estar sendo encabeçado pelos maiores laticínios, entre eles uma cooperativa.

O maior profissionalismo do setor também pode ser verificado a partir das várias fábricas que estão sendo construídas. Os projetos estão sendo concebidos com padrão internacional, pensando em qualidade para exportação e olhando para o futuro. A opinião é do presidente da APV, multinacional responsável pela maior parte dos projetos em construção no país.

Aliás, o ano marca também o que parece ser a recuperação da Parmalat e uma nova luz para a Nilza, que deixa de ser cooperativa. A empresa é importante para a revitalização da produção paulista e do sudoeste de Minas, e resta saber se, sob a nova direção, encontrará o caminho das pedras. No cooperativismo, poucas novidades relevantes. A presença crescente da Aurora, no sul do país, é uma delas. Segue sendo motivo de preocupação a proposta de valor, cada vez mais comum das cooperativas, de serem o que os norte-americanos chamam de "cooperativas de barganha", ou seja, que agregam valor tão somente pela negociação de volumes para outras empresas. Não reside, nessa modalidade de negócios, parte significativa do valor gerado, exceto se os volumes forem muito significativos, a ponto de resultar em controle da oferta. As cooperativas devem estudar ou novas formas de agregar valor à sua atuação, ou em reunir volume que as permita "controlar" o suprimento.

O cômputo final, analisando o setor como um todo, é positivo, ainda que pontualmente a situação seja difícil. Espero, como bem escreveu o poeta, que essa análise não seja fruto apenas da industrialização da esperança e do milagre da renovação típicos desta época do ano, mas sim da constatação que estamos evoluindo rapidamente, ainda que, muitas vezes, essa evolução não se faça por linhas tão retas como gostaríamos.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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RICARDO JOSÉ BASTOS

OUTRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/01/2006

Caro Marcelo,



Parabéns, pelo seu artigo. Porém gostaria de incluir como ponto positivo para as Cooperativas a reabertura da Cooperativa Central dos Produtores de Leite do Estado do Rio de Janeiro CCPL. Com uma administração judicial liderada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, na pessoa do Secretario de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior, Doutor Christino Aurio, em atendimento ao pleito das Cooperativas Singulares do Estado, juntamente com a Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro FAERJ, com início de produção prevista para 01 de fevereiro de 2006.



Ricardo José Bastos

Presidente Comissão Técnica da Pecuária de Leite da FAERJ.
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/01/2006

Caro Marcelo,



Como produtor de leite no Sul Fluminense, não vejo consistência na afirmação do Presidente da Nestlé de que o Brasil se tornará o maior produtor de leite do mundo, ao mesmo tempo em que esta empresa, através de sua filial DPAB, reduz o preço pago aos produtores em mais de R$0,20 no período entre Junho e Dezembro de 2005. Enquanto inviabiliza a atividade dos produtores, a Nestlé aumenta a sua própria lucratividade. Só no último dia 1/12/2005 a DPAB, diga-se de passagem, uma filial, na nossa opinião, criada para evitar que o desgaste no relacionamento com o produtor de leite prejudique a imagem institucional da empresa junto ao consumidor, reduziu o preço pago aos produtores em adicionais R$0,05. Dispensável dizer que o preço na região é totalmente balizado pela DPAB. Será que em Vevey eles teriam tanta liberdade para definir quanto querem pagar pela matéria prima? Sem perspectiva de futuro, crescer, de que forma?



Paulo Fernando Andrade Corrêa da Silva.

APLISI.

LOURIVALDO MARIANO DE ALMEIDA

ARAPUTANGA - MATO GROSSO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 28/12/2005

Muito interessante o conteúdo desta matéria. Gostaria inicialmente de parabenizá-lo pela seriedade e dedicação com que conduziu as informações contidas aqui neste site durante este ano. Posso afirmar que temos orgulho em poder ter um canal de informação desse nível. Voto para que vocês possam, cada vez mais, nos trazer informações sobre a situação do mercado e tendências, para que possamos estar atentos às perspectivas de mercado.
ALVARO CARDOSO FERNANDES DE PÁDUA

PRESIDENTE PRUDENTE - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 28/12/2005

Caro Marcelo,



Parabéns pelo artigo, retratou muito bem a conjuntura econômica agropecuária de 2005. Realmente temos que fortalecer o que temos de positivo e trabalhar ativamente na redução dos pontos negativos. É só com esta visão que podemos traçar um plano para o ano com novas estratégias de ação.



O Brasil pela sua extensão territorial, recursos naturais abundantes e pela riqueza de força de trabalho torna-se sem dúvida uma ameaça para os países concorrentes, com uma expectativa de produzir muito além do que já produzimos.



A velocidade em que estamos evoluindo, realmente é muito rápida para não dizer assustadora, quando comparada com décadas atrás. No entanto, apesar do caminho aparentemente sinuoso e cheio de buraco, mostra-nos que estamos na direção certa, com um futuro promissor. Sendo assim, com uma dose de cautela, trabalho e um bom gerenciamento, chegaremos lá.



Referindo-se ao mercado de 2005, notadamente a turma do leite sentiu o que é fazer parte de uma economia globalizada. No entanto, mesmo com este cenário desolador nunca visto, o setor agropecuário está com as velas içadas e a postos, só esperando ventos favoráveis.



A respeito do sistema de qualidade, requisito indispensável nos tempos atuais, penso que já foi lançada à semente, que apesar de ainda dormente, a germinação é certa e os frutos certamente vingarão. Só precisa de uma dose de "ferrão" e pessoas capacitadas, "não corruptas" no gerenciamento desta cadeia que requer muita sinceridade, sobretudo caráter e seriedade, a fim de demonstrar aos nossos clientes que somos dignos de créditos. Caso contrário, nós teremos que continuar a engolir que os nossos produtos são de baixa qualidade e por isso competitividade e preços menores.



Ainda na área da qualidade, vejo que este site pode contribuir e muito nesta área, visto ser uma cultura que só se consegue se gerenciada por pessoas competentes e sérias, como é o caso. Quando se fala em certificação parece uma coisa de outro mundo, mas não é se iniciada aos poucos, como ocorreu na história das "ISO", que por sinal, hoje é merecedora de todo crédito e adotada por milhares de empresas sérias.



Entendo que é hora de despertar mais profissionais para a área da qualidade, no sentido de melhor divulgar esta matéria tão importante e necessária nos dias atuais. Penso que é momento dos técnicos se voltarem para esta área, ensinando a forma de se iniciar um sistema da qualidade, descrendo os processos envolvidos, definindo as autoridades e responsabilidades dentro da fazenda, e até por que não escrever um "Manual de Qualidade" com o objetivo de por no papel o que está sendo feito. Acredito que é por aí que se inicia um programa de rastreabilidade diferente deste Sisbov, que mal faz a identificação do animal. E por último delegar o papel da certificação para gente da área, e não sair por aí credenciando qualquer um.



Por último gostaria de dar meus parabéns a toda equipe da Agripoint, MilkPoint e Beefpoint, por terem tido em algum momento a idéia sábia de montar estes sites que tanto vem contribuindo para a cadeia do agronegócio como um todo. Que para o próximo ano haja muito mais integração entre os produtores e técnicos, para que novas idéias possam surgir para melhoria de nossas vidas.



Observação: A propósito da pessoa que inventou o ano, ele não era agricultor, pois se fosse, ele vincularia dezembro ao final do ciclo agrícola, que para o agricultor é a época em que se apura a colheita e planeja a próxima safra, não é mesmo?



Atenciosamente,



Álvaro.





ARTUR TAVARES

OUTRO - SÃO PAULO - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 28/12/2005

Caro Marcelo,



Parabéns pelo teu artigo. Aproveito a oportunidade para desejar para ti, tua equipe e tua empresa, um 2006 muito profícuo, repleto de realizações, pleno de alegria e felicidade.



Grande abraço,



Artur Tavares

Bio's Animal

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