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O bom momento das raças tropicais

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 05/05/2003

4 MIN DE LEITURA

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"Sábado, 26 de abril. Passos, Minas Gerais, tradicional região produtora de leite do país. A Fazenda Santa Luzia, do também tradicional produtor de leite José Coelho Vitor e seus filhos, realiza seu segundo leilão anual. Sucesso de público, mais de mil pessoas. Diversos patrocinadores. Sucesso de vendas, média acima dos R$ 2.600,00 para 380 lotes, com faturamento superior a R$ 1.000.000."




Foto do Leilão da Fazenda Santa Luzia

Esse cenário contrasta radicalmente com os leilões de gado leiteiro que estamos nos acostumando a ver nessa época do ano, a grande maioria consistindo de liquidações de rebanhos. A associação óbvia que se faz é que, com algumas exceções, a maior parte das liquidações contempla rebanhos da raça holandesa, ao passo que o criador acima trabalha com a raça girolando.

Parecem, de fato, dois mundos distintos. No leilão da Fazenda Santa Luzia não se notou cheiro de crise. Ele retratou, mal comparando, a expectativa do futuro, a busca por um sistema de produção mais adaptado às condições do país, caracterizadas por crédito escasso para investimentos e clima tropical, que estimula a busca por animais mais adaptados. Animais girolando vêm obtendo preços superiores aos animais com maior grau de sangue holandês, em uma prova definitiva que o mercado não busca mais apenas produção de leite.

Já as liquidações, parecem representar as desilusões passadas. A tônica sugere produtores que investiram em manejo, nutrição, instalações e genética especializada para altas produções desistem da atividade, vitimados pelos altos custos de produção.

É perigoso discorrer sobre esse tema sem parecer parcial ou tendencioso, mas avalio que o risco vale a pena: afinal, chama a atenção o fato de, em meio à liquidação de tantas criações tradicionais, em regiões tradicionais, um criador tradicional, em uma região tradicional, vende 1 milhão de reais em seu leilão anual.

A busca por raças mais adaptadas e a busca por sistemas de produção mais adaptados às condições locais vem de longa data e podem fazer sentido técnico e econômico. Se a melhor exploração de nossa "tropicalidade", favorecendo o amplo crescimento de forragens, resulta em melhor resultado econômico, porque não fazê-la? Se a conjunção desse sistema com determinado tipo de animal resulta em vantagens ainda mais evidentes em termos econômicos, porque não utilizá-lo?

É justamente essa expectativa um dos principais fatores que está por trás de resultados como o obtido no leilão da Santa Luzia. A outra, que se faça justiça, é a "grife" criada com extrema competência pelos seus proprietários em 40 anos de trabalho, justificando o fato da Santa Luzia ser uma das principais formadoras de opinião do setor leiteiro no Sudeste.

A utilização de sistemas com maior utilização de pastagens no Centro-Sul e a busca de raças como a Girolando ou o Gir Leiteiro, mais rústicas e tidas como mais adaptadas a sistemas de pastejo em regiões tropicais, tem cada vez mais apelo, ainda mais após dois anos seguidos de crise, que força a busca por novos caminhos e soluções para o setor.

É preciso, no entanto, fazer algumas considerações. Uma delas é que, embora a expectativa muito positiva em torno das raças adaptadas e sistemas de produção a pasto seja evidente pelo que acontece hoje no mercado, essa expectativa não pode ser transformada em verdade absoluta para todos os produtores, em todas as regiões. Nesse último aspecto, é preciso considerar características regionais. Pode fazer sentido utilizar a raça Sindi no semi-árido da Paraíba, como sugere uma equipe da Embrapa Gado de Leite (Revista Balde Branco, abril de 2003), assim como utilizar a raça holandesa ou seus cruzamentos com Jersey e Pardo-suíço na região paranaense de Castro, por exemplo. Já a inversão dos papéis possivelmente resultaria em sistemas inviáveis como modelo de produção para ambas as regiões. Posto isso, fica claro que generalizações, em um país como o nosso, tendem ao fracasso por não considerar diferenças climáticas, econômicas e sociais.

Não temos, tampouco, estudos conclusivos a respeito de custos de produção ou rentabilidade entre sistemas de produção diferentes e suas interações com as raças exploradas, bem como suas respostas a diferentes condições de mercado, como o preço do leite. Há, por outro lado, casos de sucesso em quem trabalha no outro extremo, com gado europeu, visando alta produção individual. No Levantamento Top 100 - 2002, onde relacionamos os 100 maiores produtores de leite do país, cerca de 57% utiliza a raça holandesa, sendo que 44% do total utiliza confinamento durante o ano inteiro. Dos 100 maiores, igualmente 57% mencionaram a tendência de aumentar a produção em 2003, indício de que ou a atividade é lucrativa para eles, ao menos as expectativas são favoráveis, visto que não faz sentido econômico desenvolver uma atividade sem horizontes.

Essa inexistência de dados econômicos que permitam entender melhor como se comportam os sistemas e as raças gera incerteza e abre espaço para que cada um defenda suas convicções, com base em preferências pessoais, experiências próprias ou mesmo interesses comerciais.

De qualquer forma, é digno de registro o estabelecimento de uma tendência clara no mercado de genética bovina, caracterizada pela valorização de animais mais rústicos, acoplados a maior exploração de pastagens durante o verão.

Tudo indica que tal tendência vai continuar, seja pelo acerto técnico e econômico por esta opção, cujo tempo se encarregará de comprovar ou não, seja pela eficiente e dinâmica atuação das associações destas raças, como a da raça Girolando, potencializada pela entrada, nesse mercado, de produtores conhecidos e/ou bem estruturados, como a Fazenda Santa Luzia e a CFM Agropecuária, entre várias outras, que estão sabendo captar com grande eficiência o atual momento por que passa o mercado de genética bovina no país, inclusive incorporando com sucesso a valorização crescente da produção a pasto em suas estratégias de negócios.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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CECÍLIA JOSÉ VERÍSSIMO

NOVA ODESSA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 13/05/2003

Como especialista no controle do carrapato bovino, fico feliz com todas essas notícias a respeito de raças zebuínas e do crescimento do Girolando, já que tanto as raças zebuínas como as mestiças (principalmente o F1) são muito resistentes ao carrapato e, muitas vezes, nem precisam de controle químico, cada vez mais difícil, em função da resistência que os carrapatos vêm apresentando a esses produtos.
MIGUEL BARBAR

FRUTAL - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 12/05/2003

Eu queria apenas utilizar a linha de raciocínio do Marcelo para adicionar mais um ponto ao uso de raças adaptadas regionalmente. O que tenho visto e que a grande maioria dos produtores na verdade são de porte pequeno e médio que não dispõe de tecnologia para confinar estes animais por longos períodos (quando muito durante a seca);para estes produtores adquire uma importância enorme a comercialização dos bezerros machos para complemento de sua renda e, como vocês podem confirmar com seus colegas do BeefPoint, existe uma tendência a desvalorizar o macho leiteiro pela sua pouca aptidão para uso na pecuária de corte. Chegando aonde eu queria, nota-se a grande importância, em termos de pecuária Brasil, de que estes cruzamentos com raças zebuínas auxiliem também aos produtores ao melhor aproveitamento de seu rebanho.
JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 05/05/2003

Todas as raças leiteiras são viáveis, desde que adaptadas a cada região e especialmente, manejo bem orientado, clima, boa alimentação e, especialmente, assistência diária do dono. Acredito (sem desacreditar nas demais) na raça leiteira Girolando. Para confirmar, sou criador dessa raça e com média no rebanho de pouco mais de 6.000 quilos de leite em 365 dias de lactação com fêmeas com dez, doze, treze e quinze mil quilos de leite. Onde se destaca a fêmea PRINCESA DE SENA - 3/4 com 7 anos atingiu a expressiva produção de 15.708,860 quilos de leite em 365 dias, com ração após ordenha e volumoso a campo. Nossa criação não é tão significativa quanto ao número de matrizes, mas procuramos qualidade a fim de permanecer na atividade.

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