Marcelo Pereira de Carvalho
Foi publicado nesta semana no Suplemento Agrofolha (Folha de São Paulo), que o leilão de liquidação da fazenda paulista Apuana Agropecuária (em Tuiuti) teve como grande "novidade" a presença de compradores do Nordeste, superando os goianos, que vinham sendo a sensação nos últimos anos em eventos desta natureza. Esta informação, que não é a primeira nesta linha, sugere que esteja havendo estímulo à produção de leite na região.
O crescimento (ou pelo menos expectativa de crescimento) da pecuária leiteira do Nordeste se traduz em outros fatos divulgados na mídia, entre eles o Programa de Modernização e Aumento da Produção Leiteira do Ceará, capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural local, cuja proposta envolve a aquisição de 40.000 matrizes e 700 reprodutores e investimento total de R$ 141 milhões e o mega-projeto de investidores americanos na região de Barreiras (BA), visando atingir nada menos do que 100.000 vacas em lactação em sua fase plena.
Em função da extensão e da diversidade da região, é impossível caracterizá-la sob uma perspectiva única. Porém, há que se considerar que, em algumas localidades, a disponibilidade de água para irrigação ou a boa precipitação em algumas regiões, a topografia favorável e a baixa latitude favorecem o crescimento e o manejo de espécies forrageiras destinadas ao pastejo, ao passo que, em outras, a baixa umidade relativa do ar, a reduzida precipitação e, em casos específicos, altitude superior a 700m, propiciam uma condição climática favorável à exploração de animais especializados, manejados sob a ótica da alta produção individual (apesar do calor). Desta forma, o NE apresenta regiões nas quais há condições para o alto desenvolvimento vegetal e regiões nas quais há condições para a alta produção animal.
No entanto, a infra-estrutura para produção de leite é em geral escassa: há carência de suprimentos, assistência técnica, mão-de-obra especializada e mesmo pesquisa aplicada às condições locais, implicando em custos elevados e/ou baixos índices de desempenho e qualidade do produto.
Por outro lado, a falta de tradição da região pode se tornar um trunfo no que se refere à adaptação da atividade aos novos tempos de mercado, caracterizados pela não-interferência do governo, concentração de poder na captação e no varejo e segmentação de mercado. Aliás, vários projetos estão surgindo (ou já existem) com o objetivo de atuar em nichos de mercado junto ao consumidor das cidades da região.
Em resumo, pode-se dizer que há espaço para o crescimento da pecuária leiteira no Nordeste, dadas as condições encontradas em várias sub-regiões, o caráter estratégico do leite ao ser gerador de empregos e o empenho governamental em estimular a atividade.
Porém, não se pode deixar enganar pelas aparências, refletidas apenas em linhas de financiamento atrativas para compra de animais/maquinário ou projetos isolados de grandes produtores com capital e projetos verticalizados, que podem ocorrer em qualquer região. Mais do que tudo, apesar do potencial, há muito a ser feito para solidificar a pecuária leiteira no Nordeste.
Gostaríamos de receber comentários de pessoas da região sobre a real situação nas diversas bacias leiteiras no Nordeste.