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Crescendo mais de um Uruguai por ano!

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 04/10/2005

6 MIN DE LEITURA

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O IBGE divulgou, no final da semana passada, os números relativos à captação e industrialização de leite pelos laticínios. O resultado, que já se esperava alto, surpreendeu: aumento de 17,2% no leite adquirido, em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Esse resultado, somado aos 9,5% de aumento do primeiro trimestre, resultam em aumento acumulado de 13,2% sobre 2004. É muito leite.

O gráfico 1 dá um indicativo da magnitude do aumento verificado nesse primeiro trimestre. Além da produção em 2005 estar em um patamar muito superior aos dos anos anteriores, o salto ocorrido nesse começo de entressafra é comparável apenas ao verificado de 2000 para 2001, justamente o ano em que também houve queda de preços na entressafra. Naquela ocasião, a alta produtiva deparou-se com apagão, com a crise argentina e com o 11 de setembro, resultando em retração da economia e do consumo. As semelhanças vão além: dos últimos 9 anos, apenas em 2001 e 2005 a produção foi crescente de abril a junho. Em todos os demais, houve pelo menos uma queda entre abril e maio ou maio e junho.

Clique aqui para ver o gráfico 1.

Outro dado interessante é que a diferença de produção entre o primeiro e o segundo trimestre foi de apenas 2,82%. Em 2000, apenas cinco anos atrás, a diferença foi de 13,4%. O gráfico 2 mostra essa diferença nos últimos anos. Esses dados, considerando que a produção no primeiro trimestre já foi elevada, indicam duas coisas: primeiro, que o ambiente de mercado para a produção de leite nesse ano estava favorável, em grande parte carregando um componente inercial, originado no bom momento da economia e do setor no ano passado. Em segundo lugar, sugere maior profissionalização do setor, fruto das diferenças entre safra e entressafra. Por esses dados, não faz sentido pensar em um novo aumento significativo da produção de leite a partir de outubro. Afinal, as diferenças de produção de leite, ao menos no segmento formal, entre safra e entressafra, estão cada vez menores. Ademais, não há motivo para tamanho fôlego, uma vez que a situação de mercado já não é mais a mesma.

Gráfico 2: Produção de abril a junho sobre janeiro e março.
 


Falando em mercado formal e informal, o produtor Roberto Jank Jr. levantou uma questão interessante. Segundo ele, esse aumento de produção no setor formal não teria porque ter uma contrapartida proporcional no setor informal, de forma que o "market share" da formalidade sobre a informalidade cresceria substancialmente. Embora só devamos ter esses dados oficialmente no final de 2006 (é duro, mas é a realidade), a análise do Roberto me fez pensar. Porque isso ocorreria? Uma possibilidade seria a melhor capacidade de resposta do setor formal, com produtores mais tecnificados, sobre o produtor informal, em geral com poucos recursos técnicos e econômicos para acelerar a produção em um momento mais favorável de mercado. As melhores condições de preço no primeiro semestre são certamente um outro fator que contribui para essa possibilidade, uma vez que preços mais altos estão atrelados a maior procura pela matéria-prima, atraindo produtores para a formalidade.

Ambas os motivos acima colocados, porém, são conjunturais, ou seja, podem ser revertidos quando as condições de mercado mudarem. Já sobre as razões estruturais, aquelas que determinam uma tendência, a análise é mais difícil. Uma possibilidade seria a mudança de hábitos de consumo da população, se conscientizando a respeito dos potenciais problemas associados ao consumo de leite informal. Não vejo essa maior conscientização junto ao público que consome esse tipo de produto. Outra possível mudança estrutural seriam ganhos em eficiência logística e de distribuição que permitiriam às indústrias atingir mais pontos de venda, com preços competitivos, mas, novamente, não tenho informações que possam comprovar essa hipótese.

A falta de dados, por sinal, é um problema recorrente no setor agropecuário. E pelo visto, não teremos uma solução tão cedo para essa sina, uma vez que o governo não aprovou a verba necessária para se fazer o Censo Agropecuário, cuja última versão data de 1995/96, quando a produção de leite brasileira era de 18,5 bilhões de litros. Agora, o IBGE busca rever seu orçamento para viabilizar ainda que parcialmente o levantamento. Assim fica difícil.

Já que voltamos aos números, não custa projetar o que ocorrerá até o final do ano. Nos últimos três anos, a produção inspecionada do segundo semestre tem sido 6,4% maior do que a do primeiro semestre, no entanto com grande variação, de 3,5% a 9,7%. Analisando desde 1997, a média de aumento do segundo semestre em relação ao primeiro é de 7,8%. Considerando que os 6,4% são plausíveis (dos últimos 9 anos, dezembro foi o mês de maior produção em oito), terminaríamos 2005 com nada menos do que 16,1 bilhões de litros de leite inspecionados, simplesmente 1,6 bilhão de litros de leite a mais do que 2004, ou mais de um Uruguai por ano! São mais de 4 milhões de litros de leite a mais por dia, que precisam ser processados e....vendidos. Por mais que esteja havendo migração do setor informal para o formal, o volume de leite a mais produzido no país é considerável.

Analisando dessa forma, fica explicado o momento de mercado que vivemos. Foi um aumento considerável de leite, em um semestre em que o déficit da balança comercial foi mais negativo do que no ano passado. Deu no que deu.

A queda de preços de 2001 resultou em algumas heranças positivas, a mais significativa delas a busca pelos mercados externos, hoje uma realidade do setor. Também, após os intensos conflitos materializados nas CPIs estaduais e federal, o setor buscou maior entendimento através da instalação da Câmara Setorial e de ações estaduais como o Conseleite, laticínios privados passaram a desenvolver melhor o relacionamento com seus fornecedores, cooperativas procuraram se fortalecer e o setor como um todo investiu na melhoria da qualidade do leite, entre outras medidas que sinalizam avanços, ainda que tortuosos.

Estamos frente a um novo momento de desajuste entre oferta e demanda. Assim como em 2001, o setor vem discutindo possíveis ações, a maior parte delas de curto prazo, como a liberação de EGFs. Porém, há questões mais abrangentes que precisam ser discutidas, não só nesses momentos, mas que devem sempre fazer parte dos projetos de longo prazo do setor. O marketing institucional de lácteos é um deles, e vem ganhando força como uma alternativa importante e necessária. Na semana que vem, a Láctea Brasil apresentará, junto à Câmara Setorial de Lácteos, uma proposta para discussão, visando consolidar o marketing institucional no Brasil, para que o país tenha condições de lidar com seu "destino", como bem disse Ivan Zurita, presidente da Nestlé, de ser o maior produtor de leite do mundo, sem os sobressaltos que temos tido sempre que há, ainda que eventualmente, uma maior aceleração rumo ao potencial que sempre se comenta.

PS: Recomendo a leitura de dois textos bastante interessantes. O primeiro, o artigo do articulista Cláudio Nápolis Costa, da Embrapa Gado de Leite, sobre o controle oficial de rebanhos da raça holandesa no Brasil (Clique aqui para ler).

O segundo, o artigo do Prof. Marcos Jank a respeito da abertura comercial do Brasil (Clique aqui para ler).

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/10/2005

Marcelo,



Enquanto a atividade de produzir leite no Brasil vem sendo desestruturada, com preços muito aquém dos custos de produção, me assusta ler um artigo tão "light" como o que acabei de ler, escrito por profissional tão importante para a o setor quanto você. A mim parece que os atuais preço pago aos produtores, ridículos, estão muito mais relacionados ao câmbio, do que propriamente a oferta e procura no mercado interno.



Hoje não posso plantar um pé de milho para ensilar. As vaquinhas no ano que vem vão comer cana com uréia, e olhe lá. Vamos ver as consequências no ano que vem.



Paulo Fernando.



<b>Resposta do autor:</b>



Caro Paulo,



Obrigado pelos comentários. O câmbio certamente é um fator complicador, mas não é o único. Em setembro, por exemplo, tivemos superávit na balança comercial de lácteos, apesar do câmbio. Evidentemente essa situação só foi possível em função da brusca queda de preços de leite ao produtor, que compensou a taxa de câmbio.



Não podemos esquecer que a produção acumulada (inspecionada) em 2005 está 13% maior do que a de 2004. Normalmente, crescemos 3 a 4% ao ano. Esses números dão uma idéia da dimensão do aumento verificado no ano e do impacto na oferta interna. Com um câmbio mais atraente, poderíamos exportar mais e o problema seria menor, mas não há como negar que a produção aumentou muito nesse ano.



Em um mercado onde não existem restrições de produção, como cotas, a oferta e procura vão fazer a sua parte. A sua sinalização de usar cana com uréia em vez de silagem vai nesse sentido. Com o tempo, a produção irá se ajustar (aumentos menores) e o preço volta a subir. Claro que se tivermos como exportar maiores quantidades, esse limite será bem mais longo, ou seja, temos como aumentar a produção em maior escala até que a oferta fique maior do que a demanda. Temos de lembrar, por outro lado, que apesar do câmbio estar ruim, os preços dos lácteos no mercado internacional estão bons, o que diminui o efeito negativo. O câmbio mais favorável, portanto, não vai resolver tudo em relação às exportações. Há que se considerar os preços no mercado internacional e os acordos comerciais que o Brasil (não) tem feito.



Um abraço,



Marcelo

PAULO CESAR

OUTRO - MINAS GERAIS

EM 07/10/2005

Acredito que no processo de valorização da qualidade com certeza estaremos reduzindo o leite informal e crescendo a formalidade. Neste período como ficou a informalidade?



<b>Caro Paulo Cesar</b>,



Até onde vão as informações oficiais, a informalidade está em 39% desde 2002. Mas não temos os dados de 2004 ainda, só teremos ao final de 2005.



Um abraço,



Marcelo

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