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Bons ventos vindos do Sul

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 09/09/2005

4 MIN DE LEITURA

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Nessa semana, estive em Concórdia, no oeste catarinense, participando de um evento promovido pela Copérdia, cooperativa local que tem entre suas atividades suinocultura, bovinocultura de leite e insumos, entre outras. A Copérdia capta cerca de 52 milhões de litros de leite por ano, que são enviados à Aurora, em Chapecó, para serem processados ou comercializados para terceiros. A cooperativa é uma das 16 associadas da Aurora, um grupo que fatura cerca de R$ 1,5 bilhão por ano e tem na suinocultura e avicultura suas principais atividades.

No ano passado, a Aurora decidiu entrar na atividade leiteira, como alternativa para seus cooperados, principalmente após a crise da suinocultura. O leite casa muito bem com o tipo de exploração rural existente na região: pequena propriedade (áreas de 6 a 7 hectares), mão-de-obra familiar, forte senso cooperativista e colonização européia. Com a crise da suinocultura, a atividade leiteira passou a ser alternativa natural para os produtores locais, que têm no leite a fonte de renda mensal para seu sustento.

Santa Catarina tem tido um desempenho de destaque em crescimento da produção de leite. De 1990 a 2003, o leite lá cresceu 104,8%, ou seja, a produção mais do que dobrou, atingindo 1,33 bilhão de litros por ano, sendo o sexto maior Estado produtor. Há quem diga que a produção já está na casa dos 1,5 bilhão e que, nesse ritmo, passará São Paulo em breve. Não duvido. Nesse mesmo período, a produção brasileira cresceu 53,6%, praticamente a metade do crescimento verificado em Santa Catarina.

A situação hoje é de preocupação em função do mercado. Nos últimos dois meses, o preço caiu cerca de R$ 0,15 por litro, estando hoje na faixa dos R$ 0,40 por litro, em valores líquidos. Mesmo assim, cerca de 350 produtores compareceram ao evento, que discutiu tendências de mercado e adequação à Instrução Normativa 51. Técnicos locais acreditam que a região é competitiva, tendo custos de produção mais baixos do que em outras regiões, mas novamente aqui esbarra-se na ausência de dados comparativos de custos.

O módulo de produção é ainda um gargalo. Os 2300 cooperados da Copérdia produzem em média 70 litros diários, mas nota-se um esforço e uma preocupação no sentido de aumentar essa escala de produção. Nota-se, também, forte movimentação no sentido de adequar os produtores à IN 51. A Copérdia está analisando o leite dos cooperados e 47% do volume é resfriado em tanques individuais de expansão.

O mais relevante de tudo isso, porém, é a expectativa em torno do desempenho da Aurora no setor de lácteos. A cooperativa tem uma marca forte em alimentos, que pode e está sendo ampliada para o setor de lácteos. Tem receita considerável com exportações e, com isso, canais abertos no exterior, que poderão ser utilizados para lácteos, tanto com leite em pó, como condensado e até queijos. A empresa hoje processa 12 milhões de litros mensais, uma quantidade que ainda não há coloca entre os maiores laticínios do país, mas que está acima de sua previsão inicial.

Não se trata, portanto, de uma iniciativa "aventureira", como outras que já se viu no setor em tempos recentes, mas sim de uma empresa de porte e estruturada no segmento de alimentos, buscando conhecer melhor esse novo mercado.

A entrada da Aurora deve gerar expectativas favoráveis ao setor, especialmente o produtivo e o cooperativista. Primeiro, por se tratar de uma nova grande empresa investindo, o que em si é salutar. Segundo, por essa empresa ser uma cooperativa. Terceiro, por ser de um segmento distinto - suínos e aves - que têm outros grandes competidores, como Sadia, Perdigão e Seara (hoje da Cargill). Será loucura aventar a possibilidade de, em havendo sucesso na investida da Aurora, o setor lácteo ganhar novos investidores advindos do segmento de carnes? Essas empresas são competitivas, são sólidas, têm marcas fortes em alimentos, rede de distribuição bastante ampla (incluindo o pequeno varejo e padarias) e presença nacional e internacional. Lógico que dessas características até de fato entrarem no mercado, há uma grande distância, mas não custa exercitar o pensamento...

Outra informação interessante é que as cooperativas associadas à Aurora são as mesmas que constituem a Agromilk que, por sua vez, é acionista minoritária da Batávia, cuja parte acionária majoritária (51%) da Parmalat estará à venda, segundo informações divulgadas na semana passada a respeito do plano de reestruturação da empresa. Considerando essas mudanças todas que estão ocorrendo no setor cooperativista no Sul do país, e a própria tradição cooperativista da região, essas ligações são relevantes e podem sinalizar um caminho futuro de maior integração entre esses grupos.

O sul também tem sido notícia por outros motivos. Mais especificamente, o Rio Grande do Sul, que está sendo palco do anúncio da construção de duas fábricas, uma da Nestlé (quanto barulho!) e outra da CCGL, que reúne as cooperativas que hoje fornecem leite e Avipal que, nesse mesmo período, republicou espontaneamente seu balanço de 2004, como parte do seu programa de reestruturação. Tudo indica que o mapa do leite no Brasil, no que se refere às principais empresas, está sendo redesenhado nesse momento. Resta saber quais contornos terão e, nessa questão, os próximos meses poderão trazer novidades.
 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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ANDREW JONES

FERNANDÓPOLIS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/11/2005

Bom dia Marcelo,



Excelente matéria, somente viajando pelo Brasil que detectamos o potencial do crescimento do setor leiteiro, respeitando suas particularidades regionais.

Como você disse, colocando a cabeça em exercício, acredito que o estado de São Paulo, maior centro consumidor de lácteos do país, pode virar o jogo no setor leiteiro.



A enxurrada de cana que toma conta do estado deixa marginalizada certas áreas não muito próprias para o cultivo da cana devido a topografia e excesso de arvores, por exemplo, quem sabe o ramo dos Usineiros poderão estar entrando tambem no setor leiteiro nestes locais, sem mencionar a grande sinergia que cana de açúcar e produção de leite tem. Nas áreas de reforma podemos plantar alimentos para seca, seja para silagem ou fabricação de concentrados, enfim vamos botar a cabeça para pensar.

Sempre houve risco de monoculturas regionais, temos que explorar melhor as terras paulistas marginalizadas.



Abraço,



Andrew

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