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Alterações estruturais do cooperativismo lácteo

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 21/06/2002

6 MIN DE LEITURA

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Um dos principais dilemas do cooperativismo é a adaptação do seu modelo de negócio ao ambiente cada vez mais competitivo e globalizado, onde a eficiência em todos os processos e a gestão profissional passam a ser nececessidades básicas para a sustentabilidade dos negócios. Pode a cooperativa competir com sucesso, tendo que considerar, de um lado, as exigências de seus associados por uma melhor remuneração e serviços e, de outro, a feroz competição no mercado, caracterizado por uma intensa consolidação no varejo ? Como ter eficiência compatível ao se observar o ritmo de fusões e aquisições no mercado, gerando um número cada vez menor de empresas com porte cada vez maior, muitas vezes amparadas por uma estrutura global ? Como resolver os problemas de gestão, onde a profissionalização não raro esbarra em questões internas, geradas por disputas de ordem política ?

Estas dúvidas têm acometido o setor há um bom tempo, principalmente após a desregulamentação, em 1991, que ocorreu paralelamente à abertura do mercado interno aos produtos importados e à concentração no varejo, aspectos que contribuiram para o aumento da livre competição no mercado. Embora faltem estudos consistentes sobre o tema, as notícias e os fatos analisados neste período sugerem que as cooperativas de leite têm perdido espaço na captação para outras empresas, notadamente multinacionais. Das diversas centrais existentes há 10 ou 15 anos, apenas duas delas, Itambé e CCL, mantém posições de destaque no mercado, embora esta última tenha se desfeito de ativos e perdido participação nos últimos anos, colocando dúvidas sobre o que virá pela frente.

Aumento da competição e necessidade de busca por eficiência não são características exclusivas do mercado brasileiro, ainda que este tenha apresentado a peculiaridade da abrupta abertura de mercado. Também, não são características únicas de países em desenvolvimento, com economias mais vulneráveis ou que não têm uma política agrícola definida e favorável ao setor. Em países como EUA, Canadá, Comunidade Européia, Austrália e Nova Zelândia, onde o ambiente econômico é mais favorável, nota-se um mercado altamente competitivo e dentro do qual as empresas reagem a uma velocidade considerável. Inclusive as cooperativas.

Um relatório emitido recentemente pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, outubro de 2001), fornece sinais de que as cooperativas neste país vivem um momento de turbulência, caracterizado pela intensa onda de aquisições, fusões e dissoluções. Considerando o período de 1992 a 2000, nada menos do que 80 das 213 cooperativas que tinham no leite sua principal fonte de receita, deixaram de existir. Destas, 36 foram dissolvidas, 36 se fundiram e 8 foram adquiridas por outras empresas. No mesmo período, nada menos do que 32 cooperativas de leite foram criadas, sendo 26 novos grupos e 6 provenientes de fusões, estas todas com produção acima de 450 milhões de litros/ano. Neste período, foi criada a DFA - Dairy Farmers of America, que processa 20 bilhões de litros anualmente (quase a produção brasileira) e reúne 19.500 produtores em 45 Estados. A complexidade das atividades vai além do aumento da escala. São cada vez mais comuns iniciativas como a joint venture entre a DFA e outra grande cooperativa, a Land O' Lakes, para operação de uma fábrica de queijos em conjunto.

Este estudo aponta ainda que as cooperativas americanas têm buscado escala. A figura 1 mostra que apesar da redução do número de cooperativas, a captação de leite via cooperativas aumentou. Metade das cooperativas que processavam mais de 450 milhões de litros/ano, em 1992, não exisitia mais em 2000.



O relatório aponta também que houve, no período, uma dicotomia a respeito dos caminhos para atuação das cooperativas no mercado. Enquanto a maior parte delas se especializou na comercialização conjunta de leite (73,7% do total), sem processamento próprio, representando o primeiro nível de integração entre produtores, uma minoria, porém de grande porte (que processa 75,9% do leite), se tornou parte de um complexo diversificado, que envolve ampla integral vertical e horizontal, com um mix diversificado de produtos e formas de atuação, além de presença nacional, visando otimizar a utilização das linhas de processamento, ganhar flexibilidade e melhorar a logística de transporte. A DFA é o maior exemplo.

Há outras evidências da força e do dinamismo do cooperativismo lácteo no mundo. Um relatório recente do Rabobank, banco holandês com forte atuação no agronegócio, (site MilkPoint, 10/05/2002) mostrou que as cooperativas têm um papel crucial na indústria mundial de lácteos. Mais do que isso, mostrou que as cooperativas estão antenadas com as rápidas mudanças verificadas no mercado mundial e estão efetivamente se preparando para o aumento da competição, otimizando operações e ganhando escala. Entre as 20 maiores companhias de lácteos do mundo, são 8 cooperativas; a Fonterra, de origem neozelandesa, controla entre 30 a 35% do comércio mundial de lácteos e tornou-se o principal sócio da Nestlé, pela constituição da empresa Dairy Partners America, uma joint venture que tem o objetivo de atuar nos mercados da América do Norte, Central e do Sul; empresas como Arla Foods, Campina e Friesland Coberco Dairy Foods estão ganhando escala mundial ao adquirir outras empresas, muitas vezes não cooperativadas. Em uma mostra do dinamismo em que vive o setor, um terço das 592 fusões, aquisições e alianças que ocorreram desde janeiro de 1998, foi iniciado por cooperativas.

É inegável, portanto, a força que o cooperativismo exerce no mercado mundial de leite, assim como são inegáveis as modificações estruturais por que passa em diversos países. No Brasil, apesar do difícil cenário que se descortinou principalmente a partir de 1991, com a saída do governo da atividade, o recrudescimento da importações, a onda de aquisições envolvendo pesos-pesados da indústria láctea e um varejo cada vez mais onipotente, pode-se dizer que o cooperativismo ainda não reagiu da maneira como deveria, quando comparado com o que vem ocorrendo em outros países.

Muitas cooperativas fecharam as portas ou passaram a desempenhar um papel secundário no mercado, em comparação há 10 ou 15 anos atrás, quando eram referência de preços. É comum ainda constatar a presença de cooperativas de leite muito próximas umas das outras, com baixo volume individual, canibalizando o mercado e com estruturas ociosas; são poucas as que, de fato, implantaram gestões realmente profissionais; as conversas a respeito de fusões e parcerias via de regra esbarram em questões menores, como quem assumirá o controle e quem será o presidente. É evidente que o nível de sofisticação empresarial destes casos deixa muito a desejar, ao compararmos com o que descrevemos em outros países.

Mesmo assim, há luzes no fim do túnel. A formação da CENTROLEITE, em Goiás, é um exemplo que deve ser lembrado, ainda que tenha passado por momentos pouco confortáveis no último ano e que encontre dúvidas a respeito do seu modelo de negócio, pela ausência de fábrica de procesamento. A CONFEPAR, no Paraná, é outro exemplo que vem se mostrando extremamente salutar, uma vez que permitiu a diversas cooperativas antes limitadas em porte e em grande parte competidoras entre si, atuar em cooperação, além de otimizar processos e estruturas. A Central Leite Nilza, reunindo COONAI, COOPERCARMO E CASMIL, representa também uma esperança de renovação no setor, bem como as especulações a respeito da entrada da Cooperativa Aurora no mercado de leite, no sul do país.

Se bem gerenciado e moldado a partir das exigências do mercado, o cooperativismo tem condições de voltar a crescer no país. Caso contrário, terá papel cada vez mais secundário ou, para surpresa de muitos que hoje trabalham no setor, renascerá através da atuação de cooperativas estrangeiras no país, sequiosas por aumentar a renda de seus controladores, os produtores de leite neozelandeses, australianos, norte-americanos e europeus.

Fontes:

Structural Changes in the Dairy Cooperative Sector, 1992-2000
Carolyn Liebrand, Agricultural Economist
Rural Business Cooperative Service
RBS Research Report 187
October 2001
USDA

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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