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Agricultura salva de novo a balança comercial em 1999

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 27/04/2000

5 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Fechados os dados finais relativos à balança comercial brasileira do ano de 1999, conclui-se mais uma vez que o setor agropecuário salvou do desastre as transações comerciais internacionais do nosso país.

Apesar da forte desvalorização cambial ocorrida em Janeiro de 99, que deveria ter um impacto muito positivo sobre o saldo da balança comercial, o Brasil fechou o ano com um déficit comercial de US$ 1,2 bilhão, frustrando a expectativa de vários analistas econômicos e de alguns técnicos do governo, que previam um superávit comercial, tão importante na atual conjuntura econômica do país. No entanto, apesar do déficit, o saldo foi muito melhor do que no ano anterior, que fechou com déficit de US$ 6,6 bilhões.

Mas o que chama a atenção é que mais uma vez foi o setor agropecuário a tábua de salvação das nossas transações comerciais. Para se ter uma idéia, o saldo comercial da agropecuária foi positivo em US$ 12,3 bilhões, aumentando em relação ao ano anterior em US$ 1,33 bilhão (o saldo comercial foi de US$ 10,9 bilhões em 98). No ano passado as exportações agropecuárias representaram 35,9% do total das exportações do país. Já as importações dos produtos agropecuários responderam por somente 10,1% da totalidade das importações brasileiras.

No entanto, quando analisamos separadamente os dados relativos aos produtos lácteos, o cenário não é muito alentador. No ano passado gastamos um total de US$ 449 milhões com importação de produtos lácteos. Apesar desse valor representar uma diminuição de 13,8% em relação ao ano de 98, quando gastamos mais de US$ 520 milhões só com a compra de lácteos, ainda assim é inadmissível que um país com as nossas condições se dê ao luxo de gastar tais quantias de preciosos dólares com a compra de leite. Para se ter uma idéia da importância desse valor, basta verificar que apenas os produtos lácteos representam 9% de todo o valor das importações agropecuárias do país. E se por um lado o valor gasto com a compra de lácteos diminuiu em relação ao ano passado, o mesmo aumentou em relação ao peso relativo na nossa balança comercial, pois em 98, a importação de lácteos representou apenas 7,6% do total das importações agropecuárias passando neste ano para 9% conforme já mencionado. Além disso, se considerarmos o impacto das importações de lácteos sobre o saldo da balança comercial, vamos verificar que no ano de 98 os lácteos foram responsáveis por 7,9% do déficit da balança comercial, já em 99 essa cifra passou para impressionantes 37,4%. Isso significa que enquanto o saldo negativo total da balança comercial agropecuária apresentou uma redução de 81,8% em um ano, como efeito da desvalorização cambial, a redução dos gastos com compra de lácteos no período foi de apenas 13,8%. Analisando-se sob outro prisma, também impressiona o fato de que as importações de lácteos representam cerca de 1% (0,91% para ser mais preciso) do total das importações do país, aí incluídos máquinas, equipamentos, automóveis, aviões, produtos de alta tecnologia, alimentos, petróleo, etc...

Por fim, analisando-se por outro ângulo a questão, e fazendo-se uma análise do volume importado ao invés do valor das importações, os números são ainda mais estarrecedores. É quase inacreditável, mas o volume nominal de lácteos importados em 99 foi praticamente o mesmo do ano anterior (antes da desvalorização cambial) ficando em 386 mil ton (contra 387 mil ton de 98), e isso representou uma redução de apenas 0,34% do volume importado.

Dessa forma, considerando que o volume importado foi reduzido em apenas 0,34% e o valor gasto com tais importações diminuiu 13,8% no período, deduz-se obviamente que houve uma queda no preço médio dos lácteos importados. Essa valor foi de US$ 1.344/ton em 98 e teve uma redução de 13,5% passando para US$ 1.162 no ano de 99. Basicamente as conclusões dos analistas de mercado apontam que essa redução de preços foi a estratégia adotada pelos países exportadores (Argentina, Nova Zelândia, UE) para manter as vendas para o Brasil após a desvalorização cambial. E é justamente essa queda significativa nos preços que aumenta ainda mais a suspeita de "dumping" praticado pelos países exportadores. É difícil compreender como os produtos lácteos (representados principalmente pelo leite em pó e queijos) chegam ao Brasil por um valor inferior a US$ 1.200/ton em média, quando os produtores da UE, por exemplo, recebem mais de US$ 0.35/litro de leite.

Para contrabalançar estas análises tão negativas do setor, cabe aqui uma breve menção ao excelente desempenho que vem sendo obtido pelo setor da carne bovina. Ao analisarmos os 15 principais produtos de exportação do setor agropecuário brasileiro observamos que a carne bovina foi a que apresentou o melhor desempenho em termos de variação entre os anos de 98/99. Em volume, a exportações brasileiras cresceram 54,5% no período, passando de 189 mil ton em 98 para 292 mil ton em 99. Já em valor, houve um aumento de 36,2%, passando de US$ 590 milhões em 98 para US$ 804 milhões no ano passado, isso apesar da queda de cerca de 12% no preço em dólar da carne exportada. Além disso, as análises mais recentes apontam para um futuro ainda mais promissor em termos de exportação de carne bovina. Grande parte dessa história de sucesso pode ser atribuída ao trabalho sério e sistemático que vem sendo desenvolvido na cadeia agroindustrial da carne, no combate à febre aftosa, e que tem possibilitado a expansão do mercado internacional.

Esse trabalho articulado e multifatorial é um exemplo a ser seguido por outras cadeias agroindustriais.

Para concluir, espera-se que o esforço concentrado, empreendido por alguns agentes da cadeia agroindustrial do leite e coordenados pela CNA, no sentido de se estabelecer barreiras "anti-dumping", tais como sobretaxas de importação para os lácteos , venha a ter sucesso e apresentar resultados práticos e efetivos, de forma a minimizar todos os efeitos negativos do excesso de importações de produtos subsidiados, que impactam negativamente a cadeia láctea brasileira e especialmente o setor da produção.

Fonte dos dados: CNA (Indicadores Rurais)

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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