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A heterogeneidade do setor se reflete nas opiniões

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 15/02/2002

5 MIN DE LEITURA

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O MilkPoint tem realizado semanalmente enquetes junto aos seus leitores, visando colher opiniões sobre aspectos que afetam o dia-a-dia do setor. Muitas destas enquetes geram resultados interessantes e nos permitem analisar o que os leitores pensam sobre temas por vezes polêmicos e que freqüentam o noticiário.

Recentemente, fizemos duas enquetes que gostaria de destacar nesta oportunidade. A primeira questionou os leitores a respeito da pertinência, por parte do Ministério da Agricultura, em flexibilizar as discussões a respeito da Portaria 56, que tramita no órgão e versa sobre a nova legislação sobre produção de leite no país.

O resultado da enquete mostra um rigoroso empate técnico, como pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1. O Ministério da Agricultura está certo ao flexibilizar a discussão em torno da Portaria 56 ?
 

 


Quem acha que Sim, pensa possivelmente na adequação das normas aos pequenos produtores, temendo pela exclusão forçada de milhares de pessoas e, conseqüentemente, pela redução de empregos e aumento do êxodo rural. Também, pensa na infra-estrutura insuficiente de eletrificação rural e estradas em várias regiões, na suposta insuficiência da rede laboratorial necessária à análise de centenas de milhares de análise por mês, ou na fragilidade da própria fiscalização, que não daria conta de cumprir a tarefa de fiscalizar o cumprimento das normas pelas indústrias. Por fim, pode questionar se a melhoria da qualidade do leite será mesmo recompensada pela indústria ou pelo consumidor, ou se será mais uma carga sobre o produtor de leite.

Quem acha que Não, provavelmente considera que a aprovação das novas normas é a condição básica para evolução do setor. Sem elas, fica difícil ter competitividade e pensar em atingir novos mercados, como a exportação. Não é possível produzir com rentabilidade um alimento de qualidade se, ao final das contas, tudo fica nivelado por baixo. Sem as normas - e o cumprimento delas - o setor corre o risco de involuir, uma vez que justamente os que mais investiram são desestimulados a permanecer na atividade, visto que seus investimentos não encontram respaldo na venda do seu leite. A legislação já foi por demais protelada e, com esta situação, vai sendo perpetuado o cenário atual vivido pela pecuária de leite. O consumidor tende a ficar cada vez mais atento e exigente, sendo preciso acompanhar esta tendência, como fazem outras cadeias produtivas. Além disso, o pequeno produtor não necessariamente será excluído da atividade e, caso venham a ser, não há problema, pois temos mesmo produtores demais.

São duas formas de pensar, baseadas em princípios e interesses próprios, a ponto de ser difícil ou arriscado afirmar, com toda a convicção, de que a razão está exclusivamente com um dos lados. A constatação que aflora desta análise é que o Brasil é mesmo um país de contrastes e o setor leiteiro nada mais é do que uma prova disso. Dependendo do enfoque, somos uma das maiores economias do mundo e com maior potencial de crescimento, o segundo maior mercado de telefones celulares do planeta, entre outros índices vistosos como estes. Por outro lado, temos uma das piores distribuições de renda do mundo, o que gera também heterogeneidade marcante no padrão de consumo: há quem não bebe leite por absoluta falta de dinheiro e há quem pode comprar leite com ferro, omega-3, etc.; há quem consome leite clandestino achando que se trata do melhor dos leite e há (menos pessoas, é verdade) quem seja fiel a marcas de leite tipo A, produzido e envasado na própria fazenda, com toda a qualidade e preço mais elevado. A produção de leite acaba sendo reflexo disso e passa por situação semelhante: há quem produza com extrema qualidade e eficiência técnica, mas há quem produza como no início do século XX.

Por tudo isso, podem não estar totalmente errados os 2,02% que confessaram "não sei" em relação à enquete que fizemos. Dependendo do Brasil para o qual se olha, é mesmo difícil ter uma opinião definitiva sobre o tema.

Outra enquete que mostra a heterogeneidade do país é a que propusemos na semana passada, sobre o principal obstáculo ao aumento do consumo de lácteos no país: é um problema de renda da população, ou um problema de falta de marketing ?

A tabela 2 mostra os resultados, novamente com grande equilíbrio entre as duas posições, com leve vantagem para a má distribuição de renda do país como fator limitante ao aumento do consumo de lácteos.

Tabela 2. O que mais limita o consumo de lácteos no Brasil ?

 

 



Quem votou na má distribuição de renda possivelmente considera que uma grande parcela da população não tem acesso a leite, sendo prova disso o aumento do consumo quando o preço cai ou a renda aumenta (alta elasticidade). Deve pensar também que a inclusão do leite em programas sociais representa uma forma importante de garantir alimento a esta população e, ao mesmo tempo, escoar estrategicamente o excesso de oferta em determinados momentos.

Já quem optou pela falta de marketing institucional baseou-se no fato do gasto per capita com refrigerantes e cerveja ser maior do que com leite, ou então pelo alto consumo de leite informal, considerado erroneamente de melhor qualidade por parte da população.

Aqui, novamente ambos os grupos podem estar certos sob o argumento de que, dependendo do Brasil a ser avaliado, o aspecto limitante ao consumo, muda de cara. Assim, para a população mais carente, parece inegável que a baixa renda é um fator altamente limitante do consumo. Uma família que tem rendimento de 2 salários mínimos mensais gasta entre 5-8% do seu rendimento com a compra de 1 litro de leite C por dia. É significativo (pense o que representa em dinheiro 5 a 8% de sua renda mensal). Portanto, afirmar que o problema do baixo consumo nesta classe social é fruto do marketing inadequado soa como um enorme equívoco.

Por outro lado, as classes A e B eventualmente poderiam tomar mais leite e produtos lácteos, porque renda não é limitante. Para estas classes, o marketing institucional, ressaltando benefícios dos lácteos, o lançamento de produtos sob medida para públicos específicos e a exploração de nichos de mercado podem efetivamente elevar o consumo de lácteos e, mais do que isto, dentro de um mercado que estaria disposto a pagar mais por comodidade, funcionalidade e saúde, entre outros apelos.

Desta forma, na falta de um estudo mais amplo, é sensato admitir que o equilíbrio verificado na nossa enquete representa de fato a realidade do mercado em que atuamos, onde predomina a heterogeneidade.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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JOSE RONALDO

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - ESTUDANTE

EM 20/02/2002

Eu creio que o grande problema do setor é a desconfiança entre os elos. Quem garante que o investimento na melhoria da qualidade do leite será revertido em melhoria do preço? Não seria melhor todos os produtores se transformarem em informais e sobreviverem dignamente vendendo o seu produto a R$0,50 direto ao consumidor? O governo faz vista grossa na cartelização do setor, e, se é para deixar cada um por si e Deus para todos, esqueçam esta resolução.

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