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A geografia do leite

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 27/04/2001

4 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Em países de dimensões continentais, como o Brasil, onde diferenças climáticas, econômicas e sociais permitem a co-existência de realidades muito distintas falando a mesma língua e sob um governo comum, é compreensível que determinadas regiões apresentem vantagens comparativas em relação a outras para várias atividades econômicas, especialmente as agrícolas, tão dependentes de variáveis climáticas e geográficas.

No caso do leite brasileiro, comenta-se amplamente as vantagens da região Centro-Oeste, liderada por Goiás, mas que já apresenta outros polos a caminho (veja artigo sobre o norte do Mato Grosso). Entre as regiões de menor competividade (ou, em outras palavras, nas quais a atividade terá dificuldade em crescer ou manter sua importância), estariam os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, o sul de Minas Gerais e, talvez, o Rio Grande do Sul, sempre às voltas com baixos preços de leite para uma realidade que não suporta tal situação.

No intuito de entender como as características de cada região afetam a "geografia do leite", vamos usar os dados de um outro país com dimensões continentais e onde a disponibilidade de dados estatísticos confiáveis facilita as análises: os Estados Unidos.

Figura 1

 

Mapa



Na figura 1, trazemos a distribuição da produção de leite dos EUA de acordo com o critério de auto-suficiência estadual. Os dados estão em libras, sendo necessário converter para kg: 1 libra = 0,454 kg. A produção média nos EUA é de 270 kg por habitante/ano. Em verde, os estados exportadores de produtos lácteos. Nota-se 2 bolsões, sendo o primeiro na região centro-norte, a mais tradicional e que reúne estados como Wisconsin, Minnesota, Iowa, etc., onde a produção sempre foi familiar, e o segundo na região Oeste, onde se destacam a California, Washington, Idaho e Novo México. Esta região cresceu muito nas últimas duas décadas em função de:

- clima favorável à produção de leite (pouca umidade, verões amenos em parte da região)
- topografia plana
- disponibilidade de alfafa em boa quantidade e a custos favoráveis
- farta disponibilidade de subprodutos
- sem histórico de produção: grandes fazendas montadas a partir do zero, com menos vícios, de forma mais organizada e desfrutando das vantagens da escala

Em amarelo, estão os países que importam lácteos (produção menor do que 270 kg/habitante/ano) e em vermelho, os que são deficientes mesmo na produção de leite fluido. Nota-se que esta categoria se concentra nos estados do sudeste do país: Florida, Georgia, Alabama, Mississipi, etc. Esta região se caracteriza por:

- clima quente e úmido no verão, afetando negativamente a produção de leite no sistema predominante (confinado, com rebanhos puros)
- restrições ambientais, gerando custos extras para lidar com o ambiente
- maior custo para aquisição e produção de forragens de alta qualidade
- área restrita para a produção

Como resultado, a produção por animal é menor e os custos de produção é maior. Veja na tabela 1 a produção por vaca/ano em alguns estados:

Tabela 1. Produção de leite em kg/vaca/ano, 2000

 

Tabela 1


Fonte: Hoard´s Dairyman, march 25, 2001

A tabela 2 compara a produção de leite em alguns estados do país entre de 1990 para 2000. Fica claro que a produção rumou decididamente para o Oeste, ao passo que as demais regiões ou estagnaram, ou reduziram a produção, mesmo em estados deficientes em leite fluido. Neste período, a produção dos EUA aumentou de 67,237 bilhões de quilos para 76,048 bilhões, ou 13,10% (1,3% ao ano).

Tabela 2. Variação da produção de leite em alguns estados dos EUA, entre 1990 e 2000 (em milhões de kg/ano)

 

Tabela 2


Fonte: Hoard´s Dairyman, march 10, 1992 e march 25, 2001

Além das diferenças geográficas, há alguma diferença no preço recebido? A tabela 3 traz os valores em US$ por kg de leite para algumas regiões dos EUA. Note que a região sudeste é a que apresenta maior preço recebido, ao passo que a região oeste é a pior!

Tabela 3. Preços de leite recebido nos EUA em setembro de 2000 (valores em US$/kg)

 

Tabela 3


Fonte: Hoard´s Dairyman, march 10, 2001

Isto quer dizer que, mesmo tendo a condição favorável de receber preços mais elevados (e historicamente isto ocorreu), a atividade na região sudeste e mesmo no centro-norte não vive seus melhores dias. O leite migra para o oeste por lá também.

Em uma próxima oportunidade, faremos análise semelhante com o nosso leite. Será Goiás a California brasileira? Evidentemente que não se pode comparar, mas sob uma ótica macro, avaliando condições para a produção e organização da atividade, há semelhanças. E será São Paulo a Flórida brasileira? Isto só o tempo vai dizer, mas a julgar pela produção de laranja, já temos aí um indício que sim!

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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