O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo: em 2021 o país chegou ao recorde de, aproximadamente, 224 milhões de cabeças.
O ruminante é um excelente transformador de forragem, ou melhor, o rúmen abriga excelentes engenheiros biológicos que transformam essa forragem em ácidos graxos voláteis e outros compostos de alto valor nutritivo.
Esta talvez seja a maior vantagem que os ruminantes têm ante as espécies monogástricas, como os suínos e as aves. A microbiota ruminal abriga uma população que cresce exponencialmente, isso em apenas um animal.
Mas como isso é possível?
Em apenas 1 ml de líquido ruminal, encontramos aproximadamente:
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100 milhões de protozoários: em relação à sua morfologia, eles possuem a maior célula, se comparada aos três principais grupos de microrganismos que residem no rúmen. Eles realizam a digestão de bactérias, amido e fibras;
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100 bilhões de bactérias: o tamanho da célula bacteriana é 100 vezes menor que a de um protozoário. Elas digerem açúcares, amido, fibras e proteínas; e
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10 mil fungos: é a menor população ao compararmos com os três principais grupos de microrganismos. Os fungos contribuem na degradação das fibras da forragem através da produção de enzimas celulolíticas, facilitando a digestibilidade.
A microbiota ruminal é composta, portanto, pela população de microrganismos que habitam esse ecossistema. Essas complexas populações colonizam o hospedeiro e o beneficiam ao desempenhar funções importantíssimas na manutenção da saúde nutricional e imunidade do hospedeiro. Uma microbiota saudável, ou eubiose, apresenta equilíbrio entre as populações de microrganismos, interferindo positivamente na manutenção da saúde do hospedeiro, no caso, o bovino.
O desequilíbrio desse complexo nicho ecológico, ou a disbiose, é observado quando o animal apresenta alterações metabólicas, nem sempre com sintomas visíveis. Conhecer os conceitos de eubiose e disbiose, portanto, pode contribuir na tomada de decisão, pois uma animal com problemas digestivos geralmente sofre interferência não apenas do ambiente interno, como também e, dependendo da faixa etária, da interferência externa.
Atualmente os microrganismos que residem no corpo dos mamíferos, plantas e solo são classificados como “microbiota”, sendo que 80% da população desses microrganismos que vivem nos mamíferos estão no intestino.
Bezerros recém nascidos sofrem interferência do ambiente externo logo após o nascimento, pois terão seu trato gastrointestinal colonizado por microrganismos ali presentes. Durante o aleitamento e os cuidados parentais, o bezerro é colonizado por microrganismos que impactam no futuro desse animal.
Hoje a literatura tem avaliado como o desenvolvimento da microbiota de animais jovens interfere em seu desenvolvimento e produtividade quando adulto.
A microbiota intestinal, formada por bactérias, fungo e vírus tem a capacidade de moldar o sistema imunológico inato e adaptativo do hospedeiro, produzir vitaminas, ácidos graxos de cadeia curta, entre outros compostos essenciais para o desenvolvimento do animal. Por isso é essencial que além dos manejos diários com a dieta, prevenção de doenças, etc., tenhamos conhecimento sobre as populações invisíveis que, em sua maioria, são nossas aliadas na produção animal.
A manipulação da microbiota intestinal é uma importante ferramenta que ainda estamos desenvolvendo. Hoje, ao utilizar antimicrobianos, alimentos ricos em carboidratos e aditivos alimentares, estamos impactando diretamente o microbioma (microbiota intestinal, pele, glândula mamária, mucosas etc.), que é a população de todos os microrganismos existentes no hospedeiro. Já sabemos que muitas das ferramentas que ainda são utilizadas estão passando por adequações. Assim, os antibióticos devem ser utilizados com cautela, em grande parte devido aos riscos de problemas com resistência.
O uso de probióticos tem despontado como alternativa à redução no uso de antimicrobianos, colaborando com bons resultados na produção do rebanho, em especial em questões relacionadas à sanidade dos animais. Porém, ainda existe muito a se pesquisar no segmento. Probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios ao hospedeiro.
O MAPA já trabalha com o registro de probióticos para uso na alimentação animal, sendo necessária a inclusão da matéria-prima na Instrução Normativa n. 110, de 2020, como ingredientes de uso autorizado na alimentação animal, na classificação de aditivos, e posterior registro do produto.
Atualmente existem muitos artigos avaliando o impacto dos probióticos nas diferentes categorias de ruminantes, porém também ainda há muito para se pesquisar, afinal, para entender como os engenheiros invisíveis atuam, é necessário observar e estudar sobre esse mundo relativamente novo, ou melhor....em evolução!
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