ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Estratégias para controle da hipocalcemia no periparto de vacas leiteiras

POR POLYANA PIZZI ROTTA

E LETÍCIA GUERRA PIUZANA

FAMÍLIA DO LEITE

EM 10/11/2022

9 MIN DE LEITURA

0
12

Atualizado em 08/11/2022

O cálcio é um mineral extremamente importante para vacas leiteiras, sendo que cerca de 99% estão estocados nos ossos e 1% no sangue e demais tecidos. Esse mineral desempenha diversas funções no organismo, como a participação na coagulação sanguínea, na condução de impulsos nervosos, contração muscular, liberação de hormônios, entre outras (Hernandez-Castellano et al., 2020).

Diante disso, a manutenção de níveis adequados de cálcio se torna fundamental para o bom funcionamento do organismo animal.

Durante o pré-parto e pós-parto imediato, o requerimento de cálcio para vacas leiteiras é extremamente alto, sendo necessários, principalmente, no auxílio ao parto e para a composição do colostro, como pode ser observado na Tabela 1.

Esses animais possuem grande capacidade de direcionamento de nutrientes para a produção de leite e a quantidade a ser captada depende do volume de leite produzido, das estratégias de manejo adotadas no período seco e dos primeiros dias após o parto.

Tabela 1. Dinâmica sanguínea, no leite e no colostro do cálcio em diferentes espécies

 Dinâmica sanguínea, no leite e no colostro do cálcio em diferentes espécies
Fonte: Adaptado de Hernandez-Castellano et al., 2020

No entanto, quando estratégias não são adotadas no pré-parto ou pós-parto imediato, essa grande mobilização de cálcio em um curto intervalo de tempo pode levar o animal a ter hipocalcemia, também conhecida como febre do leite, doença que gera diversos prejuízos ao animal e pode levar à morte,

A hipocalcemia, em sua forma clínica, acomete os animais de forma mais severa e possui sinais bastante evidentes: animal fraco e que não consegue se levantar. A presença dessa doença aumenta a chance de aparecimento de outras enfermidades, como o deslocamento de abomaso, retenção de placenta, metrite, cetose e mastite.

Apesar de ser uma doença muito grave, sua ocorrência em rebanhos leiteiros é inferior a 5%. Por outro lado, a hipocalcemia em sua forma subclínica, onde os animais não manifestam sinais clínicos evidentes, possui ocorrência superior a 50% (Reinhardt et al., 2011; Martinez et al., 2012).

A hipocalcemia subclínica, gera prejuízos maiores que a doença em sua forma clínica, causando impactos produtivos e reprodutivos em vacas leiteiras, podendo aumentar de 3 a 5 vezes a probabilidade de ocorrência de doenças no pós-parto e em 50% a chance de descarte desse animal, quando comparado a animais com níveis normais de cálcio no sangue (Chapinal et al., 2011; Rodriguez et al., 2017; Venjakob et al., 2018). Ocorre também redução de até 70% da concepção ao primeiro serviço pós-parto além de queda na produção de leite (Caixeta et al., 2017; Neves et al., 2018ab).

A manipulação dos níveis de alguns minerais na dieta pode contribuir para a manutenção adequada do nível de cálcio circulante no sangue e, por consequência, auxiliar na prevenção da hipocalcemia.

O magnésio, por exemplo, possui relação com a secreção do paratormônio, hormônio relacionado com a disponibilização de cálcio, e com a síntese de calcitriol, forma ativa da vitamina D3, responsável por aumentar a absorção intestinal e reabsorção renal de cálcio. O fósforo, por sua vez, em níveis mais baixos, favorece a síntese de calcitriol, e por consequência, a circulação de cálcio no organismo (Antoniucci et al., 2006).

O fornecimento de dietas com baixa concentração de cálcio durante o período pré-parto estimula a liberação de paratormônio. Porém, essa estratégia é difícil de ser implementada pela necessidade de alcançar um consumo menor que 20 gramas de cálcio por dia, diante dos alimentos comumente utilizados nos sistemas produtivos.

Pode ser interessante então, adicionar substâncias que se liguem ao cálcio e o torne indisponível para absorção, como a Zeolita. Esse mineral se liga ao fósforo, magnésio e cálcio, presentes no rúmen, gerando uma dieta de baixo cálcio (Thilsing et al., 2006).

No entanto, a principal estratégia utilizada para prevenção da hipocalcemia em vacas leiteiras é o fornecimento, no pré-parto, de dietas acidogênicas, também conhecidas como aniônicas.

Essa dieta consiste em fornecer uma quantidade maior de ânions fortes, aqueles que possuem carga negativa, em relação a cátions fortes, que possuem carga positiva, gerando uma leve acidose metabólica no animal. Essa condição de pH sanguíneo ligeiramente ácido promove maior atividade do paratormônio, promovendo maior mobilização óssea de cálcio. A diferença cátion-aniônica da dieta (DCAD) deve ser de -150 mEq e é calculada usando a seguinte fórmula:

diferença cátion-aniônica da dieta (DCAD)

O fornecimento da dieta aniônica durante o pré-parto reduz o consumo de matéria seca, causado pela acidose metabólica gerada (Zimpel et al., 2018), mas provoca um aumento da ingestão no pós-parto, o que ajuda a justificar o aumento na produção de leite.

Há também aumento na concentração de gordura e proteína para vacas pluríparas, redução na incidência de metrite, retenção de placenta e febre do leite (hipocalcemia), para primípara e pluríparas.

Monitorar o fornecimento da dieta aniônica é de extrema importância para que essa estratégia seja, de fato, eficaz na prevenção da hipocalcemia sendo que esse monitoramento deve ser realizado pela mensuração do pH urinário das vacas do pré-parto.

Outra estratégia que pode ser adotada é a suplementação desses animais com vitamina D3. Os níveis de inclusão reportados na literatura possuem variação entre 25.000 e 50.000 UI/dia (Santos et al., 2019).

Níveis superiores a 60.000 UI diários parecem ter pouco ou nenhum efeito positivo, devido a limitada capacidade de conversão da vitamina D3 em calcitriol (Poindexter et al., 2020). A suplementação direta de calcitriol mostrou-se benéfica em melhorar a saúde e performance dos animais. No entanto, para os níveis de cálcio no pós-parto, os benefícios são quase nulos perto daqueles gerados pela dieta aniônica (Wilkens et al., 2020).

A suplementação de cálcio no pós-parto também é uma forma usual de manutenção dos níveis adequados desse mineral. A aplicação por via intravenosa geralmente é realizada em animais com hipocalcemia clínica, onde o animal necessita de disponibilidade imediata de cálcio para garantir sua sobrevivência. Em casos subclínicos, essa aplicação não é necessária (Wilkens et al., 2020).

Sua aplicação via subcutânea é mais comum na prevenção da forma subclínica da doença, com resposta em pelo menos 12 horas após a aplicação (Domino et al., 2017). Porém, apesar de aumentar o cálcio sanguíneo, os efeitos na produção e reprodução não foram observados (Wilkens et al., 2020). A administração de cálcio de forma oral ainda não é comum no Brasil, mas age como forma preventiva.

Existe um recente foco em seleção genética para características associadas a homeostase do cálcio. Um estudo realizado por Tsiamadis et al. (2016), mostrou que a herdabilidade para concentração sanguínea de cálcio e fósforo foram de 0,23 a 0,32 e de 0,30 a 0,40, respectivamente, sendo consideradas herdabilidades moderada a alta, o que demonstra potencial de seleção para essas características. Estudo demonstrando regiões de genes associados a ativação, transporte e sinalização da vitamina D reforçam o potencial da seleção genética para auxiliar na homeostase do cálcio (Pacheco et al., 2018).

Diversas são as ferramentas para auxiliar na homeostase do cálcio neste período tão delicado e fundamental para vaca. É fundamental se atentar para os problemas advindos do desequilíbrio desse mineral no organismo e traçar uma estratégia compatível com o manejo da propriedade leiteira.
 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

 Referências bibliográficas

Antoniucci, D. M., Yamashita, T., & Portale, A. A. 2006. Dietary phosphorus regulates serum fibroblast growth factor-23 concentrations in healthy men. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, 91(8), 3144–3149. https://doi.org/10.1210/jc.2006-0021

Caixeta, L. S., P. A. Ospina, M. B. Capel, and D. V. Nydam. 2017. Association between subclinical hypocalcemia in the first 3 days of lactation and reproductive performance of dairy cows. Theriogenology 94:1–7. https: / / doi .org/ 10 .1016/ j .theriogenology .2017 .01 .039.

Chapinal, N., M. Carson, T. F. Duffield, M. Capel, S. Godden, M.Overton, J. E. Santos, and S. J. LeBlanc. 2011. The association of serum metabolites with clinical disease during the transition period. J. Dairy Sci. 94:4897–4903. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds.2010 -4075.

Domino, A. R., H. C. Korzec, and J. A. A. McArt. 2017. Field trial of 2 calcium supplements on early lactation health and production in multiparous Holstein cows. J. Dairy Sci. 100:9681–9690. https: / /doi .org/ 10 .3168/ jds .2017 -12885.

Hernández-Castellano, L. E., Hernandez, L. L., & Bruckmaier, R. M. 2020. Review: Endocrine pathways to regulate calcium homeostasis around parturition and the prevention of hypocalcemia in periparturient dairy cows. Animal, 14(2), 330–338. https://doi.org/10.1017/S1751731119001605

Martinez, N., C. A. Risco, F. S. Lima, R. S. Bisinotto, L. F. Greco, E. S. Ribeiro, F. Maunsell, K. Galvao, and J. E. Santos. 2012. Evaluation of peripartal calcium status, energetic profile, and neutrophil function in dairy cows at low or high risk of developing uterine disease. J. Dairy Sci. 95:7158–7172. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds.2012 -5812.

Neves, R. C., B. M. Leno, K. D. Bach, and J. A. A. McArt. 2018b. Epidemiology of subclinical hypocalcemia in early-lactation Holstein dairy cows: The temporal associations of plasma calcium concentration in the first 4 days in milk with disease and milk production. J. Dairy Sci. 101:9321–9331. https: / / doi .org/ 10 .3168/jds .2018 -14587.

Neves, R. C., B. M. Leno, M. D. Curler, M. J. Thomas, T. R. Overton, and J. A. A. McArt. 2018a. Association of immediate postpartum plasma calcium concentration with early-lactation clinical diseases, culling, reproduction, and milk production in Holstein cows. J.Dairy Sci. 101:547–555. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds .2017 -13313.

Pacheco, H. A., Da Silva, S., Sigdel, A., Mak, C. K., Galvão, K. N., Texeira, R. A., Dias, L. T., & Peñagaricano, F. 2018. Gene mapping and gene-set analysis for milk fever incidence in holstein dairy cattle. Frontiers in Genetics, 9(OCT), 1–8. https://doi.org/10.3389/fgene.2018.00465

Poindexter, M. B., Kweh, M. F., Zimpel, R., Zuniga, J., Lopera, C., Zenobi, M. G., Jiang, Y., Engstrom, M., Celi, P., Santos, J. E. P., & Nelson, C. D. 2020. Feeding supplemental 25-hydroxyvitamin D 3 increases serum mineral concentrations and alters mammary immunity of lactating dairy cows. 103:805–822. https://doi.org/10.3168/jds.2019-16999.

Reinhardt, T. A., J. D. Lippolis, B. J. McCluskey, J. P. Goff, and R. L. Horst. 2011. Prevalence of subclinical hypocalcemia in dairy herds. Vet. J. 188:122–124. https: / / doi .org/ 10 .1016/ j.tvjl .2010 .03 .025.

Santos, J. E. P., Lean, I. J., Golder, H., & Block, E. 2019. Meta-analysis of the effects of prepartum dietary cation-anion difference on performance and health of dairy cows. 102:2134–2154. https://doi.org/10.3168/jds.2018-14628

Thilsing, T., Jørgensen, R. J., & Poulsen, H. D. 2006. In vitro binding capacity of zeolite A to calcium, phosphorus and magnesium in rumen fluid as influenced by changes in pH. Journal of Veterinary Medicine Series A: Physiology Pathology Clinical Medicine, 53(2), 57–64. https://doi.org/10.1111/j.1439-0442.2006.00798.x

Tsiamadis, V., G. Banos, N. Panousis, M. Kritsepi-Konstantinou, G. Arsenos, and G. E. Valergakis. 2016a. Genetic parameters of calcium, phosphorus, magnesium, and potassium serum concentrations during the first 8 days after calving in Holstein cows. J. Dairy Sci. 99:5535–5544. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds .2015 -10787.

Venjakob, P. L., L. Pieper, W. Heuwieser, and S. Borchardt. 2018.Association of postpartum hypocalcemia with early-lactation milk yield, reproductive performance, and culling in dairy cows. J. Dairy Sci. 101:9396–9405. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds .2017 -14202.

Wilkens, M. R., Nelson, C. D., Hernandez, L. L., & McArt, J. A. A. 2020. Symposium review: Transition cow calcium homeostasis—Health effects of hypocalcemia and strategies for prevention. Journal of Dairy Science, 103(3), 2909–2927. https://doi.org/10.3168/jds.2019-17268

Zimpel, R., M. B. Poindexter, A. Vieira-Neto, E. Block, C. D. Nelson, C. R. Staples, W. W. Thatcher, and J. E. P. Santos. 2018. Effect of dietary cation-anion difference on acid-base status and dry matter intake in dry pregnant cows. J. Dairy Sci. 101:8461–8475. https: / / doi .org/ 10 .3168/ jds .2018 -14748.

 

POLYANA PIZZI ROTTA

Professora de Produção e Nutrição de Bovinos de Leite da UFV e coordenadora do Programa Família do Leite

LETÍCIA GUERRA PIUZANA

Graduanda em Medicina Veterinária e membro do Programa Família do Leite

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures