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Estresse térmico: um pesadelo para a atividade leiteira

FAMÍLIA DO LEITE

EM 10/03/2022

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 10/03/2022

O leite é uma das commodities agropecuárias de maior relevância no mundo, apresentando importância econômica como fonte de renda e sobrevivência para grande parte da população mundial, além de ser uma fonte vital de nutrição.

A busca para atender um mercado consumidor em constante crescimento leva a adoção de estratégias como o melhoramento genético, associado as práticas de bem-estar e nutrição adequadas para que os animais expressem todo o seu potencial produtivo.

Porém, o estresse térmico se tornou um gargalo para a atividade leiteira no Brasil, pois afeta diretamente o desempenho dos animais principalmente no verão ou em regiões onde o clima predominante é o tropical, tornando-se um desafio a ser contornado.

Os ruminantes possuem hábitos predominantemente diurnos, assim suas atividades gerais ocorrem durante esse período. Vacas de alta produção possuem elevada atividade metabólica, necessária para a síntese dos principais constituintes do leite (gordura, proteína e lactose) que demandam muita energia e proporcionam simultaneamente o aumento da produção de calor corporal.

Na tentativa de manter a homeostase, o organismo lança mão de estratégias fisiológicas, na forma de condução e convecção. Contudo, para que esses métodos sejam eficientes é necessário que haja diferença entre a temperatura corpórea do animal e do ambiente ao seu entorno. Caso não haja diferença, os animais não conseguirão realizar essa troca, promovendo um estresse calórico constante, comprometendo a ingestão de matéria seca, saúde, reprodução, composição e qualidade do leite.

O hipotálamo é a região cerebral responsável por manter a homeostasia corporal; quando a temperatura do organismo aumenta, fisiologicamente é ativado o eixo central hipotalâmico de resfriamento que exerce feedback negativo inibindo o centro do apetite e diminuindo a ingestão de matéria seca pelo animal.

Estudos afirmam que vacas sob estresse térmico podem apresentar queda de até 55% na ingestão de alimentos, além de apresentarem um aumento de 7 a 25% na exigência de mantença.

Essa queda no consumo afeta diretamente a produção, visto que a demanda por nutrientes para manter a atividade da glândula mamária e síntese do leite será comprometida; além disso, parte da energia necessária para sua produção será destinada aos mecanismos de estabilização da temperatura corporal.

O teor de sólidos pode sofrer alterações pois, vacas em estresse térmico necessitam de maior utilização de aminoácidos sistêmicos para regulação da homeostase, promovendo limitação do fornecimento desses elementos cruciais para a produção das proteínas do leite. A diminuição da oferta de nutrientes, resultante da baixa ingestão de matéria seca também promove efeitos negativos na reprodução.

Estudos mostram que a diminuição de insulina, glicose e fator de crescimento de insulina-1 nas concentrações plasmáticas afetam o desenvolvimento folicular, qualidade dos oócitos e implantação embrionária. Folículos em desenvolvimento, quando expostos a altas temperaturas perdem a capacidade de produzir proteínas de choque térmico (HSP) responsáveis pela proteção do oócito maduro. O período de estro tende a ser reduzido, sendo explicado como um mecanismo de defesa do corpo para a diminuição da produção de calor corporal que seria agravado pelos efeitos comportamentais do animal nessa fase do ciclo estral.

Além disso, o calor também promove diminuição nas concentrações plasmáticas hormonais (Becker, Collier & Stone, 2019) prejudicando a detecção de cio. Alterações no crescimento e desenvolvimento embrionário podem surgir, como resultado da diminuição do fluxo sanguíneo no útero, tornando ineficiente a troca de temperatura com o meio externo aumentando a temperatura no órgão.

Um estudo conduzido por Garcia-Ispiearto et al. (2007) comprovou uma diminuição de até 23% nas taxas de concepção de vacas que sofreram estresse calórico em relação a vacas que não sofreram esse tipo de estresse. Pereira et al. (2013) conduziram outro estudo mostrando que animais com temperatura retal acima de 39,1ºC tiveram uma queda de 21 para 15% nas taxas de concepção.

Os impactos na saúde dos animais são perceptíveis desde o momento de transmissão da imunidade passiva via colostro para o bezerro. Estudos concluíram que vacas submetidas a estresse térmico durante a gestação produziram colostro de qualidade inferior, sendo explicado pelo fato que altas temperaturas exercem efeitos negativos sobre as proteínas (imunoglobulinas) responsáveis por transmitir a imunidade passiva ao neonato.

O aumento da produção de cortisol desencadeado por qualquer situação de estresse exerce um feedback negativo na imunidade. A hipertermia promove estresse oxidativo aumentando a produção de radicais livres que podem estar relacionados a diminuição das células brancas, causando imunossupressão. Como consequência, doenças como: mastite, metrite, lipidose hepática e claudicação tendem a aumentar.

Casos de claudicação podem estar relacionados ao aumento do período em que o animal permanece em pé na tentativa de aumentar a superfície de contato para melhor dissipar o calor. Metrite e mastite podem se tornar mais frequências devido a diminuição da resposta imune uterina e sobrecarga de patógenos no ambiente, respectivamente.

Na tentativa de reduzir ou evitar perdas de produtividade causadas pelo estresse calórico, alternativas estão sendo adotadas visando melhor desempenho dos animais principalmente durante os meses mais quentes do ano. Diminuir a exposição à radiação solar e permitir uma troca de temperatura corporal com a ambiente de forma eficiente são os principais objetivos.

A disponibilização de sombra, sistemas de ventilação cruzada, ventiladores e aspersores auxiliam minimizando os efeitos do calor. Vale ressaltar que os cuidados com o resfriamento não se restringem, apenas a vacas em lactação.

Estudos comprovaram que vacas que não sofreram com estresse térmico durante o período seco apresentaram maior pico de lactação, redução no número de serviços por concepção, boa qualidade dos oócitos e redução no descarte por falhas reprodutivas se comparadas a animais que foram expostas a altas temperaturas.

Alternativas também podem ajudar, como: fornecimento da alimentação nas horas mais frescas do dia e ajustes na dieta podem ser utilizadas com a finalidade de aumentar a ingestão de matéria seca. A adição de gordura e aditivos têm sido utilizadas por melhorar a eficiência alimentar. Estudos mostraram que vacas de alta produção alimentadas com maiores teores de gordura tiveram maior produção de leite no verão.

Já o fornecimento de aditivos ionóforos promove o aumento na produção de propionato, promovendo maior eficiência energética pelos animais. Os efeitos negativos causados pelo estresse térmico nos animais principalmente nas épocas mais quentes do ano promovem perdas econômicas em toda cadeia leiteira, sendo necessário a busca de alternativas para diminuir seus efeitos sob o desempenho dos animais.

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Autores 

Polyana Pizzi Rotta - Professora do Departamento de Zootecnia da UFV e coordenadora do Programa Família do Leite
Guilherme Braga - Graduando em Medicina Veterinária, estagiário do Programa Família do Leite
Dayanne Lima - Pesquisadora Colaboradora da UFV, membro do Programa Família do Leite
 

Referências bibliográficas

Becker, C. A.; Collier, R. J. and Stone, A. E. 2019. Invited review: Physiological and behavioral effects of heat stress in dairy cows. Journal of Dairy Science. 103 (8): 6751-6770.

García-Ispierto, I. F.; López-Gatius, G.; Bech-Sabat, P.; Santolaria, J.; Yániz, C.; Nogareda, F.; De Rensis ; López-Béjar, M.; 2007 Fatores climáticos que afetam a taxa de concepção de laticínios de alta produção vacas no nordeste da Espanha. Theriogenology 67: 1379–1385. https: // doi .org / 10 .1016 / j .theriogenology.2007.02.009

Pereira, M.H.C.; Sanches, C.P.; Guida, T.G.; Rodrigues, A.D.P.; Aragon, F. L.; Veras, M. B.; Borges, M.B.;Wiltbank, M. C.; Vasconcelos, J. L. M.; 2013. Momento do tratamento com prostaglandina F 2α em um protocolo baseado em estrogênio para inseminação artificial cronometrada ou cronometrada transferência de embriões em vacas leiteiras em lactação. J. Dairy Sci. 96: 2837-2846. https://doi.org/10.3168/jds.2012-5840

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