Sabemos que vacas com elevado potencial de produção apresentam acentuado balanço energético negativo no início de lactação, sendo a perda de peso e queda de condição corporal um produto direto do aporte de energia em seu sistema que, por sua vez, pode ser traduzido pela maior ou menor ingestão de matéria seca. De uma maneira geral, vacas em início de lactação utilizam os nutrientes advindos da dieta, principalmente a energia, seguindo uma ordem seqüencial de prioridades em seu organismo. Primeiramente, são atendidas as exigências de manutenção, crescimento (novilhas) e, posteriormente produção de leite. O saldo final excedente (energia) abastece, então, os demais tecidos e sistemas, destacando o sistema reprodutivo e retorno completo das atividades ovarianas (ciclo estral). Logo, percebemos que, num primeiro momento, a reprodução acaba sendo "deixada de lado", naturalmente, pelas necessidades do animal.
Diante dos conceitos descritos acima, pesquisas são realizadas, já há alguns anos, com intuito de correlacionar a maior freqüência de ordenha a possíveis atrasos no cio de vacas leiteiras. De acordo com pesquisa realizada em 1937, existiam dois fatores que afetavam o retorno ao cio pós-parto: a metodologia da ordenha e sua freqüência. Os resultados apontaram que um maior número de ordenha diárias resultou num maior atraso ao cio:
Tabela 1. Mamadas e freqüência de ordenha em vacas holandesas (1937)
Recentemente (2002), foi publicado um trabalho que comparou a ovulação em vacas ordenhadas 4 x ao dia com vacas ordenhadas 2x ao dia ao longo da lactação (controle). Após o período de 30 dias pós-parto, os animais ordenhados 4 x ao dia retornaram a freqüência diária de 2 ordenhas.
De acordo com os dados apresentados na pesquisa, percebemos que ordenhas adicionais promoveram um retorno ao cio (sinais) mais tardio. Entretanto, as ovulações (determinadas através da avaliação da concentração sérica de progesterona duas vezes por semana) ocorreram em intervalos similares para as duas freqüências de ordenha.
Em outro estudo (1997), realizado com animais holandeses em Israel, foram avaliados dois módulos experimentais. No primeiro, num tratamento os animais foram ordenhados 6x ao dia a cada 4 horas, durante as 6 primeiras semanas de lactação, retornando à freqüência de 3 ordenhas após este período. O outro tratamento consistiu na realização de 3 ordenhas diárias (a cada 8 horas) com mamadas adicionais de bezerros entre as ordenhas, durante, também, as primeiras 6 semanas de lactação, retornando à freqüência de 3 ordenhas diárias após este período. O tratamento controle consistiu de 3 ordenhas diárias ao longo da lactação. No segundo módulo experimental, também foram realizados 3 tratamentos. O controle (3 ordenhas diárias), o segundo, composto por 6 ordenhas diárias por apenas 3 semanas e o terceiro com 6 ordenhas diárias, mas durante 6 semanas. O quadro abaixo apresenta os resultados obtidos:
No experimento acima ficou evidente que a maior freqüência de ordenha proporcionou um atraso tanto na primeira ovulação quanto no retorno ao cio, para todos os tratamentos, exceto no tratamento que envolveu mamadas, havendo um atraso na primeira ovulação mas um retorno ao cio mais breve que a realização de 6 ordenhas sem mamadas (módulo 1.)
Comentário do autor: os dados apresentados nas pesquisas mencionadas neste artigo são de extrema importância para efetuarmos um paralelo entre nutrição e reprodução. Sabemos (clique aqui para ver artigo anterior) que a maior freqüência de ordenhas promove um maior balanço energético negativo e maior consumo de MS. Logo, a lição que podemos extrair de estudos como este é de que devemos tomar muito cuidado com a repercussão de mudanças no manejo, de modo que as mesmas não venham a ser precipitadas. De acordo com dados apresentados nas pesquisas do artigo anterior, a adoção de técnicas modernas de manejo envolvendo freqüência de ordenha (ordenhas adicionais no início de lactação) ou até mesmo o simples acréscimo de 2 para 3 ordenhas deve ser uma atitude bem planejada. Novamente, destacamos, que o produtor e responsáveis pelo manejo devem mensurar todos os fatores envolvidos na implantação de uma ordenha adicional no sistema de produção de uma fazenda, especificamente conforto animal, qualidade, quantidade e constância da dieta fornecida ao longo do ano, em cada etapa da lactação evitando transformar o ganho teórico em prejuízo na prática.
Fonte: Hoard's Dairyman, janeiro 2003.