Por que o preço do leite está subindo tanto? Teremos uma crise?

No dia 20 de março os preços do leite no mercado futuro nos USA significativamente. No leilão gDT na primeira quinzena de março o leite em pó integral teve aumento de 18% e no leilão de 19 de março um aumento de 21,2%, fechando a US$ 5.116/tonelada, sendo que o nível de US$ 5.000 não acontecia desde 2007.

Por que os preços subiram tanto? A resposta quem dá é a velha lei d oferta e procura: subiram muito porque a oferta de leite no mundo está muito menor do que a demanda, que continua aquecida principalmente pelo aumento do consumo nos países emergentes.

Então para entender o que está acontecendo a pergunta é outra: por que a oferta está muito menor do que a demanda? A resposta é: porque os preços aos produtores estava muito ruim, levando muitos a desistirem da atividade ( granjas leiteiras tem fechado no mundo todo ) e outros reduzirem a produção, reduzindo a alimentação e/ou vendendo vacas para pagar os custos de produção, que vem se elevando em função da adversidade climática que vem ocorrendo no mundo todo ( essa adversidade parece ser a regra e não mais a exceção ) e da subida do preço dos  grãos, causada em parte pela adversidade climática e em parte pelo aumento da demanda pelo seu uso na produção de combustível.

Se o preço ao produtor está muito ruim não há procura por vaca de leite. Se o produtor de leite tiver um prejuízo de R$ 4.000,00 no mês, bastava vender uma vaca de leite que valia R$ 4.000,00 para pagar as contas. Mas se não há procura, ele vai ter que vender vacas para o gancho para pagar as contas, obtendo cerca de R$ 1.200,00 pela vaca, se estiver gorda, ou seja vender 5 vacas por mês para pagar as contas. Esse produtor se tiver  50 vacas e o prejuízo for continuado, irá diminuindo sua produção até que em 10 meses não produzirá mais por não ter mais vacas para produzir. Por isso já no segundo semestre de 2012 a Leite São Paulo previa a perspectiva de uma crise no setor leiteiro nacional de grandes proporções e propôs na Câmara Setorial da Cadeia produtiva de Leite e Derivados a criação de um grupo de trabalho para analisar o quadro e propor medidas para, se não afastar a possibilidade de uma crise, pelo menos minimizar seus efeitos se ela viesse ocorrer. Esse grupo foi criado e chamado GT da Crise, as medidas foram propostas, mas infelizmente praticamente ficaram no papel.

Nos próximos meses teremos sequência ao processo de aumento de preços aos produtores nacionais, acompanhando o que deve acontecer no mercado internacional, e que terá que ser significativo para evitar desabastecimento, pois os custos de produção estão muito elevados. E esses aumentos de custos terão que ser absorvidos pelo varejo ou repassados ao consumidor ou absorvidos pelo varejo, pois a indústria já vinha sinalizando perda significativa de margem ( para o varejo ) e até mesmo dificuldades financeiras graves. A existência e a dimensão de uma crise no setor leiteiro nacional dependerá da capacidade do consumidor e do varejo absorverem o aumento dos custos de produção, uma vez que, de forma geral, os produtores de leite e a indústria não terão como absorver esses aumento de custos.

Na reunião ordinária da Câmara Setorial da cadeia Produtiva de leite e Derivados, ocorrida em Brasília no dia 21 de fevereiro de 2013, preocupada com os cenário do setor leiteiro nacional e internacional, e considerando que:

1) A renda familiar nas cidades brasileiras no período de 2000 a 2010 de forma geral teve aumentos entre 60% a 85%  e o aumento do preço do leite UHT foi muito menor;

2) A indústria de laticínios perdeu margens basicamente para o varejo, sendo a maior perda de margem ocorrida no leite UHT;

3) Os custos de produção de leite cru , devido o aumento do preço da mão de obra e dos muitos insumos usados para sua produção, especialmente os grão, aumentaram muito a partir de 2011;

4) O preço do leite UHT no varejo, que representa 82% do consumo de leite fluido no Brasil e é determinante para o preço pago ao produtor de leite cru, não tem acompanhado aumento dos custos de produção;

5) Há um descompasso com os preços que o produtor de leite vem recebendo, com perspectiva de uma crise na pecuária leiteira nacional provocando significativa redução na oferta e com consequências a longo prazo;

6) Uma redução significativa na oferta de leite cru, para evitar o desabastecimento no País, poderá  provocar um aumento nas importações, que já são significativas uma vez que há anos a produção nacional não atende as necessidades internas, prejudicando a geração de trabalho e renda no interior, com consequências a longo prazo;

formalizou, para a apreciação de todos os seu membros e convidados permanentes, a proposta à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados de formação de um Grupo de Trabalho, com representantes da Secretaria de Planejamento do MAPA, do varejo, da indústria e dos produtores, analisar e discutir este quadro e apresentar ao plenário da Câmara, no menor tempo possível, suas conclusões e recomendações no sentido  assegurar a sustentabilidade econômica ao setor leiteiro nacional, especialmente à sua pecuária leiteira, bem como para fomentar a produção nacional atender  plenamente as necessidades do País e caminhar para tornar o Brasil um exportador de leite e lácteos. 

O prazo para manifestação dos membros da Câmara com relação à essa proposta inicialmente foi o dia 15 de março, foi prorrogado para o dia 05 de abril. Vamos aguardar como se posicionam as entidades que fazem parte da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados para ver quem está disposto a sentar para analisar e discutir o quadro atual e apresentar propostas para o setor leiteiro nacional enfrentar as dificuldades que se evidenciam para 2013.

No próximo artigo relataremos o desdobramento dessa proposta, apresentar algumas considerações sobre o que seria um preço ao produtor para a sustentabilidade econômica da atividade da pecuária leiteira.

Marcello de Moura Campos Filho