foto 1 : vista do alto do Mt. Hutt mostrando o vale do rio Rakaia tomado por fazendas. Methvem -Nova Zelândia
Para isso foi utilizado um relatório da NZIER intitulado “A função do leite em sustentar a Nova Zelândia”. O documento foi elaborado em 2010 no intuito de servir como base de dados para a Fonterra Cooperative Group LTD e a DairyNZ. A NZIER é uma empresa de consultoria especializada em pesquisa e análise econômica no setor público e privado em toda a Nova Zelândia e Austrália.
Segundo o relatório, o setor de laticínios é responsável diretamente por 2,8% do PIB que equivale a US$ 5 bilhões. O impacto sobre o PIB se dá principalmente por ser o maior volume de produtos exportado da NZ. Vejam na tabela abaixo os 15 maiores produtos de exportação do país.
Tabela 1: Os 15 maiores produtos de exportação da Nova Zelândia
Fonte: traduzido e adaptado de NZIER(2010)
A contribuição do leite no PIB é:
• Maior que a contribuição do PIB dos setores de mineração, da pesca e da silvicultura juntos;
• Cerca de 10 vezes maior que o PIB do setor do vinho;
• Cerca de 3 vezes maior que o setor madeireiro e florestal
• Mais de um terço da contribuição do PIB do setor primário completo (leite e carne, agricultura e processamento, a horticultura, a pesca, a silvicultura, mineração);
• 40% maior do que o setor de eletricidade, gás e água;
• 2/3 tão grande quanto o setor de construção (setor muito forte no país devido à ocorrência de terremotos)
• 15% do PIB total das indústrias produtoras de bens e
• Fornece 26% do total das exportações de bens da Nova Zelândia
Contudo esse setor se estende bem além dos seus impactos diretos ao PIB da NZ e contribui para a saúde da economia em muitos aspectos. Os laticínios estão intimamente interligados ao resto da economia devido à geração de emprego e renda, direta e indiretamente através de empresas fornecedoras de bens e serviços. Além disso, existe o efeito nas cidades pelo crescimento rural através do rendimento fiscal que financia os serviços públicos.
Dos quase US$10,4 bilhões de produtos lácteos:
• US$ 7,5 bilhões foram usados para compra leite dos produtores;
• US$ 1,5 milhões foram revertidos em salários e taxa de retorno.
• Cerca de US$ 625 milhões foi gasto em compra de insumos intermediários na NZ como embalagens, energia, etc.
Dos US$ 7,5 bilhões pagos aos produtores:
• US$ 3,0 bilhões foi mantido como taxa de retorno, trabalho e capital;
• US$ 3,6 bilhões foi gasto em insumos produzidos no país, como fertilizantes, alimentação, serviços agrícolas, serviços financeiros.
Isso tudo é dinheiro circulante no país devido a atividade leiteira de modo geral. E ainda tem o dinheiro gasto em compras de produtos e serviços estrangeiros o que faz com que parte do capital não gire no próprio país.
Na geração de emprego a atividade leiteira emprega
• 65% a mais que a atividade de corte;
• Cresce 75% a mais que o setor de frutas;
• Cria o dobro de empregos que o setor de transformação de madeira;
• Corresponde diretamente para 1 a cada 4 empregos nas 4 principais regiões leiteiras do país.
• A cada US$1/kg de leite sólido pago a mais, gera em torno de 4600 novos empregos.
Com isso a atividade gera receitas que melhoram a qualidade de vida dos Kiwis. Para termos uma idéia, o crescimento do setor leiteiro na década passada resultou em um acumulado de US$ 6,4 bilhões para as famílias neozelandesas em melhor situação de vida do que a realidade de 1999. Um aumento de US$ 1/kg de leite sólido fornece receita adicional de mais de US$ 270 por ano para cada homem, mulher e criança da Nova Zelândia. O Aumento de US $ 1,2 por kg deste ano vai gerar um extra de US$ 324 por pessoa na Nova Zelândia.
O leite também gera uma quantidade substancial de receita fiscal para o governo, através dos impostos sobre a renda dos produtores, os impostos sobre os laticínios, e taxa sobre bens e serviços (GST) e outros impostos sobre a renda e os gastos que o leite estimula no resto da economia. Quando se aumenta a receita fiscal, os benefícios não vão apenas fluir para os distritos de produção leiteira, mas no país como um todo. Aumento da receita fiscal significa mais dinheiro para gastar em serviços essenciais como educação, saúde e segurança. Em 2009, esses setores cresceram 0,7%, 0,6% e 0,2% respectivamente por causa do crescimento do setor do leite ao longo da última década.
Se levarmos em consideração as 4 maiores regiões produtoras de leite, quando os produtores estão sorrindo, todo mundo também está. A produção de leite é extremamente importante para muitas economias regionais. Ela injetou US$ 700 milhões na economia Southland em 2009, bem como South Taranaki e Matamata-Piako, ambos recebendo bem mais de meio bilhão de dólares. Para as economias regiões menores como Ashburton (US$471milhões), Waipa (US$ 361milhões) e Selwyn (US$ 270 milhões), o valor da produção de leite, em relação ao tamanho total da economia, é muito significativo.
Nas cidades, as empresas se beneficiam com a venda de bens e serviços para os produtores. Em média o produtor gasta mais da metade da sua renda em bens e serviços na operação da fazenda. A grande maioria desses bens vêm das cidades e também com superávit na balança comercial, que diminui as taxas de juros logo os custos com empréstimos o que estimula os empresários de modo geral a investirem mais.
Sendo assim o setor de produtos lácteos influencia na economia como um todo no país. É mais evidente nas bacias leiteiras, contudo todo o país sofre impactos vindos do “humor” do leite. Abaixo segue um esquema para ilustrar como tem sido essa influência.
No ano passado, tive oportunidade de conviver com uma sueca que estava fazendo estágio conosco na Back track Daires. Segundo ela, os produtores no seu país não estão preocupados em juntar riquezas como os neozelandeses e sim em deixar o país bonito e ter uma qualidade de vida razoável com menor nível de stress possível. A conclusão que chego é que o produtor neozelandês tem mais atenção com a lucratividade do negócio e em manter o país rico. Se o país é bonito e conservado é devido à pressão do consumidor e também pelo turismo forte no país. Além disso, aqui o recurso que chega ao governo volta para a população na mesma velocidade. Ainda não ouvi falar em corrupção, desvio de verbas e etc por aqui. Pelo contrário, outro dia vi um político sendo destituído do cargo por falar para um garçom: “Você sabe quem eu sou”. No sentido de estar querendo dizer “me trate bem por que eu sou autoridade”.
Verdadeiramente é um choque para um brasileiro como eu ter uma experiência de trabalho como a que minha esposa e eu estamos tendo aqui. Quando vejo um kiwi operando sua unidade de produção me vem na cabeça três palavras que quero levar para o Brasil como lema profissional: honestidade, trabalho e lucratividade.