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Leite jogado no esgoto? Entenda as cotas de produção leiteira no Canadá

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

E STEPHANIE ALVES GONSALES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/02/2023

3 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 25/09/2023

Recentemente, um vídeo tem chamado atenção das redes. Um produtor de leite localizado em Ontário, província que faz divisa com os Estados Unidos, divulgou em sua rede social um vídeo que mostra o descarte de 30.000 litros de leite no esgoto. O motivo? Sua cota de produção para o mês já havia sido atingida e o governo o obriga inutilizar esse leite excedente. 

 

O que são as cotas de leite no Canadá?

As cotas de leite são um sistema de regulamentação da produção de leite no Canadá que limita a quantidade de leite que os produtores podem produzir. Esse sistema foi estabelecido com o objetivo de controlar a oferta de leite e garantir preços estáveis aos produtores de leite do país.

Com as cotas de leite, os produtores são autorizados a produzir uma determinada quantidade de leite por ano ou mês, medida em toneladas de leite. Se um produtor quiser produzir mais leite do que sua cota permite, ele precisa comprar cotas adicionais de outros produtores. Isso cria um mercado para as cotas de leite e permite que os produtores possam se adaptar às mudanças na demanda de leite.

O custo das cotas é bastante elevado, variando bastante entre as províncias. Em Quebec, por exemplo, o direito de produzir leite vale 24.000 dólares canadenses por vaca (US$ 17.700 aproximadamente), ao passo que, em Alberta, atingem 58.000 dólares canadenses. Um produtor de 50 vacas precisaria aportar 2.900.000 dólares canadenses (R$ 11.400.000) para ter o direito de produzir e comercializar o leite destes animais. Não é preciso muito para concluir que poucos produtores iniciam na atividade.

As cotas de leite também ajudam a proteger a produção leiteira da volatilidade dos preços, pois garantem que o preço do leite não caia abaixo de um nível mínimo estabelecido pelo governo. Isso incentiva os agricultores a investir em suas fazendas e melhorar a qualidade do leite produzido.

Em geral, as cotas de leite são uma ferramenta importante para garantir que a produção de leite no Canadá seja estável e sustentável a longo prazo. No entanto, o sistema também é criticado por alguns agricultores e grupos de defesa dos consumidores, que argumentam que as cotas limitam a concorrência e aumentam os preços do leite para os consumidores (o que de fato acontece).

Também, para o sistema funcionar, é preciso limitar a entrada de leite importado, já que como os preços de leite se mantém artificialmente altos (veja o gráfico 1, comparando os preços em dólar para diversos países), há o incentivo natural para as importações aconteçam. Essa limitação é obtida através de fortes barreiras de entrada ao leite importado.

Gráfico 1. Comparativo dos preços do leite pago aos produtores, em dólar, para diversos países


Fonte: Gráfico elaborado pela equipe do MilkPoint Mercado, com dados do CEPEA, Magyp, Inale, Clal, ODEPA, DG Agri, Clal e Alberta Milk. 
 

Para manter esse sistema todo funcionando, que gera custos à sociedade, é necessária uma enorme força política, além de comunicação constante com o consumidor. Um artigo recente mostra a força do lobby político do setor lácteo no Canadá.

A sustentação do programa passa pelo apoio popular e pelo marketing. O site da associação Dairy Farmers of Canada traz muitas informações a respeito da sustentabilidade, qualidade e transparência da produção local. O Toronto Maple Leafs, um dos principais times de hockey no gelo (esporte mais popular do país) é patrocinado pela associação Ontario Dairy, que estampa a palavra “milk” nos uniformes


 

Até quando o sistema se manterá? Ninguém sabe.

Embora seja favorável aos produtores, o cenário recente é mais desafiador. O alto custo das cotas dificulta em muito a expansão dos rebanhos. Questões de sucessão familiar são certamente um problema. Ainda, o aumento dos custos de produção tem gerado problemas aos produtores, já que o preço do leite já é elevado e mesmo um país de renda média alta, como o Canadá, pode enfrentar problemas de demanda ao repassar os custos.

É triste ver um produtor despejando 30.000 litros fora, mas é importante reconhecer que essa situação é parte de um sistema que, no final das contas, é feito para proteger os produtores.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

STEPHANIE ALVES GONSALES

Zootecnista formada pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduada em Gestão do Agronegócio. Integrante da Equipe de Conteúdo do MilkPoint.

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RUBENS CENCI MOTTA

CHARQUEADA - SÃO PAULO - OVINOS/CAPRINOS

EM 22/02/2023

E a fome nos países pobres? O governo canadense tão rigoroso em questões da Amazônia, podia repensar esse desperdício.
MURILO ROMULO CARVALHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/02/2023

Novamente, o governo canadense não pediu para que esse leite fosse jogado fora. Isso foi uma decisão do produtor pois ele não receberia pelo leite, então jogou fora.
ORLANDO SERROU CAMY FILHO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/02/2023

Não é um bom sistema, considerando a demanda mundial para alimentos. Esta situação de descarte é imoral socialmente falando, embora comercialmente aceitável ou justificável. A ONU, ciosa das questões sociais mundo à fora, poderia e deveria articular com as nações a formatação de um sistema compensatório para o leite extra-cota, com valor diferenciado, para não estimular aumento de produção, mas evitar o descarte de produto tão nobre.
Trata-se de vontade política, primeiramente, e de reconhecer que algo pode ser feito, contribuindo para manter a atividade e ajudar as populações carentes do mundo.
DANIEL DALGALLO

PORTO UNIÃO - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/02/2023

Se fica no livre mercado os produtores se degladiam com as indústrias. Como cotas, existe o limite. Conclusão: não tem um sistema ideal. A necessidade e apetite da especulação são difíceis de contemplar.
Subsídios? Compra governamental e doação a população?
ALUÍZIO LINDENBERG THOMÉ

FARIA LEMOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/02/2023

Fundamental para uma melhor compreensão do assunto o comentário do sr. Murilo.

Perguntas: o Canadá exporta excedente? Não existe um sistema em que esse excedente seja negociado a preço barato para exportação? Não subsidiado, barato mesmo.
E apenas por suposição, o produtor em questão poderia ter uma queijaria onde fabricasse esse excedente?

Fico com a sensação de que os produtores vivem em uma zona de conforto que é nosso sonho de consumo mas também pode ser um desestímulo a melhorias.Que seja infinita enquanto dure.
MURILO ROMULO CARVALHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/02/2023

Aluízio, o Canadá exporta bem pouco leite e derivados porque a ideia das cotas é proteger o mercado e não ficar exposto a variações de preço no mercado internacional. Logo, não faz sentido dedicar grande fatia do mercado à exportações.

Rrespondendo as perguntas, para não subsidiar, precisaria processar, armazenar e transportar o produto. Ao abrir espaço para um, abre espaço para todos produzirem a mais, o que ia requerer mais processamento, armazenamento, etc. Se o preço no mercado internacional cai 20%, seu custo de produção é o mesmo, o que você faz com aquele produto que você precisa dar giro? Ou vende 20% mais barato (possivelmente no prejuízo), ou joga fora.

Quanto a ter uma queijaria, toda planta de processamento de lácteos que vende produtos para terceiros é registrada junto ao comitê de comércio de leite. Logo, a planta comunica o quanto precisa de leite em determinados períodos, e o comitê aloca as quantias para cada planta. Assim, o preço que cada planta paga pelo leite e quanto os produtores recebem é o fixado. Ele poderia ter uma queijaria e requerer o uso do leite próprio, mas o quanto a fazenda de leite pode produzir é a mesma quantidade, e o preço que a queijaria pagaria é o mesmo que outras plantas. Uma alternativa que alguns produtores tem usado para pequenas quantias é contratar um "trailer queijeiro" que vem e produz queijo com o seu leite na sua fazenda, mas você não pode comercializar (e isso é levado a sério aqui). Por isso, normalmente os produtores usam menos de 2 mil litros para fazer produtos para consumo próprio.

Quanto a desestimular melhorias, com certeza dá um conforto grande saber quanto você receberá (e que receberá), mas as margens são apertadas e os requerimentos altos. Produzir leite continuamente acima de 400 mil de CCS ou 120 mil de CBT faz você perder a licença para vender leite, por exemplo. Em alguns casos, dá sim espaço para estagnação, mas esses são produtores que provavelmente estarão fora da atividade nos próximos 5 anos. Quem é profissional, eficiente, e está bucando melhores retornos consegue investir e melhorar bastante, já que o planejamento é bem mais fácil. Reflexo disso é que o tamanho médio de fazenda é menos que 100 vacas, e mesmo assim ao redor de 20% das fazendas tem robôs. É comum ver fazenda com menos de 80 vacas, mão de obra 100% familiar e produção acima de 40kg e acima de 4% de gordura.
MURILO ROMULO CARVALHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/02/2023

Só para esclarecer, o produtor não é obrigado a jogar o leite fora, ele fez porque não receberia por aquele leite. Os produtores, no geral, conseguem planejar bem a produção. Você pode produzir acima da sua cota, desde que você "compense" esse excesso de produção nos meses seguintes. O produtor do vídeo não se planejou adequadamente e foi ganancioso. A realidade é que há alguns anos havia um mercado muito bom de venda de animais para os EUA, o qual está bem ruim nos últimos anos. Assim, os produtores que costumavam criar muitas novilhas agora perdem dinheiro fazendo isso, então seguram as novilhas paridas e, para não sair no prejuízo vendendo elas, seguram mais vacas do que devem. Isso quer dizer que esse produtor não se planejou direito e foi ganancioso, principalmente porque recentemente os produtores tiveram 2% de crescimento na cota própria, algo que não acontecia tinha muito tempo.

Importante ressaltar também que o sistema de cotas segura muito mais os produtores na atividade, sendo que a maioria esmagadora da indústria e baseia em mão de obra familiar. Além disso, os produtores tem uma cobrança bem grande em termos de qualidade, bem estar animal, gestão ambiental e biossegurança, podendo perder a licença de produtor se não estiverem dentro dos parâmetros adequados.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 19/02/2023

Obrigado Murilo, legal a visão de quem vive a realidade local.

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