A ideia de sistemas intensivos de produção de leite geralmente está associada ao confinamento dos animais. No entanto é possível encontrar sistemas a pasto com grande retorno econômico e alta produtividade, sendo a Nova Zelândia o país referência neste modelo de produção. Mas, para que esse retorno aconteça e os animais respondam ao sistema de produção a pasto, é essencial que se busquem estratégias de manejo nutricional e de uso das pastagens.
O uso adequado das pastagens representa uma parte expressiva do sucesso. Dessa forma, é necessário atenção desde o processo de escolha da forragem até a adubação e manutenção dos pastos. Considerando uma produtividade variável das forragens, a espécie forrageira ideal não existe, visto a diversificação de clima, solo, animais e manejos das diferentes regiões brasileiras.
É importante ressaltar a elevada capacidade de produção e manejo das pastagens tropicais. Existe a possibilidade de utilização como única fonte de forragem no verão, enquanto no inverno é possível que se realize a suplementação com outras forragens ou ainda a sobressemadura de gramíneas de clima temperado. O importante é que se tenha a conservação dessa forragem, com adubação, evitando pisoteio excessivo, para que a pastagem possa crescer com qualidade nutricional adequada.
O sucesso do sistema de produção a pasto é baseado em conforto animal, consumo do pasto, qualidade da forragem e suplementação concentrada. Diante disso, existem estratégias nutricionais para o aumento de produtividade e bom funcionamento desse sistema, visto que somente a pastagem é capaz de suprir uma produção máxima de 15 litros/animal/dia (NRC, 2001).
As forragens tropicais possuem menor densidade nutricional (NDT baixo) e um alto teor de fibra (FDN alta), além de uma capacidade de degradação menor, resultando em um maior tempo de retenção no rúmen. O conjunto desses aspectos reflete na limitação do consumo por enchimento ruminal, considerando o efeito físico. No entanto, a limitação física, nesse caso, acontece quando o capim é cortado e oferecido ao animal. Na prática do pastejo em si, o que limita o consumo é a estrutura do dossel e o tempo de pastejo, sendo o último influenciado pelo clima. Em um clima tropical, nas horas mais quentes do dia os animais buscam a sombra e deixam de pastar.
A luminosidade reflete de maneira direta sobre a produção de leite, considerando os aspectos hormonais, como o aumento de prolactina e IGF-1. Na prática, percebe-se também um aumento da ingestão de matéria seca nos dias longos, época em que se utiliza as pastagens. Esse consumo se dá principalmente ao amanhecer, em que a luminosidade aumenta, mas a temperatura não está tão elevada. Geralmente o que se vê é a realização da ordenha justamente nesse horário de pico de consumo dos animais. Dessa forma, o horário de ordenha deve ser bem planejado, permitindo o pastejo nos horários que o animal naturalmente busca o alimento, adiantando a ordenha.
Além disso, uma estratégia adotada para minimizar a limitação de consumo está relacionada à estrutura do pasto, através do manejo de altura e densidade das forragens. Dessa forma, o animal consegue apreender quantidade adequada da planta, com taxa e massa de bocado satisfatórias.
Estudos relatam resultados positivos quando o manejo de rotação de piquetes é realizado com base na altura da forragem nos momentos de entrada e saída dos animais em comparação ao intervalo fixo de descanso dos piquetes. Isso acontece quando são consideradas características como índice de área foliar, número de folhas e intercepção luminosa, que permitem o desenvolvimento e máximo aproveitamento das pastagens (Carnevalli et al., 2006; Giacomini et al., 2009; Voltolini et al., 2010). É importante lembrar-se da divisão de lotes, assim como para vacas confinadas, animais mais produtivos tem maior exigência e, portanto, poderiam fazer o pastejo de desponta.
A qualidade da forragem está ligada à necessidade de suplementação concentrada para os animais, visto que o pasto não oferece uma dieta completa e balanceada. Dessa forma, visando a redução dos gastos com concentrado, a adubação nitrogenada se faz importante para a manutenção dos níveis de proteína bruta das plantas forrageiras (Chagas, 2011).
De acordo com modelos de cálculos de necessidade proteica, a forragem bem manejada é satisfatória para o fornecimento de proteína metabolizável para as vacas, ressaltando-se a necessidade de avaliar o estágio da lactação e a produtividade do animal. No entanto, no campo existe uma grande resistência em reduzir a suplementação proteica e focar na utilização de ingredientes energéticos (Danes, 2013).
Para animais de alta produção em sistema a pasto, na fase inicial da lactação, o balanceamento de aminoácidos é importante para que essa proteína advinda do pasto possa realmente ser utilizada pelo animal, enfatizando a necessidade do balanço dos aminoácidos limitantes, principalmente lisina e metionina. Assim, nos últimos anos, foram desenvolvidas pesquisas relacionadas à suplementação com metionina protegida e análogos com resultados positivos na composição do leite, aumentando a produção de proteína do leite. (Noftsger et al., 2005; St, Pierre; Silvester, 2005; Rulquin et al., 2006)
Nesse contexto, a maior limitação para as vacas em lactação mantidas nas pastagens tropicais são os níveis energéticos, pela ingestão de energia metabolizável (Santos et al., 2005). Estudos demonstram que a utilização de gordura protegida é uma estratégia para minimizar o efeito de queda do pH ruminal após a ingestão de concentrados com elevados níveis energéticos. Isso acontece porque geralmente a suplementação de concentrado de vacas em sistemas a pasto é feito durante ou após a ordenha, sendo divididos em duas vezes.
Considerando ainda a suplementação energética, uma opção prática é que se divida o fornecimento do concentrado em três vezes, no caso de duas ordenhas. Dessa forma, o animal tem quedas de pH menos acentuadas, com melhor aproveitamento do concentrado e com manutenção da saúde ruminal.
Apesar de um aumento de estudos nessa área nos últimos anos, a nutrição em sistemas de leite a pasto é uma atividade desafiadora. O que se verifica é que na prática existem erros e acertos de manejo nutricional que direcionam decisões de técnicos e produtores. É importante que, baseado nos dados científicos, cada propriedade trace estratégias para que esse sistema possa ser economicamente rentável e que promova a maior produtividade respeitando o conforto e saúde dos animais.
Referências
https://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(12)00800-4/fulltext
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11139/tde-26092011-103336/publico/Lucas_Jado_Chagas_versao_revisada.pdf
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-35982010000100016&script=sci_arttext&tlng=pt
Carnevalli R.A. ;Da Silva S.C.; Bueno A.A.O.; Uebele M.C.; Bueno F.O.; Silva G.N.; Moraes J.P.
Herbage production and grazing losses in Panicum maximum cv. Mombaça under four grazing managements. Trop. Grassl. 2006; 40: 165-176
Giacomini A.A.; Da Silva S.C.; Sarmento D.O.L.; Zeferino C.V.; Souza Jr., S.J.; Trindade J.K.; Guarda V.D.; Nascimento Jr., D.
Growth of marandu palisadegrass subjected to strategies of intermittent stocking. Sci. Agric. 2009; 66: 733-741
Voltolini T.V.; Santos F.A.P.; Martinez J.C.; Imaizumi H.; Clarindo R.L.; Penati M.A.
Milk production and composition of dairy cows grazing elephant grass under two grazing intervals. Braz. J. Anim. Sci. 2010; 39: 121-127
Santos, F.A.P.; Pedroso, A.M.; Martinez, J.C.; Penatti, M.A. Utilização da suplementação com concentrados para vacas em lactação mantidas em pastagens tropicais. In: Simpósio sobre bovinocultura leiteira, 5. 2005, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 2005. P. 219-294