O controle cultural corresponde a adoção de práticas de manejo que determinem a redução da população de cigarrinhas e que melhorem as condições de desenvolvimento da planta forrageira, tornando-a menos sensível ao ataque do inseto.
O ajuste da taxa de lotação é uma das ferramentas de manejo que pode ser utilizada para auxiliar no controle da população de cigarrinhas. Resultados obtidos na Embrapa Gado de Corte mostram que a população de ninfas e adultos diminui com o aumento da taxa de lotação durante o inverno em áreas de Brachiaria decumbens (Tabela 1) e é menor em áreas onde a cobertura morta foi previamente removida (Tabela 2) (Valério & Koller, 1992).
Tabela 1. Níveis populacionais de cigarrinhas (Zulia entreriana), por ocasião do primeiro pico populacional, em pastagens de Brachiaria decumbens cv. Basilisk, submetidas a diferentes taxas de lotação no período seco (maio a outubro). Média das infestações 1979/80, 1980/81 e 1981/82.
Obs: Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 2. Efeito da remoção da cobertura vegetal morta (palha) sobre os níveis populacionais das cigarrinhas (Zulia entreria, Deois flavopicta e Mahanarva fimbriolata) em pastagens de Brachiaria decumbens mantidas durante o período seco do ano (maio a outubro) sob diferentes taxas de lotação animal. Janeiro de 1983 a maio de 1984.
Obs: SR = sem remoção de palha; CR = com remoção de palha
Médias seguidas da mesma letra dentro da mesma coluna e taxa de lotação animal não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Estes resultados parecem ser decorrentes, principalmente, de alterações na estrutura da planta hospedeira e no microclima da pastagem. As plantas mais altas e, principalmente, a palhada formam uma proteção contra ventos quentes (reduzindo a evaporação), altas temperaturas e radiação luminosa, aumentando a taxa de sobrevivência de ninfas. O ajuste do manejo de forma a reduzir as perdas de forragem e o acúmulo de material morto expõem os ovos e ninfas de cigarrinhas a condições menos favoráveis de desenvolvimento, auxiliando no controle da população do inseto.
A determinação do melhor manejo para reduzir a infestação de cigarrinhas, no entanto, não é tão simples. Outros fatores como, por exemplo, a sobrevivência de inimigos naturais precisam ser considerados.
Diversos organismos têm sido citados como predadores, parasitos e patôgenos de cigarrinas (Tabela 3).
Tabela 3. Inimigos naturais das cigarrinhas das pastagens.
Inimigos naturais das cigarrinhas das pastagens
Dentre os inimigos naturais citados, os mais importantes são a mosca Salpingogaster nigra e os fungos, sendo que atualmente apenas o Metarhizium anisopliae apresenta importância para o controle biológico.
O desenvolvimento do fungo Metarhizium depende de condições favoráveis de temperatura e umidade. A germinação dos esporos ocorre em temperaturas entre 18 e 36oC, sendo a faixa ótima entre 25 e 27oC, e umidade superior a 80%. Desta forma, a redução da quantidade de material morto sobre o solo e da altura de pastejo pode prejudicar o desenvolvimento do fungo.
As condições necessárias para o bom desenvolvimento do fungo são, portanto, semelhantes àquelas favoráveis à sobrevivência das ninfas de cigarrinhas. Uma sugestão para se conciliar estas recomendações é adotar-se estratégias de manejo diferentes ao longo do ano.
Valério & de Oliveira (1982) sugerem que, durante o período das águas seja feito um pastejo relativamente mais alto e que o pasto seja rebaixado no final do período seco. Desta forma, os fungos encontrarão um ambiente favorável ao seu desenvolvimento durante o período chuvoso, quando a população de adultos e ninfas de cigarrinhas tende a aumentar, e no início das chuvas, quando os ovos saem do período de quiescência e aparecem as primeiras ninfas, o nível de sobrevivência das ninfas será reduzido.
Comentário MilkPoint: O aumento da taxa de lotação no final do período seco parece uma proposta interessante no sentido de controlar a população de ninfas de cigarrinhas. No entanto, esta estratégia pode trazer alguns problemas para o sistema como um todo. Rebaixando o pasto no final da época seca, o produtor irá iniciar o período das águas com uma baixa disponibilidade de forragem na área, sendo que este período é crítico para a perenidade do pasto.
Em situação de baixa fertilidade do solo, uma elevada pressão de pastejo no início das águas poderá prejudicar a rebrota, determinando a degradação do pasto. Desta forma, essa estratégia deve ser adotada com cautela.