José Roberto Peres
Existe grande diferença no decréscimo de produção de leite e gordura durante o período de calor, entre fazendas de uma mesma região. Parte desta diferença está relacionada ao conforto animal, mas existem boas oportunidades para algumas fazendas ganharem algum benefício de suas formulações de dietas.
A qualidade da forragem, particularmente quando se usa capim ou feno, provavelmente é o fator mais importante para manutenção do consumo e produção de leite. Outros fatores nutricionais que podem ser de grande valia são os tamponantes, alcalinizantes, e o balanço cátion-aniônico da dieta.
Os tamponantes vêm sendo utilizados por anos. Seu uso cresceu paralelamente ao aumento de produção e ao crescimento da quantidade de concentrado fornecido por vaca. Numa revisão de 36 experimentos, Erdman (1988) concluiu que o uso de tamponantes era recomendável especialmente em dietas a base de silagem de milho, mas quando o volumoso era silagem de capim ou alfafa ele não trazia benefício. A produção média de leite nestes estudos era de cerca de 29,5 kg/vaca.dia-1. Alguns autores argumentam que quando teor de fibra da dieta cai abaixo de 20% de FDA (fibra detergente ácido), fica difícil manter um pH ruminal dentro dos limites desejáveis, sem a adição de tamponantes.
A digestibilidade da fibra é diminuída quando o pH ruminal cai abaixo de 6,2. Nocek et. al (1999) observaram variações diurnas em medições de hora em hora e relataram valores de pH variando de 5,8 a 5,3, e valores médios superiores de 6,4 a 6,2. O tamponamento constante iria ser útil na prevenção de baixos níveis de pH em algumas horas do dia. O bicarbonato e o sesquicarbonato de sódio aumentam rapidamente o pH do fluido ruminal nas primeiras 12 horas após o consumo. O óxido de magnésio tem uma resposta mais lenta inicialmente mas continua a promover o aumento do pH até 36 horas após seu consumo.
A taxa de solubilidade das fontes de magnésio varia consideravelmente no rúmen quando o pH ruminal varia de 6,3 a 6,95. A um pH de 2, simulando as condições do abomaso, a maior parte das fontes de magnésio têm sua solubilidade aumentada tremendamente. Em função disso, pode ser especulado que, quando o pH ruminal cai abaixo de 6,3, muitas das fontes de magnésio se tornam mais solúveis e se tornam reagentes após a perda do efeito dos tamponantes sódicos.
Grant e Mertens (1992), observaram que o tempo necessário para início da digestão da fibra detergente neutro (FDN) diminui e a taxa de digestão da FDN aumenta quando o pH aumenta de 5,8 para 6,2 e 6,8. Em outras palavras se tem mais fibra digerida em menos tempo. A adição de amido à fermentações contendo feno de alfafa ou gramíneas aumentou ainda mais o tempo até o início e diminuiu a taxa de digestão. Portanto, é crítico manter o pH ao redor de 6,2 ou mais, para maior digestibilidade da fibra da dieta.
Outro ponto a se considerar em rações para vacas leiteiras em épocas de stress térmico é o balanço cátion-aniônico (BCA), como já foi demonstrado por West et al. (1991; tabela 1). O teor de gordura do leite caiu de 4,2% na época de clima frio para 3,38% durante o clima quente quando o BCA era -11,6 meq/100g. Utilizando a mesma dieta, porém com correção do BCA para +19,1 e +31,2, o teor de gordura do leite apresentou queda bem menor, conforme mostra a tabela.
Sanchez et. al (2000), notou que os efeitos do tamponamento ruminal e sistêmico através de carbonato e bicarbonato não podem ser separados dos efeitos do BCA, uma vez que os mesmos sais afetam ambos os sistemas. Ele reportou que a ingestão de matéria seca foi mais alta quando o BCA [(sódio + potássio) - (cloro + enxofre)] foi entre +17 e +38 meq/100g de matéria seca. A produção de leite foi maior quando o BCA se situou entre +25 e +40. Mencionando os dados de Block ele mostrou que o efeito do BCA variando de +18 a +25,2 meq/100g com a fonte de cátions oriunda de sódio ou potássio (tabela 2). A combinação de sódio e potássio fornecendo o mesmo nível de BCA foi mais efetiva que qualquer dos minerais isoladamente.
Em resumo, a melhora da produção de leite durante períodos de temperaturas altas oferece a um grande número de fazendas uma boa oportunidade para melhorar a produção e a rentabilidade. No entanto mais pesquisas são necessárias nestes assuntos para que se estabeleça com mais propriedade tanto as quantidades quanto os tipos de tamponantes a serem utilizados para se atingir um perfeito tamponamento e BCA.
Tabela 1: Efeito do balanço eletrolítico na produção e composição do leite
Tabela 2: Efeito do bicarbonato de sódio ou carbonato de potássio sozinhos ou combinados na ingestão de matéria seca e produção de leite
Comentário MilkPoint: A adição de tamponantes pode ser importante até mesmo em dietas de animais a pasto, quando a produção e consequentemente a suplementação com concentrados é elevada. Nestes casos muitas vezes uma grande quantidade de concentrado é fornecido em poucas refeições (duas vezes ao dia), o que pode provocar picos de fermentação no rúmen e conseqüente queda do pH ruminal. A suplementação com sódio, e eventualmente potássio é importante no verão devido às maiores perdas destes minerais por sudorese. Isto pode auxiliar na diminuição do stress térmico e na manutenção do nível de produção dos animais. É interessante notar que o mesmo conceito de balanço cátion-aniônico anteriormente discutido para o período pré-parto (vacas secas,) pode ser utilizado para vacas em lactação, com a diferença que no primeiro caso o balanço deve ser negativo, enquanto que para as vacas em lactação este deve ser positivo.
fonte: HINDERS, R. 2000. Several Nutriente factors important to maintain summer milk flow. Feedstuffs, July 10.