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A cultura do milho na produção de leite no Brasil

POR JOÃO RICARDO ALVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/08/2013

7 MIN DE LEITURA

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 Por *João Ricardo Alves Pereira

Os anos 90 foram muito ricos para o Brasil e para a pecuária leiteira. O começo da década foi marcado pela especulação financeira, numa época em que a inflação era de 3% ao dia, os laticínios vendiam o leite à vista e chegavam a pagar os produtores num prazo de 50 dias. Em 1990 a Sunab baixou a portaria 43, que acabou com o tabelamento do preço do leite, pondo fim a um ciclo que durou meio século, ciclo esse que gerou distorções que acabaram por prejudicar a atividade leiteira. Embora a abertura econômica tenha provocado grande desnacionalização das empresas brasileiras e invasão de produtos estrangeiros em nosso mercado, como os lácteos, fazendo com que o país se tornasse pátria mundial desses produtos, por outro lado ela obrigou a atividade a se tornar mais profissional, pois essa é a lei da globalização econômica. Nessa década também foi iniciada a coleta de leite granel, quando a economia brasileira e mundial foram contaminadas pela globalização. A ordem era ser moderno, competitivo, estar preparado para enfrentar a concorrência. Acontece o “boom” da informática e da internet. O Brasil cria o Código de Defesa do Consumidor. A sociedade passa a ter uma postura mais crítica em relação aos produtos que compra. O lançamento do Plano Real, que venceu o dragão inflacionário, levou as empresas de laticínios a buscarem seus lucros mais na parte operacional do que na especulativa (Rubez, 2003).

Ao longo dos últimos 20 anos o setor lácteo passou por diversas transformações e vivenciou momentos distintos. Mesmo nos diferentes ambientes de intervenção a produção sempre cresceu. Somente nos últimos 10 anos a produção de leite cresceu 55% no Brasil. As empresas de beneficiamento de leite estão apostando no crescimento do setor abrindo fábricas com capacidades bem acima do volume processado hoje.

Por ora, as exportações lácteas brasileiras são tímidas. Além da necessidade de alavancar a demanda doméstica torna-se fundamental uma inserção agressiva do país no mercado internacional de leite e derivados. O consumo de leite projetado para 2012 é de aproximadamente 170 litros por habitante, um aumento de cerca de 2% em relação a 2011, porém ainda abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde, de 200 litros per capita por ano.

No entanto, essa expansão contínua da produção de leite cria novos desafios, já que a produtividade em litros de leite/vaca/ano ainda figura entre as mais baixas do mundo (Gráfico 2), com cerca de 1.381 litros. Países como o Uruguai, que se enquadra em 46ª maior produção mundial de leite e a Argentina na 17ª colocação são os países que mais exportam produtos lácteos para o Brasil.

Se avaliarmos o Índice de Captação de Leite Cepea (ICAP-L/Cepea), verifica-se claramente que mesmo em patamares de produção mais elevado ainda é muito expressiva a variação na produção de leite no Brasil. O mês de junho é o de menor produção e dezembro o de maior, o que está associado a sazonalidade da produção de forragem onde, geralmente, se tem em junho o início da estação seca e dezembro o pico estação chuvosa. Assim, é evidente a importância de se armazenar forragem de alta qualidade e aumentar a suplementação concentrada para os períodos críticos bem como para a manutenção de maiores produções dos rebanhos durante o ano.

Gráfico 1: ICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite - Junho/13. (Base 100=Junho/2004)


Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Como opção de volumoso conservado em mais de 70% das propriedades e a principal fonte de energia das rações concentradas, a cultura do milho participa de forma significativa na evolução da pecuária de leite brasileira. A intensificação dos sistemas de produção, para a exploração do maior potencial genético dos rebanhos, e a alta nos preços dos grãos e seus derivados foram fatores determinantes para o aumento dos investimentos dos pecuaristas na produção de milho.

A área plantada de milho no Brasil atingiu mais de 15 milhões de hectares e a produção nacional será recorde este ano. Somadas, as duas safras, verão e safrinha, devem alcançar a marca de 79 milhões de toneladas perante 72,9 milhões colhidas na safra passada, num aumento de 13%. Conforme relatório da Conab a maior parte desse volume será obtida na safrinha. Os produtores podem colher 44,2 milhões de toneladas, com produtividades médias estimadas acima de 5.000 kg/ha, superando em quase 10 milhões de toneladas a safra de verão, colhida no início do ano.

Quanto a nossa eficiência em produzir milho, segundo Peixoto (2011), ficamos estagnados com produtividades ao redor dos 6.000 kg/ha durante anos, poucos agricultores colhiam 7.000 kg/ha. Nos últimos 10 anos, no início dos anos 2000, era raro encontrar lavouras de milho que, na média, alcançassem 9.000 kg/ha. A difusão de tecnologia e o aumento do intercâmbio entre as regiões de maior desenvolvimento tecnológico, provocado pela necessidade de aumentar a rentabilidade e sustentabilidade dos negócios, foram os principais responsáveis por esta maior difusão.

Durante o processo de profissionalização das lavouras de milho alguns aspectos técnicos foram decisivos para a o incremento de produtividade. Entre eles a seleção e plantio de cultivares de milho precoce, como estratégia de antecipar o plantio da safrinha e minimizar alguns efeitos de estresse como estiagem e as geadas; a seleção de híbridos adequados à época de plantio, combinando-se diferentes híbridos, cujas características principais como potencial produtivo, precocidade e defensividade sejam complementares; a adequação da população de plantas; a redução de espaçamento entre linhas, de 90 para 40/50 cm, que tem por objetivo melhorar a distribuição espacial das plantas na lavoura, visando aumentar a interceptação da radiação solar e reduzir a evaporação da água do solo pelo fechamento mais rápido da cultura (Seleme, 2011). Trabalhos de pesquisa evidenciaram que técnicas de manejo de lavoura associando-se redução de espaçamento e população adequada ao híbrido recomendado possibilitaram aumento nas produtividades tanto de silagem de milho como de grãos (Tabela 1).

Tabela 1. Produtividade de híbridos de milho para produção de silagem e grãos em diferentes espaçamentos de plantio.

Fonte: Ensaios realizados pela Fundação ABC em Arapoti - PR

A engenharia genética ampliou os limites do melhoramento da planta de milho. A transferência de genes de uma espécie para outra criou novas possibilidades, conferindo à planta resistência a uma praga, tolerância a um herbicida e até mesmo maior aptidão para enfrentar a seca e o frio. A proteína Bt reduziu a incidência de pragas e aumentou o rendimento de grãos e de forragem por hectare de milho para silagem. Com menos uso de agroquímicos, as silagens se tornaram mais baratas e passaram a ter melhor qualidade. Ademais, os grãos OGMs têm baixa incidência de micotoxinas decorrentes dos danos causados por lagartas, reduzindo o uso de medicamentos e melhorando o desempenho dos animais. Há pesquisas em andamento com genes que melhoram a qualidade nutritiva do milho, aumentando o teor de aminoácidos essenciais, a digestibilidade e a absorção de minerais. Quando esses transgênicos estiverem à disposição do produtor, este desfrutará da redução de insumos e haverá menos emissão de resíduos que, em quantidades elevadas, podem ser poluentes ao solo e à água.

A supersafra de milho colhida no Brasil aumentará a oferta interna do grão e será necessário encontrar espaço na exportação para dar vazão à parte desse excedente. Sem muita tradição nos embarques – o país ingressou nesse mercado há menos de uma década - e com nosso principal concorrente, os Estados Unidos, produzindo mais de 350 milhões de toneladas, não será fácil emplacar o produto brasileiro. A China, segundo maior produtor mundial, deve ampliar as suas compras, o que poderia ser a esperança da cadeia produtiva nacional para auxiliar na vazão da supersafra e tentar garantir liquidez e cotações internas acima do preço mínimo. Contudo, os dois países ainda estudam a assinatura de um protocolo que pode liberar os embarques.

Desde o início da colheita, alguns elos da cadeia produtiva do milho já estão se mobilizando e reivindicando subsídios à comercialização do grão. O apoio é bem-vindo, principalmente ao Mato Grosso, maior produtor de milho safrinha, região onde a oferta é muito superior à demanda. Assim o apoio do governo será fundamental na atual temporada.

Assim, embora muitos descordem, se o estado tem milho para bancar o consumo interno e até para garantir alguns embarques, não seria interessante usar parte desse milho para alavancar setores da produção animal e torna-los produtos de exportação mais competitivos? Eis a questão!


 

JOÃO RICARDO ALVES PEREIRA

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