Sucessão familiar: a transferência para próxima geração

A frase “Pai rico, filho nobre, neto pobre” amedronta muitos produtores que se veem envelhecendo e se questionando como e para quem deixar tudo que foi construído com tanto suor. Em qualquer momento, os negócios administrados por uma família além do patrimônio precisarão ser transferidos para a próxima geração e, é isso que chamamos de sucessão familiar. 

Esse processo de transferência é um passo crucial na continuidade e sustentabilidade dos empreendimentos, pois envolve passagem e troca de conhecimento, além de exigir muita maturidade e acolhimento de uma geração e outra. 

No Brasil, segundo o IBGE, 90% das empresas seguem o modelo familiar. No entanto, 70% não sobrevivem à geração do fundador (filho nobre) e ainda, para aquelas que conseguem, apenas 5% chegam à 3ª geração (neto pobre). Desafiador, não é mesmo? 

No Agro, a sucessão familiar apresenta desafios únicos devido à natureza do setor que envolve a gestão de recursos, partes financeiras, logísticas e técnicas agrícolas. Além, de envolver a forte conexão emocional e histórica das famílias com suas terras e atividades, sentimento o qual pode influenciar todo um processo de sucessão. 

As gerações anteriores tinham poucas opções a seu dispor, não haviam muitas universidades, as carreiras se resumiam a pouquíssimos cursos, os negócios na cidade não eram tão atrativos e estar na terra acabava sendo o único futuro possível para filhos e netos de produtores rurais ao longo dos séculos. Porém, com o dinamismo atual e a complexidade do mundo moderno atrair jovens para encabeçar os negócios de seus pais é um grande desafio.

Como resolver a sucessão familiar no agronegócio? 

Na prática, a sucessão familiar envolve um planejamento cuidadoso e a implementação de estratégias adequadas, veja abaixo alguns pontos que podem ajudar no processo: 

• Comece o planejamento de sucessão o mais cedo possível, para que assim, haja tempo para conversas mais abertas e transparentes entre a família. Dessa forma, é possível que todos expressem seus desejos, preocupações e expectativas. É um tema difícil de ser tocado, pois envolve relações familiares complexas, planejamento de um futuro sem um ente querido, são conversas difíceis mas necessárias. Deixar de falar do assunto não vai resolver, vai apenas postergar mais e mais decisões importantes.

• Avalie os “herdeiros” interessados em assumir a gestão, e considere suas habilidades individuais, experiência, interesse e comprometimento. É válido ressaltar que nem todos precisam estar diretamente envolvidos na prática, alguns podem ter um perfil para área de marketing, recursos humanos e afinidade com a área financeira, por exemplo. O mais importante é a vontade de se aproximar e se capacitar como gestor do negócio. Não se fixe ao fato de um filho psicólogo e não veterinário, por exemplo, estar interessado em levar a fazenda adiante. O ponto crucial é que independente da formação curricular, o herdeiro esteja disposto a se moldar ao negócio e entendê-lo profundamente

• Proporcione oportunidades de capacitação e educação para que os sucessores possam adquirir boas habilidades. Aqui, inclui cursos, treinamentos e estágios, além obviamente de possibilitar o acompanhamento do dia a dia como rodar todos os dias todos os setores da fazenda, descer na ordenha, medicar vacas, tratar vacas, conversar com funcionários. Essa aproximação vai gerar no herdeiro muito mais conexão com a fazenda, funcionários e rebanho. Ninguém aprende a ser gestor numa sala de aula, mas sim no chão de fábrica, no curral, observando tudo e formando suas próprias impressões

• Em vez de uma transição abrupta, considere implementar um plano de transição gradual, permitindo que os envolvidos tenham experiências e assumam responsabilidades progressivamente. Isso pode levar anos e por isso a conversa inicial deve ser precoce. Quanto mais tempo o herdeiro tiver junto a operação e mais situações ele for exposto, mais fácil será ir assumindo funções e se habituando a elas.

• Recomenda-se buscar assistência de profissionais especializados em sucessão familiar e agronegócio. Consultores financeiros, advogados, contadores podem oferecer conhecimentos e orientações valiosas para garantir uma transição bem-sucedida, especialmente quando envolve muitos filhos com diferentes funções Como mencionado nem todos precisam efetivamente estar no dia a dia do negócio, alguns podem entrar apenas como investidores outros como funcionários remunerados no negócio também.

Diante disso, precisamos antes de mais nada, pensar que cada caso é único e o processo de sucessão familiar deve ser adaptado às necessidades e circunstâncias específicas de cada família. Lembre-se que quando jovem você pensava como jovem e agora mais maduro seu pensamento mudou. Acolha, responda as dúvidas, mostre que há ganhos em levar o negócio adiante.

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