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É hora de repensar a cadeia do leite?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 21/03/2022

18 MIN DE LEITURA

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A produção não cresce

Há 8 anos a produção de leite no Brasil está virtualmente estagnada em termos numéricos, embora seja inegável a transformação estrutural que está ocorrendo, como pode ser visto nesse artigo. O levantamento TOP 100 do MilkPoint evidencia que a produção média dos 100 maiores produtores brasileiros saltou de exatos 100,6% entre 2009 e 2020.

Esse cenário é bem parecido para propriedades que hoje não figuram no TOP 100, mas que produzem entre 3 e 10 mil litros/dia. Há um agressivo processo de concentração na produção primária motivado, também, pela saída intensa de pequenos e médios produtores do setor.

Feita esta importante ressalva, após o“boom” ocorrido entre 2000 e 2013, com o aumento e melhor distribuição da renda da população, aliados às medidas de contenção de importações (medidas antidumping, TEC Mercosul e acordos de volume com a Argentina), o setor vem andando de lado em termos de volume, incapaz de lidar com uma realidade em que o motor do consumo fácil não mais funciona. 

O gráfico 1 mostra a comparação do crescimento relativo da soja e do leite. Em 12 anos, a leguminosa cresceu quase 5x mais em produção, quando comparada ao leite. Embora há de se reconhecer que sejam produtos diferentes — soja é voltada para a exportação, não é um produto final e sofre menos interferências dos governos — a comparação serve ao propósito de mostrar que há atividades do agronegócio que prosperaram enquanto o leite se estagnou.


Fonte: Conab e IBGE.

 

Esse crescimento anêmico ocorreu a despeito dos preços ao produtor, corrigidos pela inflação, terem trajetória ascendente ao longo do período. Este aumento dos preços está intimamente ligado ao descompasso entre o crescimento da capacidade industrial combinado com a estagnação da disponibilidade total.

Além disso, a concentração na produção primária fez com que as indústrias (principalmente as grandes) fossem com mais força em busca ao grande produtor, aumentando a diferença de precificação entre o pequeno e o grande, e assim inflando os preços médios de leite no mesmo período.

O fato é que, analisando de forma agregada, o aumento médio de preços ao longo dos anos não tem sido suficiente para ensejar um forte crescimento da oferta que permita abrir de forma consistente o canal exportador.

Uma provável razão foi o aumento dos custos de produção em índices acima da inflação, como mostra o gráfico 2. De fato, custos e preços ao produtor tiveram trajetórias semelhantes, embora os preços tenham tido naturalmente maior volatilidade.

Além dos custos, certamente contribuíram para isso as mudanças estruturais relevantes no campo, a concorrência com outras alternativas de produção agrícola (refletida nos custos de oportunidade da terra, capital e trabalho) e o próprio ambiente de negócios na cadeia do leite ajudem a explicar essa contradição.


Fonte: MilkPoint Mercado, a partir de dados do CEPEA, Embrapa e BCB.

 

 

Exportações ainda são um sonho longínquo

Na ausência do impulso de mercado proveniente do consumo interno, a manutenção do crescimento da produção dependeria de um canal eficiente de exportação para escoar produto com rentabilidade satisfatória na maior parte do tempo.

Mas não é isso o que acontece. Apesar do enorme potencial exportador do país, cuja efetiva materialização é esperada há mais de 20 anos, este ainda não se concretizou. Como durante boa parte do tempo (especialmente de 5 anos para trás) a nosso preço interno é mais alto do que o internacional (gráfico 3), não criamos uma estrutura exportadora consistente que permitisse ampliar a oferta a despeito do panorama de consumo doméstico.

Em alguns momentos, o câmbio ou os preços externos ajudam a equilibrar essa conta, e janelas pontuais de exportação se abrem, mas a própria estratégia concorrencial de atendimento ao mercado interno pelos principais players limita operações volumosas e contínuas. Ninguém quer ceder espaço de gôndola para concorrentes em busca de operações pontualmente mais vantajosas, em um país que não cresce em disponibilidade de leite.

Como resultado, as exportações raramente ultrapassaram os 2% da nossa produção, e nada indica que isso irá mudar se algo na cadeia de fato não se alterar (ou se os preços internacionais não alcançarem um patamar mais alto de forma regular, o que nos faria participar do jogo internacional, assim como outros players marginais, que não competem nos preços históricos do mercado externo).

Vale lembrar, também, que embora os famigerados subsídios à exportação não mais existem, outros países gozam de uma rede de proteção para seus produtores (e muitas vezes, cooperativas e indústrias), que ajudam a conquistar a “competitividade”, o que não ocorre com o Brasil e com outros postulantes, como Argentina e Uruguai. Há, também, medidas tarifárias ainda bastante elevadas aos produtos lácteos e barreiras não tarifárias, muitas vezes sem reconhecimento científico comprovado.

Gráfico 3. Preços do leite no Brasil e no mercado internacional (US$/kg).


Fonte: MilkPoint Mercado.

 

Vale analisar, porém, que não é apenas uma questão de preços relativos. Nossos preços até podem ser equivalentes aos de outros países que são exportadores, como a Nova Zelândia, principalmente nos últimos 5 anos, período em que nos beneficiamos da depreciação do real. Porém, há uma diferença relevante no teor de sólidos do leite, que faz com que o leite neozelandês tenha um rendimento 20% maior do que o nosso, já que tem maior teor de nutrientes e menos água, que é eliminada ou reduzida para a produção de vários lácteos exportáveis.

Também os custos logísticos têm uma significativa influência, já que o Brasil está distante dos principais mercados importadores, como a China e o Sudeste Asiático. Além, disso tudo, há o fato de nunca olharmos o desenvolvimento da exportação estrutural como algo estratégico, setorial.

Por fim, o desenvolvimento de modelos de produção mais intensivos e menos flexíveis do ponto de vista de custo, ainda que ofereçam melhores condições sob o aspecto de melhor uso da terra e do capital, podem concorrer para divulgar a competitividade externa (hipótese). Exportar, para nós, é uma atividade oportunista, interessante quando os preços aqui caem muito, o câmbio ajuda e os preços externos idem.

Pode-se apontar que o caminho do aumento da produção dos grandes produtores competitivos (e que vem crescendo a cada ano), substituindo a produção dos menos eficientes, vai acabar trazendo a tão desejada competitividade internacional a reboque. Porém, vale ressaltar que o diferencial de preços que hoje estes produtores recebem justamente por serem escassos no mercado, tende a se reduzir com um número maior de grandes produtores no mercado. Serão eles capazes de continuar crescendo com preços mais em linha com a média do mercado?

 

Margens em queda

No decorrer dos últimos 10 anos, as margens dos principais derivados lácteos (que representam 65% do total de leite disponível) caíram sistematicamente para a indústria de laticínios. Os gráficos 4, 5 e 6 mostram claramente que, apesar de alguns momentos de alta, a tendência é de redução, o que coloca desafios para a indústria de lácteos.

Gráfico 4. Margens aparentes do leite UHT (valores deflacionados).

Fonte: MilkPoint Mercado.

 

Gráfico 5. Margens aparentes do leite em pó fracionado (valores deflacionados).


Fonte: MilkPoint Mercado.

 

Gráfico 6. Margens aparentes da muçarela (valores deflacionados).


Fonte: MilkPoint Mercado.

 

 

Parte destas margens menores decorre dos aumentos dos custos do leite, como já comentado no gráfico 2, parte decorre das disputas por leite em função da ociosidade das indústrias (um sintoma de que as coisas não vêm bem), e parte decorre do aumento da participação de mercado de canais de distribuição que naturalmente trabalham com preços mais baixos, especificamente os “cash & carry” (atacarejos) — gráfico 7.

Gráfico 7. Participação do canal Cash & Carry no volume total de vendas de varejo de diferentes categorias lácteas – 2017 e 2019.

 

Além da mudança nos canais de distribuição, em algumas categorias o número de players na indústria cresceu bastante — vide leite em pó — tornando a concorrência maior do que antes. Com efeito, os índices de concentração setorial na indústria láctea brasileira apontam para um dos mercados mais fragmentados do mundo — se não o mais fragmentado.

Por fim, é importante notar a migração de diferentes categorias – como leites em pó, leite condensado, creme de leite — para linhas de produto equivalentes, mas com patamares de preço mais baixos (affordable) e utilizando ingredientes lácteos alternativos e outros não lácteos (amidos, gorduras vegetais).

Esta tendência cresce na medida em que decrescem as operações de compra de leite de empresas relevantes, que tem demostrado clara estratégia de direcionar seu portfólio para estas linhas de produtos com ingredientes e formulações alternativas. É a indústria láctea buscando alternativas de melhoria da rentabilidade “fora” do leite. Sem dúvida a deterioração da renda do consumidor nos últimos 7 anos contribuiu para esse movimento, além da elevação de custos da matéria prima e logística de captação.

Vale colocar que não consideramos que as bebidas vegetais tenham efeito perceptível nessa queda de margens, bem como os detratores do leite, tão comuns nas redes sociais. O grande aumento do consumo em 2020, fruto da injeção de renda no bolso do consumidor, mostrou que dinheiro é ainda o principal aspecto que determina a demanda.  Mas a mudança da visão do consumidor e o crescente número de opções de consumo compõem um processo que ocorre e que, gradativamente, pode contribuir para a piora do cenário no médio/longo prazo.

A situação é, portanto, bastante complicada e sugere no mínimo um cenário desafiador para o negócio leite no Brasil. Sem dúvida há empresas bem-sucedidas, seja porque atuam em nichos de mercado, seja porque operam de forma extremamente eficiente ou porque gozam de alguma outra vantagem específica [1] – muitas vezes difíceis ou impossíveis de copiar. Mas mesmo o futuro destas empresas não é promissor se o todo andar para trás. Em algum momento a conta chega até para os melhores, quando a cadeia é incapaz de manter o valor gerado e remunerar de maneira saudável seus agentes.

A conclusão evidente é que a indústria de lácteos nacional, ao menos avaliando os produtos que demandam a maior quantidade de lácteos, tem tido dificuldades de prosperar.

A necessidade de inovação no atendimento a nichos, na melhoria de consistência, sabor e layout de embalagens já deu um salto de qualidade nos últimos dez anos no Brasil, mas ainda está muito longe de atender a demanda de uma nova geração de consumidores.

Um setor que é tão tradicional não aprendeu ainda a lidar com as mudanças de preferências de consumo, canais de venda e valores que o consumidor procura nos nossos processos de produção. Nesse contexto, mais perigoso para o setor que o crescimento no mercado de produtos substitutivos, é a simples redução de consumo por desconexão dos nossos métodos de produção com as tendências comportamentais desses novos consumidores.

Claro, é evidentemente possível que uma nova lufada de consumo, quando a economia melhorar (quando?), nos faça retornar aos momentos áureos de 10 anos atrás, quando o Brasil era visto mundialmente como exemplo a se seguir. Mas mesmo isso trará suas consequências desafiadoras como já vimos no passado, como a valorização da moeda, suscetibilidade às importações e impossibilidade de se exportar.

O ponto aqui é: se não houver uma mudança mais profunda na maneira como a cadeia do leite está estruturada, ficaremos unicamente à mercê das condições de mercado, ora as surfando, ora tomando caldo (ao que parece, cada vez mais a segunda opção).

[1] Aliás, de forma geral, a indústria de laticínios tem uma carga elevadíssima de benefícios fiscais, em todos os estados. Se não existissem os benefícios fiscais, as margens seriam piores ainda. Importante destacar que estes benefícios criam desequilíbrio entre empresas e ineficiência na escala e localização de plantas.

 

Ambiente de negócios fragilizado

A relação indústria-produtor tem sido marcada pela desconfiança e por conflitos constantes. Apesar de toda a gama de informações hoje disponível, tem sido muito difícil colocar todos na mesma foto de mercado e criar um ambiente maduro que reduza os custos de transação e permita focar em uma agenda de mais longo prazo.

A desconfiança gera relações de curto prazo e impede que a cadeia como um todo evolua no ritmo que necessita. Dados de um grande laticínio mostram que 25% dos fornecedores mudam de um ano para o outro, o que implica em teoria em uma renovação completa do quadro de fornecedores em um período de 4 anos. Como realmente criar uma relação de cooperação nesse cenário?

Este ponto é especialmente importante quando se considera que a agenda da cadeia vai incorporar elementos mais complexos, como a questão ambiental, que envolvem monitoramento e certificações, não sendo tampouco algo que se implementa em pouco tempo.

O alto turnover na relação de fornecimento entre produtor e indústria tem conexão direta com o cenário especulativo. Mesmo em um ambiente de mercado comum a todas as indústrias, o leite do concorrente sempre vale mais que o produtor próprio fidelizado, em decorrência de um ágio de compra não sustentado a longo prazo.

Dessa forma, a rotatividade prejudica o ganho comercial das relações fidelizadas e que seguem conceito de parceria: trocou de laticínio, mudou o técnico que assiste ao produtor, mudou a tabela de pagamento por qualidade, mudou a logística, mudaram as formas de pagamento e mudou a parceria em insumos.

Outro sintoma deste quadro é que o nível do diálogo entre produtores e indústrias pouco mudou nesses 20 ou 30 anos. As posturas são basicamente as mesmas de sempre. Há, sem dúvida, algumas exceções de ambos os lados, mas o fato é que, no geral, o setor lácteo funciona da mesma maneira em relação à coordenação há décadas. Falta transparência, confiança e parceria de longo prazo.

Veja por exemplo o conteúdo desse artigo publicado em 2003 no MilkPoint. Agora compare-o com este publicado em 2022, incluindo (principalmente) os comentários. O primeiro poderia facilmente ser publicado com a data de hoje e estaria atual.

As tentativas de trazer mais transparência ao setor, como o aplicativo MilkPoint Radar, sofreram resistência da indústria e de produtores de leite (e acabaram descartadas). Os Conseleites, Cepea, etc são motivo de desconfiança e conflitos entre os elos. Em pesquisa realizada pelo MilkPoint Mercado, 63% das empresas não operam contratos com fornecedores, e dos 37% que operam, 81% o fazem com menos de 20% do leite [2].  

[2] A adoção de contratos indexados depende da existência de indexadores seguros. Em se considerando um mercado que tem nenhuma influência de inteligência nos rumos de preços e estoques e que os indexadores nada mais são do que a fotografia média dos preços de matéria prima gerados em um contexto muito especulado, o contrato acaba tendo um risco de mercado muito alto, limitando o volume contratado por indústria.

 

Risco e retorno

Se alguém está em uma atividade com alto grau de incerteza, sem transparência e com alta volatilidade, o que dificulta ou impede o planejamento de curto e longo prazo, as duas únicas justificativas para se manter na atividade são: a) não ter outra opção e b) ter, na média, uma expectativa de alta rentabilidade que compense os riscos.

Produtores que se enquadram na alternativa “a” representam uma seleção negativa, visto que acabam permanecendo no leite pela absoluta falta de alternativas. É de se supor que são em sua maioria produtores que terão dificuldade de adotar tecnologia e ter a produtividade necessária para permanecer na atividade em uma troca geracional, por exemplo.

A alternativa “b” sugere que o ambiente de negócios incerto aumenta o risco, e um risco maior precisa estar associado a um retorno maior. É um conceito fácil de entender: se você aplica seu dinheiro em uma aplicação de baixíssimo risco, tolerará um retorno menor porque seu dinheiro estará protegido. Se vai aplicar na bolsa de valores, almeja um retorno (de longo prazo) maior porque as chances de perda são maiores.

Se você é dono de uma concessionária de pedágio, com contrato indexado em inflação e com a capacidade de prever o fluxo de veículos com boa precisão, tolerará um retorno mais baixo. Se está em uma atividade de risco, em que pode perder muito, a regra do jogo é ter alto retorno potencial (o investimento em uma startup, por exemplo).

Trazendo para o leite, se o ambiente de negócios é ruim, esse custo extra está em algum grau precificado nos valores pagos pela matéria-prima. Caso houvesse mecanismos de maior previsibilidade, como mercados futuros ou antecipação da informação a respeito do preço do leite, entre outras possibilidades, o produtor teria mais clareza para investir e para organizar sua propriedade. Também, com um ambiente de negócios mais propício, mais capital externo ao setor seria atraído e, com isso, a oferta teria um crescimento mais contínuo e provavelmente ganharia competitividade em termos de custos.

Henry Ford dizia que “se alguém precisa de uma ferramenta e não a compra, acabará pagando por ela de qualquer forma”. Trazendo para o setor, “se a melhoria da transparência e do ambiente de negócios da cadeia do leite é algo necessário, mas custa dinheiro e não é feito, o custo disso virá de qualquer forma”. Talvez de forma pior.

Sem dúvida a produção de leite no campo vem se transformando. Também, é de se reconhecer que há ações de laticínios e cooperativas que contribuíram para isso. Há, também, efeitos de boas políticas públicas como o programa Mais Leite Saudável. Mas é preciso constatar que: a) o estoque de tecnologia disponível e as mudanças estruturais, como aumento da produção/fazenda e aumento dos custos de oportunidade da terra e trabalho (“ou melhora ou sai da atividade”) devem estar tendo um papel mais crucial nesse processo; e b) a despeito da evolução, esta não tem sido suficiente, caso contrário não estaríamos na atual situação.

E por que isso é relevante? Ora, primeiro, a maior parte do custo de um laticínio está na matéria-prima leite. Segundo, porque há provavelmente mais oportunidades de ganhos de eficiência na originação do que na venda de lácteos. Terceiro, porque as mudanças estruturais no campo são profundas e impactam os custos. E, quarto, porque os produtores de leite do Brasil não contam com a rede de proteção que outros países têm (ajuda do governo/subsídios, crédito), sem contar as limitações de infraestrutura, ambos os fatores contribuindo para o aumento do risco do negócio. Em outras palavras, o papel da indústria por aqui é ainda mais importante do que lá fora.

A meu ver, a indústria (como setor) não percebeu as mudanças estruturais, seja no campo seja na distribuição, e falhou em se adaptar no ritmo necessário. Estava preparada para coordenar uma cadeia que funcionava dentro de um outro contexto. A mudança é normalmente gradual, como o sapo que morre na água que ferve lentamente, mas em algum momento a chavinha muda e o que se tem é um cenário diferente do que se tinha; um cenário em que as ferramentas do passado não são mais suficientes.

Um dos caminhos é mudar a maneira de comprar o leite e de se relacionar com o produtor. É possível, por exemplo, antecipar o preço do leite [3] (fora os parâmetros de qualidade e volume?) para o mês seguinte, criando mecanismos contratuais com multa para a perda de produtores nesse período? Considerando as perspectivas de mercado, o mix de produto do laticínio e a estratégia em questão (inclusive regional), é possível utilizar uma ferramenta que permita comprar o produto ainda não entregue, compartilhando parte do risco?

Essa seria uma medida potencialmente interessante, ao criar uma condição melhor de mercado ao produtor, reduzindo os riscos. Produtores estariam dispostos a ganhar um valor em algum grau menor, para ter previsibilidade? Haveria ganhos relacionados a uma maior fidelização, que efetivamente permitiriam desenvolver o fornecedor? Ou, como me comentou um experiente gestor da indústria: “a dor de correr o risco de estar mal posicionado em preço é maior do que a dor da imprevisibilidade?”

Outra possível estratégia disruptiva seria remunerar o produtor em que parte substancial do valor final é paga em função dos resultados da indústria, como um Conseleite customizado. Utopia, ou uma nova forma de transparência que poderia inclusive ser utilizada no marketing ao consumidor?

É importante salientar que isso não irá mudar os fundamentos do mercado. Haverá momentos bons e momentos ruins. O produtor não necessariamente irá ganhar mais (provavelmente até menos, no médio prazo, pela lógica de risco e retorno). Os produtores ineficientes sairão da atividade, como ocorre nos países em que a indústria é mais organizada e tem mecanismos de proteção. O mesmo ocorrerá com as indústrias.   

Como toda a tecnologia disponível hoje, com o mundo 4.0 batendo na porta, seria possível fazer algo diferente do que vem sendo feito. A compra de leite no Brasil funciona basicamente da mesma maneira há décadas. Pode-se digitalizar aqui e ali, mas os fundamentos que norteiam a compra de leite são os mesmos de antes.

Cabe ao elo mais forte assumir a coragem de mudar. Como disse Peter Drucker, “Em toda empresa de sucesso, alguém um dia tomou uma decisão de coragem”. Se essa decisão se mostrar vencedora, os demais seguem e o mercado enfim muda. Resta saber se a indústria está disposta a compartilhar um pouco do risco, apostando em maior  fidelidade, mais estabilidade e na redução do peso do preço do leite como fator (muito) preponderante para a venda. Não é rápido, mas é um caminho, talvez o único. No médio prazo, isso pode se reverter um ambiente de negócios mais saudável, reduzindo o risco, atraindo capital e reduzindo os custos.

Ou, tal qual o sapo, morreremos todos lentamente, como pode-se facilmente concluir ao se imaginar a continuidade dos números apresentados no início desse ensaio.

[3] O pagamento não seria antecipado, mas sim a informação, não afetando o caixa do laticínio.

 

Colaboraram com comentários no texto, questionamentos e insights: Valter Galan, sócio da AgriPoint, Ricardo Cotta Ferreira, empresário, investidor e ex-diretor da Itambé e Sávio Santiago, diretor de originação na UltraCheese.

 

*Fonte da foto do artigo: Freepik

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELO BRANQUINHO PEREIRA

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/03/2022

Fazendo um resumo de tudo que li. Vou opinar : é melhor largar a produção de leite e produzirmos o que está prosperando no país : milho ou soja. Acho que somos proprietários de terras e temos opções! Quem não tem opção é dono de laticínios!
HENRIQUE COSTALES JUNQUEIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 25/03/2022

Marcelo ótima síntese. O tempo, a disciplina e o seu empreendedorismo contribuíram não somente para a sua prosperidade, mas também para a vivência e o conhecimento da cadeia do leite. Obrigado aos autores pelo texto instigante ao pensamento estratégico.

Como evoluímos, não é? Quando entrei na faculdade produzir 58 sacas de milho por hectare seria um bom número. Produzir 25 toneladas/ha de matéria verde para silagem também não seria ruim na época. Quanta tecnologia que veio e que nos trouxe até aqui.

Muito difícil mensurar o quanto, ou como, evoluíram as relações entre produtor e a indústria nos últimos 30 anos. Tive oportunidade, e ainda tenho, de trabalhar em grandes empresas que sempre pautaram a definição do preço pago aos produtores embasada em bons direcionadores de mercado. Também entendo que as negociações foram e ainda são bastante transparentes. O fato é que da forma como operamos, aos olhos do produtor, tem-se a impressão de que é a indústria que dita o preço, mas na verdade ela é direcionada não somente pelas suas expectativas, mas sobretudo da capacidade do mercado em absorver os custos e as ambições dos atores da cadeia. Também é certo que por várias distintas razões quem está na indústria consegue ter uma visão mais clara dos movimentos do mercado comparativamente a maioria dos produtores de leite brasileiros.

Creio ser possível e muito benéfico construir sistemas de precificação, considerando maior e menor risco, que permitam contribuir com uma melhor percepção dos produtores sobre o mercado. Não será uma indústria que fará isso e sim uma pessoa ou algumas pessoas nessa indústria que terão a coragem de romper paradigmas acreditando que isso traria maior sustentabilidade ao seu negócio.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 25/03/2022

Henrique, muito obrigado pelo comentário e elogio. Concordo com você, houve sim uma evolução em muitos aspectos na cadeia. E há indústrias que buscam caminhos mais transparentes. Mas acho que a verdadeira mudança ainda está por vir. Ainda é difícil colocar todos na mesma página. Você está certo: precisa ter coragem de romper paradigmas!
MURILO ROMULO CARVALHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/03/2022

Li, e tive que reler. Parabéns e obrigado pelo excelente artigo Marcelo, cirúrgico como sempre. Saí do Brasil em 2016, mas continuo acompanhando a indústria. Minha percepção é que as coisas deterioraram daqueles anos para cá, e lendo esse artigo fez com que alguns questionamentos que eu tinha ficassem bem mais claros. O leite que progride (ou sobrevive) no Brasil é por aumento acelerado de escala e nichificação. Para esses continuarem crescendo, muitos ainda saírão, similar ao que ocorreu nos EUA nos últimos 20 anos. Nas últimas duas décadas 70% das fazendas desapareceram por lá. No Brasil, nesse ritmo provavelmente teremos menos da metade daqui 10 anos.
Em relação a exportações, concordo totalmente com o que citou. Para muitos, há uma ilusão de que seria a solução dos problemas da cadeia. Vejo como uma ilusão o leite brasileiro, na média, pensar em exportação por fatores semelhantes ao que citou. Tirando certos nichos (de novo, eles) que representam um volume mínimo para um país com o número de vacas do Brasil, o mercado internacional é uma briga de foice contra países que tem vantagens competitivas gigantes, como acesso a crédito, subsídio, políticas de qualidade efetivas, incentivo à maior qualidade, etc. Ao meu ver, tem muito arroz e feijão para ser feito antes do Brasil ser competitivo exportando, como qualidade, produção de sólidos, padronização, certificação, e aspectos legais.
Vejo um desalinhamento muito grande entre consumidor, indústria de processamento, e produtores. Há uma pulverização grande sob todos os aspectos, e parece que as partes estão cada vez mais distantes. Vejo um desafio enorme quando um produtor muda de latícinio quase que mês a mês, enquanto a indústria "roda" tanto seus fornecedores. Como você diz no texto, a dor de "não pegar o melhor preço" é maior do que a dor de ter a segurança garantia de preço. Na minha humilde opinião, isso ilustra bem a cadeia: falta ainda profissionalismo e cooperação nos diferentes níveis. No fim, não adianta culpar um ou outro e não olhar para o próprio umbigo. Há vários exemplos ao redor do país que mostram que essa fórmula funciona e bem.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 24/03/2022

Obrigado Murilo! Muito legal ler o seu comentário. Como sou um otimista, vejo isso como uma oportunidade. Há muito a evoluir, e é importante reconhecer que existem boas iniciativas. Mas sem dúvida não é fácil.
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/03/2022

Na minha visão, como produtor, o artigo representa o ponto de vista da indústria compradora de leite. Não reflete as amarguras do produtor.
Continuaremos , com essa visão, a patinar na escassez de matéria prima.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 23/03/2022

Paulo, obrigado pelo comentário, mas confesso que não entendi. Eu que ponto, na sua opinião, o artigo "representa o ponto de vista da indústria compradora do leite"? O artigo vai justamente no rumo contrário: a indústria precisa rever suas premissas.
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/03/2022

Redimindo-me do erro do comentário anterior, onde deveria inicialmente parabenizar o amigo Marcelo Pereiro pelo excelente artigo, faço agora com as devidas desculpas e correções.
O ano de 2013 foi considerado o ano do leite no Brasil e podia ter sido o ano da virada rumo ao futuro. Tudo porque nunca se falou tanto em leite como naquele ano, tornando-se assunto recorrente na Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e nos Ministérios, com o MAPA lançando o plano "Mais Pecuária", o MDA lançando o "Leite 100" para a agricultura familiar e o Ministério da Fazenda disponibilizando recursos vultosos para a inovação da agricultura por meio do Inovagro. Teve ainda a criação da Aliança Láctea Sul-Brasileira e da Viva Lácteos, formada pelas principais indústrias de laticínios do país.
A transformação era perceptível, os dados expressivos e revelavam um importante fato que vinha ocorrendo lenta e silenciosamente na atividade leiteira nacional: a maturidade dos atores que compunham o setor leiteiro: o seu maior profissionalismo, o que poderia trazer reflexos positivos no futuro. O mais relevante foi os produtores terem mais voz nas decisões e com isso as lideranças se reunirem para repensar a cadeia produtiva em longo prazo, formulando políticas estruturantes com visão nas próximas décadas, substituindo a velha forma de debates conjunturais. A concepção compartilhada das políticas estava cada vez maior, fosse através de câmaras técnicas e setoriais de governo, fosse através de representações de classe. Parecia que ia surgir efeito, tanto que em 2014 o Brasil atingiu o pico de 35 bilhões de litros de leite, produção que está até hoje, a balança comercial de lácteos dava sinal pela primeira vez na história de ficar positiva. Mas, não teve a continuidade esperada. O que faltou? No artigo do MIlkPoint, o amigo Marcelo Pereira de Carvalho, com muita propriedade, explica o que ocorreu neste período.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 23/03/2022

Obrigado Duarte!
MARLEY DE CASTRO

EUSÉBIO - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/03/2022

Excelente artigo! Informativo, com reflexões e argumentos que nos fazem pensar. Riscos e oportunidades, Forças e fraquezas estão postas. Quem está disposto a inovar para manter a competitividade e rentabilidade. E por que não dizer, crescer.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Marley!
COOPERATIVA DOS PRODUTORES DE LEITE DE ESMERALDAS LTDA

ESMERALDAS - MINAS GERAIS

EM 22/03/2022

Marcelo, excelente trabalho que devemos estudar refletir e utilizá-lo como produtor ou indústria do leite.
Parabéns.
Vamos trabalhar na ideia do produtor ter o preço de leite antecipado assim terá como projetar o negócio.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado André, muito bom receber seu comentário!
COOPERATIVA DOS PRODUTORES DE LEITE DE ESMERALDAS LTDA

ESMERALDAS - MINAS GERAIS

EM 22/03/2022

Marcelo, como sempre apresentando trabalhos importantes, úteis para o produtores e industrias do leite, mas este foi o melhor creio Eu. Parabéns.
Vamos trabalhar para que o produtor tenha o preço a receber antecipado há solução.
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 22/03/2022

O ano de 2013 foi considerado o ano do leite no Brasil e podia ter sido o ano da virada rumo ao futuro. Tudo porque nunca se falou tanto em leite como naquele ano, tornando-se assunto recorrente na Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e nos Ministérios, com o MAPA com o lançamento do plano "Mais Pecuária", o MDA com o lançamento do "Leite 100" para a agricultura familiar e o Ministério da Fazenda disponibilizando recursos vultosos para a inovação da agricultura por meio do Inovagro. Teve ainda a criação da Aliança Láctea Sul-Brasileira e da Viva Lácteos, formada pelas principais indústrias de laticínios do país.
A transformação era perceptível, os dados expressivos e revelavam um importante fato que vinha ocorrendo lenta e silenciosamente na atividade leiteira nacional: a maturidade dos atores que compunham o setor leiteiro: o seu maior profissionalismo, o que poderia trazer reflexos positivos no futuro. O mais relevante é os produtores terem mais voz nas decisões e com isso as lideranças estarem se reunindo para repensar a cadeia produtiva em longo prazo, formulando políticas estruturantes com visão nas próximas décadas, substituindo a velha forma de debates conjunturais. A concepção compartilhada das políticas estava cada vez maior, seja através de câmaras técnicas e setoriais de governo, seja através de representações de classe. Mas, não teve a continuidade esperada. O que faltou?
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Duarte, obrigado pela ótima contribuição. Acho que faltou justamente a continuidade que você mencionou. Talvez, em parte, porque a situação não estava tão complicada como está hoje. Também, a questão é que mudar dá trabalho, envolve riscos. Nem sempre há um real interesse nisso. E mudar um setor demanda uma visão de longo prazo dos agentes, o que é muito difícil em um setor heterogêneo e fragmentado. Sem falar que, no Brasil, tem sido difícil olhar o longo prazo.
ANTÔNIO CARLOS GUIMARÃES COSTA PINTO

LUZ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/03/2022

Na soja e no milho, na hora de plantar você pode travar o preço antes, mesmo que depois suba, mas definido um preço, você saberá se vale a pena plantar ou não. Agora no leite, a gente só fica sabendo do preço após 50 dias da venda do leite. Só depois disso , tomamos uma ação. E as vezes já é tardia
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

É verdade Antônio. Vários países estão trabalhando instrumentos de previsibilidade e proteção, como mercados futuros. Esse seria um caminho. Obrigado pelo comentário que enriqueceu o debate.
ANTÔNIO CARLOS GUIMARÃES COSTA PINTO

LUZ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/03/2022

Parabéns. Brilhante texto. É isso. Nós produtores estamos trabalhando sem um horizonte, como investir numa atividade que temos a certeza da queda do preço recebido e sempre do aumento dos custos?
Com um contrato de leite haveria previsibilidade, a gente teria condições de investir ou mesmo, decidir sair da atividade. Do jeito que está, a gente se mantém daquele jeito. Quando o preço sobe, a gente aperta as tetas, quando caí, solta os bezerros. E os laticínios agindo como agiam no século passado. Os seus representantes não têm coragem nem de passar o preço pelo ZAP. E ainda pedem para não comentar o preço com outros produtores. E quando aparece um funcionário um pouco mais transparente, que te passa alguma informação, eles logo mandam embora
PEDRO LUIZ NUNES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/03/2022

Parabéns pela análise, ótima reflexão, que mostra as incertezas da nossa atividade, com remotas possibilidades de exportações, ameaçados pelas importações e pela fragilidade do mercado interno. Resta a cada um de nós produtores, termos a máxima eficiência dentro da fazenda, e lutar por uma indústria mais parceira.
Sem dúvida, o cenário é obscuro.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Pedro, concordo contigo. Abraço!
CARLOS ESTIVALET JR

DOIS VIZINHOS - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/03/2022

Excelente abordagem! Parabéns.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Carlos!
DAVID BROAD

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 22/03/2022

Muito bom Marcelo. Um resumo completo da situação difícil. Comento que a exportação não é um caminho para Brasil, por duas simples razoes. Uma foi bem relatada na reportagem - o Brasil está longe de ter a estrutura e eficiência para isto. E a segunda obvia explicação (nao relatada, e mal entendida no Brasil) é que o mercado internacional e um péssimo mercado! La, vai competir contra sistemas de baixíssimo custo de produção, como o da Nova Zelândia, e vai competir contra dumping de produção subsidiada dos EUA e da EU. O mercado internacional é o vaso sanitário para os produtores americanos e europeus. Esquece o mercado externo. Temos 200 milhões de consumidores aqui, com um dos maiores preços de leite do mundo. So basta ter consumo, que precisa de uma politica econômica que funciona. 10 anos sem crescimento de PIB foi um desastre para todos.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado David. Eu também tenho essa visão sobre o mercado externo hoje. Tanto que nosso preço via de regra é maior do que o internacional. A questão que permanece em aberto é se temos condições de produzir com eficiência (considerando as fazendas + fretes + indústria), a ponto do mercado externo, em algum momento, poder ser um canal rentável. Hoje, certamente isso não ocorre e as exportações são ocasionais, e pequenas.
VIVIAN NOTHEN

COQUEIROS DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/03/2022

Até que em fim uma publicação falando da verdadeir a realidade do mercado do leite parabéns ou mudamos todos ou acabamos todos e um puxando o outro pro buraco
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Vivian.
WAGNER BESKOW

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 21/03/2022

Parabenizo Marcelo e colaboradores citados ao final pelo excelente artigo. Espero que provoque reações na cadeia como um todo, é o que precisamos. Grande abraço.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Wagner, grande abraço!
MARCELO BRANQUINHO PEREIRA

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/03/2022

Esclarecedor , o artigo , parabéns Marcelo. Penso que as mudanças necessárias ao setor estão relacionadas à exportação! Imagina se não exportássemos SOJA , como estariam as escalas dos produtores e indústrias , estariam semelhantes ao leite , decadente com certeza ! A pergunta seria não Exportamos porque não temos produção ou não temos Produção porque não exportamos ! Com esse modelo de precificaçao nunca teremos produção, isso é um fato comprovado nos últimos 8 anos. Diria 9 anos pois este ano também não vamos crescer ! Imaginemos se a produção aumentasse no período como ocorreu com a SOJA ( 5x). Pense na escala dos laticínios, será que estariam com essa baixa rentabilidade? Com esse enorme crescimento em escala!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Marcelo! Essa é uma discussão bem longa e complexa (veja o post do David Broad). Acho que exportações são consequência de uma série de coisas: ambiente de negócios mais favorável; melhor infra-estrutura; escala de produção; aumento do teor de sólidos; uso das vantagens comparativas que temos para produzir. Aí sim podemos sonhar em exportar. O mercado externo é complicado, como o David colocou.
JOÃO RICARDO ALVES PEREIRA

PONTA GROSSA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 21/03/2022

EXCELENTE! Penso que os produtores precisam se organizar em modelos de associativismo (cooperativas?), ganhando força e competitividade para participar desses novos "modelos de negócio " que de alguma forma virão!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Mestre! Há bons exemplos de cooperativas, principalmente no Sul do país, onde elas conseguiram prosperar mesmo com a abertura de mercado. Mas não sei o caminho como um todo é esse. Acho que faz parte da solução, mas acredito que a indústria deveria analisar o cenário atual e pensar em novas formas de se relacionar. Até para ter leite.
RONEY JOSE DA VEIGA

HONÓRIO SERPA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/03/2022

Urge a indústria ter melhor relacionamento com o varejo! Já ouvi de agentes vendedores das indústrias como a negociação de valores com o varejo é conflituosa, ruim!! E a corda sempre arrebenta do lado do produtor! Afirmo que o varejo ganha muito! Tem ainda a questão tributária, pois o Brasil é um país rico cheio de pobres, mas que tributa alimentos da cesta basica, isso é absurdo!! E acredito que não exportamos mais pelo simples fato de termos déficit de produção paraxatender mercado interno!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 22/03/2022

Obrigado Ronei, realmente o varejo parece não fazer parte das discussões (e efetivamente não faz). A indústria tem dificuldade de confrontar o varejo, já que depende dele para escoar seu produto. É o seu cliente, afinal. O varejo acaba sendo o mocinho da história (para o consumidor), o que é equivocado e muito ruim.

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