Zurita se mostrou bastante otimista com o potencial do Brasil como produtor e exportador de leite. "O destino do Brasil é ser o maior produtor de leite do mundo", disse. Segundo Zurita, dos maiores produtores mundiais hoje, apenas o Brasil tem potencial de crescimento e competitividade mundial.

Zurita falou também do potencial exportador do Brasil. Ele informou que, em 2004, a empresa respondeu por 55% das vendas externas de lácteos brasileiros e fará do Brasil seu pólo de exportação desses produtos na América Latina.
Em 2004 o Brasil embarcou o equivalente a 600 milhões de litros em produtos lácteos para países da África e América Latina, entre outros. Para este ano, a perspectiva é exportar também para o México, que acaba de fechar acordo sanitário com o governo brasileiro. O novo mercado estimulará investimentos por parte da Nestlé no Brasil. "Nosso mapa de exportação prevê uma fábrica só para atender o México", disse Zurita.
O executivo descartou uma suposta resistência por parte da Nestlé mexicana à importação dos lácteos brasileiros, conforme foi relatado por Vicente Nogueira, da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios, durante o debate. Nogueira participou, com governo e iniciativa privada, das negociações para abertura daquele mercado.
Os planos de crescimento da empresa para o Brasil são consideráveis. Segundo Zurita, a meta é crescer de 13 a 15% ao ano e, para isso, o ideal é transformar a curva de produção em uma reta. A empresa captou 1,5 bilhão de litros no ano passado e pretende crescer 13,5% a captação nesse ano.
Mercado interno
Apesar do potencial do mercado de exportação, Zurita reconheceu que há grandes possibilidades de desenvolver o mercado interno. "Cerca de 95% das nossas vendas hoje são feitas no Brasil", informou. Ele também disse que a empresa está desenvolvendo projetos para população de baixa renda, em escolas, e que acredita na necessidade do marketing institucional, inclusive para a exportação. "Temos de pegar o exemplo do café da Colômbia. O Brasil é o maior produtor do mundo, mas é a Colômbia que consegue os melhores preços, em função de um trabalho de marketing muito bem estruturado", disse.

Para Zurita, no entanto, o marketing de lácteos tem de ser acompanhado da melhoria da qualidade. "Não se pode fazer propaganda de um atributo que seu produto não tem", alerta. A necessidade de implantação da IN 51 foi abordada por todos os participantes.
Crescimento
Além da fábrica para atender o México, a Nestlé também anunciará na próxima semana uma nova unidade no Nordeste. Lá a empresa produzirá lácteos, cereais e outros produtos. Conforme Zurita, a Nestlé também está "prospectando" as regiões Sul e Norte para implantar novas indústrias. Hoje a companhia tem 26 unidades no Brasil. "A cada 3% de crescimento, temos de fazer uma nova fábrica", disse o executivo, que estimou um aumento de 8% no faturamento do grupo este ano, para R$ 11 bilhões.
Xico Graziano, ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, ponderou no debate, no entanto, que o caminho do Brasil para se tornar o maior exportador mundial ainda é longo. Enquanto a Nova Zelândia exporta quase a totalidade de sua produção de 11,3 bilhões de litros, o Brasil embarcou cerca de 600 milhões de litros em 2004.
E esse caminho implica enfrentar os subsídios europeus e alcançar mercados como a China. No país asiático, o consumo de leite cresce 26% ao ano, o que significa 60 mil toneladas adicionais de leite em pó, e o volume per capita é de apenas 29 litros por habitante/ano, bem abaixo dos 129 litros do Brasil, segundo Zurita. A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo de 180 litros.

Para Graziano, é importante também que o produtor cresça junto. "De nada adianta ser o maior do mundo se o produtor não estiver ganhando", disse.
Diante desses números, Zurita vê grande potencial de consumo na China, que não tem área para expandir sua produção de leite. Mas Graziano, que defendeu a negociação de acordos bilaterais para ampliar as vendas externas de lácteos, avalia que a China não resolverá o problema dos excedentes de oferta no Brasil, que derruba os preços do leite ao produtor. "Precisamos de uma política de incentivo do consumo de leite também no mercado doméstico".
Fonte: MilkPoint e Valor (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe MilkPoint