O mercado de leite nunca foi estável. Estamos somente passando por mais um dos momentos de turbulência, com preços dos insumos altos e uma incerteza ainda maior do que virá pela frente.
Ano a ano produtores vêm sentindo as margens se estreitando, e a profissionalização do setor se torna cada vez mais necessária. Já não há mais espaço para amadores na pecuária leiteira. O produtor deve administrar sua propriedade como uma empresa, desde a gestão da mão de obra ao controle dos custos de produção.
O tão falado aumento de escala pra suprir essas margens menores é bem diferente de aumentar a produção a qualquer preço, ela deve sim acontecer, porém, com planejamento e custos equilibrados. Para isso, é fundamental o acompanhamento de profissionais do setor, agrônomos, zootecnistas e veterinários.
Mostraremos a seguir o caso de 16 fazendas que foram acompanhadas pelo PDPL (Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira – UFV) em uma parceria junto à CCPR nos municípios de Entre Rios, Desterro de Entre Rios, Conselheiro Lafaiete, Carandaí e Coronel Xavier Chaves, todos entre as regiões do Campo das vertentes e Zona da Mata em Minas Gerais.
O projeto teve início em Abril/2019 e tinha duração de 2 anos. Durante esse tempo os produtores tiveram visitas regulares de veterinários, agrônomos, zootecnistas e dos estagiários dessas três áreas.
Inicialmente foi realizado um diagnóstico completo das situações técnica e financeira e posteriormente as metas foram traçadas para cada setor. A cada visita, além do trabalho técnico dentro da fazenda, havia coleta de dados zootécnicos e econômicos para gerar indicadores de monitoramento para uma tomada de decisão mais assertiva. Os resultados alcançados foram excelentes!
Na média a produção das fazendas saltou de 561 para 805 L/dia (aumento de 43,5%) e produção por vaca de 14 para 18,5 L/dia (aumento de 32,8%). Na qualidade do leite, a CCS teve uma queda de 28,2% (560 mil para 402 mil/cél./ml) e CBT de 91,1% (441 mil para 39 mil UFC/ml).
Quanto aos números econômicos, vejamos alguns gráficos a seguir:
Gráfico 1
Reparem que, na média, o gasto com a MDO (mão de obra) sobre a renda bruta já era baixo (ideal até 15%). Isso é explicado pelo fato de grande parte dos produtores possuírem uma importante participação da MDO familiar*. Ainda assim, devido ao aumento da produção e consequentemente da renda, esse custo foi diluído e houve uma queda significativa.
*Em nossa metodologia a MDO familiar entra como custo fixo e não como custo variável como a MDO contratada, já que não há desembolso direto.
Gráfico 2
Importante componente no custo de produção, o gasto com volumosos foi trabalhado principalmente em 2 setores: introdução de volumosos alternativos para animais de menor produção (Ex. Capim capiaçu e cana de açúcar), e aumento da produção por hectare do milho para silagem.
O acompanhamento agronômico das lavouras, desde o planejamento da quantidade a ser plantada, análise de solo, recomendação de adubação, controle de pragas e plantas daninhas, ponto certo de colheita, etc, são importantes fatores para o sucesso na produção de volumosos.
Vale lembrar que “economizar” com insumos para formação e manutenção da lavoura não irá diminuir o custo por tonelada ou hectare, pelo contrário, a menor produtividade fará com que o preço final da forrageira ficará maior.
Gráfico 3
Apesar de um pequeno aumento no gasto com concentrado, devemos considerar como uma conquista, já que no mesmo período o milho teve um aumento de 108% e a soja de 114%.
Gráfico 4
Mesmo em um período com alta nos insumos os produtores conseguiram diminuir a relação do COE (Custo Operacional Efetivo, que são os desembolsos diretos na atividade) sobre o preço do leite.
Gráfico 5
Esse indicador nos mostra o quanto a empresa consegue transformar o capital empatado em renda. No caso, essas fazendas conseguiram aumentar a produção e a receita sem a necessidade de altos investimentos em benfeitorias e maquinários.
Gráfico 6
E finalmente o indicador que nos mostra qual é o rendimento da atividade sobre todo o capital que foi investido. É o ideal para comparar diferentes atividades, desde que seja usada a mesma metodologia de custo de produção.
Nesse caso estão contemplados todos os custos variáveis e fixos, ou seja, desembolsos diretos (concentrado, volumoso, medicamentos, MDO, minerais, combustível, energia elétrica, etc.) e também a MDO familiar e depreciação de benfeitorias, máquinas, forrageiras não anuais e de animais de serviço. O capital empatado contém máquinas, equipamentos, benfeitorias, animais e também o valor total da terra utilizada.
Importante salientar que os resultados alcançados foram fruto do esforço de 4 setores envolvidos: PDPL (técnicos e estagiários), CCPR (apoio e subsídio aos produtores), Colaboradores das fazendas (que estão diretamente na lida diária) e os próprios produtores, que acreditaram na consultoria técnica e quiseram sair da inércia e evoluir na pecuária de leite.
Sozinhos, nem o produtor nem o consultor conseguem sucesso. O papel do consultor é imprescindível pra levar tecnologias, treinar os colaboradores, gerenciar dados para conseguir o aumento na produção com custo equilibrado. Em contrapartida, de nada adianta um ótimo consultor ou equipe de consultores, se o produtor não abraçar a causa e quiser mudar para prosperar na atividade.
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