Apesar de não se tratar especificamente de conservação de forragens, achamos interessante discutir um pouco sobre essa importante alternativa de conservação de grãos na propriedade, enfatizando mais os aspectos da ensilagem propriamente dita.
Ultimamente muito se tem falado sobre silagem de grãos úmidos de milho, a qual está sendo cada vez mais utilizada no Brasil, principalmente na região Sul (Paraná), permitindo aos produtores estocar os grãos em suas propriedades de uma maneira prática, econômica e sem alterar os valores nutricionais do milho.
Recentemente seu uso vem se expandindo também na região Centro-Oeste, principalmente em novos projetos com produção de leite e carne. É indiscutível a importância do valor nutricional do grão de milho na alimentação de suínos, aves, bovinos de corte e leite, principalmente como fonte de energia.
Entretanto, também a proteína contida no grão de milho tem merecido estudos dos nutricionistas, pois representa ao redor de 25% da proteína bruta consumida pelos suínos e aves. Esta técnica vem sendo usada para suínos há mais de 20 anos, e, desde a década de 90, para bovinos leiteiros.
Essa modalidade de silagem representa uma redução de custos na alimentação animal que pode chegar, segundo NUMMER FILHO (2001), a 20-30% no caso da bovinocultura de corte, 20% na bovinocultura de leite e de 15 a 25% na suinocultura.
Conceitos básicos
Por definição, é um processo de ensilagem em que estocamos somente os grãos da planta de milho. A colheita é feita com colheitadora convencional e deve ser realizada quando a umidade dos grãos estiver entre 30 e 40%.
Após a colheita, os grãos devem ser moídos finos (suínos), quebrados ou laminados (bovinos de corte e leite e ovinos), com o objetivo principal de favorecer a compactação. Os grãos devem ser armazenados em silos tipo bunker, trincheira ou bag's, bem compactados e cobertos com lona plástica preta ou de dupla face.
A silagem de grãos úmidos é uma ótima opção para armazenar grãos de milho por longos períodos, com baixo custo e, principalmente, mantendo o valor nutricional. Armazena-se em média, 1.000 a 1.200 kg de grãos úmidos por metro cúbico de silo. Uma silagem de qualidade depende da escolha de híbridos que apresentem grãos sadios e alto valor nutricional.
Podem se utilizar dessa técnica todos os produtores pequenos, médios ou grandes, que tenham criação de ruminantes (bovinos de corte, leite, ovinos e caprinos) ou monogástricos (suínos), visando realizar a integração agricultura-pecuária na sua propriedade, agregando mais valor ao produto final.
Tanto para suínos e aves, onde o milho representa aproximadamente 60 a 75% dos ingredientes da dieta, quanto em bovinos, onde perfaz aproximadamente esse mesmo percentual, só que do concentrado, qualquer efeito na qualidade ou custo deste ingrediente, afetará significativamente a resposta animal e os seus custos de produção.
Dados do Centro de Tecnologia da Pioneer indicam valores de 10,5 a 11% de PB e 85% de NDT para os grãos úmidos contra 8% de PB e 78% de NDT para o milho seco fornecidos às indústrias para produção de rações, o que pode significar, segundo KEPLIN (1997), em até 18% de aumento de produção de leite.
Ponto de colheita
O ponto de colheita é determinado pela umidade dos grãos, entre 30 a 40%, sendo que os melhores resultados parecem ser obtidos com valores entre 32 e 35%, segundo NUMMER FILHO (2001). O ponto de colheita pode ser identificado pela camada preta na base dos grãos no meio de diversas espigas colhidas ao acaso no interior da área, ou através de estufas ou equipamentos para determinação da umidade.
Desta forma, a colheita pode ser antecipada em 3 a 4 semanas, permitindo ao produtor antecipar o plantio da próxima cultura, seja ela feijão, sorgo, soja, etc., melhorando a eficiência de uso da área, com melhores respostas econômicas dentro do processo produtivo. Conforme dito anteriormente, a colhedora é a mesma da colheita tradicional do milho.
Compactação e armazenamento
Tanto o transporte, quanto a moagem e a compactação devem ser feitas de forma rápida e eficaz para evitar o início da deterioração aeróbia, seja dentro das carretas ou nos silos. Para moagem pode-se utilizar diversos tipos de moinhos disponíveis no mercado, ou até as próprias colhedoras de forragens adaptadas para quebrar os grãos, normalmente suficiente para utilização dos grãos na dieta de ruminantes.
Pode-se também laminar ou amassar os grãos utilizando cilindros com distância pré-determinada, de forma que seja rompida a estrutura dos grãos. A compactação pode ser feita com tratores e tem fundamental importância no resultado final da silagem.
A compactação deve proporcionar uma densidade mínima de 900 kg / metro cúbico, sendo o ideal, 1.100 a 1.200 kg. Qualquer tipo de silo pode ser utilizado, preocupando-se apenas com a facilidade de enchimento e descarregamento, além do correto dimensionamento com as exigências diárias de uso.
Esse último aspecto é de fundamental importância, apesar de normalmente ser relegado a segundo ou terceiro plano, ou até desconsiderado. O tempo de armazenagem da silagem depende da compactação e da vedação do silo. Um silo bem vedado pode manter os grãos por vários anos, porém a recomendação é que se armazene quantidades para uso em no máximo dois anos.
O fechamento é geralmente feito com lonas pretas comuns, porém face a baixa qualidade destas e do alto valor do produto armazenado, tem-se recomendado o uso de lonas mais grossas, que apesar de mais caras, podem ser reutilizadas por até 4 anos, tornando viável o seu uso. Durante o fechamento do silo é de fundamental importância a retirada do ar que está sob a lona, utilizando-se pneus velhos, areia, terra, tijolos, etc.
Utilização
Após a abertura do silo, aproximadamente 30 dias após o fechamento, ou até menos, dependendo da qualidade das tarefas executadas durante a ensilagem, o produtor deve retirar uma camada mínima de 10 cm. No entanto, deve-se preferencialmente dimensionar os silos para atingir 15 a 20 cm, fornecendo-se aos animais no mesmo dia, evitando-se armazenar este produto após a sua retirada do silo.
Vantagens e desvantagens do uso desta técnica
Vantagens: não existem taxas e impostos; não há transporte do produtor para a cooperativa ou fábrica de rações e vice-versa; não existe desconto de umidade, impurezas e grãos ardidos; os custos de armazenamento podem ser minimizados pela estrutura disponível na fazenda, não sendo mais pagos para terceiros; a colheita é antecipada em 3 a 4 semanas; há redução das perdas pelo ataque de roedores, fungos, carunchos e traças; seu custo independe do preço de mercado.
Desvantagens: são a dificuldade ou impossibilidade de comercialização e a necessidade de preparo diário da dieta aos animais. Para ruminantes, isso não se constitui necessariamente em desvantagem já que a ração é preparada e fornecida diariamente, diferentemente de aves e suínos.
Comentário do autor
"Para que haja sucesso nessa atividade se faz necessário praticar os mesmos princípios que temos enfatizado em diversos artigos aqui publicados. Precisamos ter uma visão de todo o sistema, conseguindo-se altas produções de grãos, sadios e de alto valor nutritivo.
A fase de colheita e enchimento dos silos é apenas uma fase, propriamente denominada de ensilagem. Por fim, o descarregamento adequado e um correto balanceamento das rações vão garantir realmente a redução de custos com manutenção ou até aumento do desempenho animal, tanto em bovinos de corte quanto em leite.
A técnica de ensilagem é relativamente simples, mas devemos sempre tentar maximizar a expulsão do oxigênio no menor tempo possível, e mantê-lo assim durante o período de armazenamento, já que o processo de fermentação é anaeróbio. Quanto mais seco estiver o milho (menos que 35% de umidade), mais a moagem deverá ser fina para garantir uma boa compactação. Ruminantes devem receber uma moagem mais grosseira, porém sem atrapalhar a compactação.
Parece haver um consenso generalizado da necessidade de uso de inoculantes bacterianos específicos. Acreditamos ser uma técnica que deve ganhar espaço nos próximos anos, principalmente com a introdução de equipamentos para laminação / trituração dos grãos.
Também achamos interessante salientar que essa técnica também pode ser utilizada para grãos de sorgo, girassol, e outras culturas, apesar do comum ser a utilização dos grãos de milho, de reconhecido superior valor nutritivo.
Fonte
NUMMER FILHO, I. Silagem de grão úmido. Pork World. Ano 1, 2. Set/out, 2001, p.38-42.
CAMPOS, V. Silagem de grão úmido é boa opção para o rebanho. Balde Branco, junho, 1997, p. 24-27.