Vaca feliz já é conhecida, agora vem aí a vaca verde, amiga do meio ambiente e que promete calar os ecochatos de plantão. Muito se fala na produção de leite Carbono zero, pegada de Carbono e redução da emissão de gases do efeito estufa no rebanho. A ideia final é diminuir a quantidade de Carbono que sai da terra e se perde na atmosfera em suas diversas formas. Mas sem primeiro entender o problema e depois ter o planejamento correto, o progresso da produção zero carbono será uma luta difícil.
No Reino Unido, os produtores realizaram um levantamento genético baseado na emissão de carbono como parte do seu esforço rumo ao carbono zero. E através dela concluíram que melhorar a genética é a maneira mais barata e eficaz de fazer mudanças permanentes e de longo prazo no desempenho de um rebanho leiteiro.
Através dos dados coletados foi criado o Enviro Cow (tradução: vaca ambiental). Um índice genético, lançado pelo Conselho de Desenvolvimento da Agricultura e Horticultura (AHDB) do Reino Unido em 2021, projetado para refletir o importante papel que a genética e o melhoramento desempenham na melhoria da eficiência ambiental da produção de leite.
O primeiro índice genético independente do mundo a se concentrar exclusivamente no melhoramento de vacas por suas credenciais ambientais foi o EnviroCow. As características observadas das 475.000 vacas estudadas incluíam:
-
Rendimento de leite corrigido para sólidos -gordura e proteína (FPCM) ao longo de suas vidas
-
Número de lactações
-
Peso adulto (derivado de representações, pois o próprio peso vivo não é registrado rotineiramente)
-
Estatura (quando disponível)
Essas são todas as características conhecidas por influenciar o consumo de matéria seca (CMS), seja para crescimento, manutenção ou produção.
O CMS, afeta a produção de metano entérico – em outras palavras, as emissões produzidas diretamente através da fermentação microbiana no rúmen. Usando valores publicados que relacionam CMS com emissões entéricas, é possível prever as emissões totais de cada animal.
A razão pela qual a pegada ambiental é baixa por litro é porque essas vacas com índice EnviroCow mais alto têm, em média, maiores rendimentos de vida útil de leite, uma idade ao primeiro parto mais jovem, mais lactações e maior expectativa de vida e, portanto, oferecem uma excelente combinação de características necessárias para uma produção leiteira eficiente.
As linhas inferiores da tabela (Tabela 1) mostram, em média, as vacas mais altas e pesadas, com idade ao primeiro parto tardia e menor expectativa de vida. Esses animais duraram apenas 2,57 lactações, em média, e são projetados para produzir 12% mais metano do que a média por kg de leite. Calcula-se que as 10% melhores vacas Enviro Cow produzem 21% menos emissões de metano do que as 10% inferiores
Tabela 1. O grupo total foi dividido em 10 e o desempenho médio ao longo da vida dos animais em cada grupo, incluindo a produção de metano:
Embora as emissões entéricas de metano sejam o maior contribuinte de gases de efeito estufa na pecuária leiteira – respondendo por cerca de 45% das emissões totais da fazenda – elas são apenas parte do cenário. A quantidade de ração comprada ou cultivada carrega sua própria pegada de carbono, seja por meio de fertilizantes, combustível ou outros fatores, e a quantidade de esterco e suas emissões associadas também impactam no cenário.
O EnviroCow está funcionando exatamente como planejado, mas o fato de que vermos a extensão dos benefícios na prática, esperançosamente, irá encorajar os produtores a garantir que selecionem seus touros de serviço com uma pontuação alta para este índice.
Esta é a primeira vez que o EnviroCow foi comparado ao fenótipo da vaca, demonstrando a ligação entre este índice genético ambiental e o desempenho real registrado das vacas na fazenda. E essas descobertas fortalecem a evidência de que o uso do EnviroCow ao fazer seleções de touros leiteiros ajudará os produtores em sua direção rumo ao carbono zero, ao mesmo tempo em que causa um impacto positivo na rentabilidade.
E no Brasil, como anda a seleção pela pegada de carbono?
Segundo Rafael Ribeiro, médico veterinário e produtor rural, o Brasil, na prática, ainda está engatinhando quando o assunto é seleção genética para redução dos gases de efeito estufa. “Esse não é o primeiro quesito de escolha na hora da compra do sêmen”, relata.
Rafael apresentou o Ecofeed, um índice de conversão alimentar para identificar animais com eficiências superiores de conversão alimentar, que mostra que os animais mais qualificados no índice consomem 12-16% menos alimentação mantendo a produção, em comparação aos mais baixos ranqueados. Além disso, essa característica tem a mesma herdabilidade que outras de interesse econômico como, proteína, gordura e desempenho total.
Isso demonstra que além da redução da emissão do metano entérico, que ocorre com a redução do consumo, há ainda a redução dos custos de produção com a redução da alimentação.
“Na questão ambiental o produtor ainda precisa desmistificar a questão da sustentabilidade”, disse o veterinário. O produtor ainda é muito resistente quando se trata de sustentabilidade, é preciso portanto mostrar a sustentabilidade de forma lucrativa, como a redução de custos através da eficiência alimentar.
Outro ponto é que, hoje, o consumidor está atento às questões ambientais e quer saber de onde vem o alimento que consome, quer escutar sobre o bem estar dos animais, da pegada de carbono e dos impactos ambientais causados pela produção. E segundo Rafael, o produtor precisa estar ciente que “da porteira pra fora não manda no produto, então ele precisa fazer o que tem que ser feito na porteira para dentro ” não é uma tarefa fácil, mas é preciso agregar valor ao seu produto, antes mesmo que a indústria exija isso ao produtor.
Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.