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Qual a relação entre o teor de sólidos no leite e os cruzamentos entre as raças leiteiras?

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 17/05/2018

8 MIN DE LEITURA

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O aumento da produção de leite está negativamente relacionado ao teor (%) de gordura, proteína e positivamente correlacionada com a contagem de células somáticas (KNOB, 2015). Pereira (2012) relata correlação negativa (-0,07 a -0,67) entre produção de leite e percentual de gordura.

A redução dos principais constituintes do leite como gordura e proteína, acarreta perdas econômicas, pois estes são essenciais para o rendimento dos derivados dentro da indústria (KNOB, 2015). Os menores teores de gordura e proteína podem influenciar o preço do leite pago ao produtor (PEREIRA, 2012). Na visão de Weigel e Barlass (2003) o sistema de pagamento do leite nos Estados Unidos, o qual recompensa rebanhos com altas percentagens de gordura e proteína, tem acarretado em um aumento na utilização de outras raças ou de animais mestiços em relação ao Holandês, estando esta, entre as principais razões para o aumento do interesse em sistemas de cruzamento entre bovinos de leite. Neto et al. (2013), também ratificam a afirmativa que o aumento do teor de sólidos do leite, comumente é um dos principais objetivos dos produtores que iniciam um programa de cruzamento.

De acordo com Knob (2015), em países da Europa, principalmente na Alemanha, onde há vários anos existe a política de pagamento por qualidade do leite, uma alternativa de cruzamento entre raças especializadas é entre as raças Holandês e Simental, largamente utilizada. Em pesquisa conduzida pela autora, realizada em uma propriedade leiteira localizada em Santa Catarina com animais da raça Holandês e mestiços F1 (Holandês x Simental) em sistema de semiconfinamento, foram avaliados os percentuais de gordura, proteína e lactose do leite. Os resultados mostraram que as vacas mestiças superaram as puras Holandês na produção de sólidos do leite, como gordura, proteína e lactose (Tabela 1).

Alguns autores citados por Knob (2015) relatam em vários países a não ocorrência de diferenças na produção de leite de fêmeas Holandesas comparadas com mestiças Simental x Holandês, porém descrevem a observação de maiores percentuais de gordura e proteína no leite produzido pelas cruzadas. Pactuando aos dados apresentados, ao avaliar a composição do leite e a produção de sólidos em até 305 dias de lactação em vacas mestiças Holandês x Jersey em relação às puras da raça Holandesa, em três propriedades em Santa Catarina e Paraná, Neto et al. (2013) relataram teores superiores de gordura e proteína no leite das fêmeas cruzadas, sendo que estas, ainda produziram significativamente mais gordura (em kg) em relação às fêmeas puras.

A diferença entre os teores de gordura entre F1 e Holandês foi de 0,28 pontos percentuais, o que correspondeu a um teor de gordura 12% mais elevado nas vacas cruzadas. Na percentagem de proteína, os indivíduos meio-sangue superaram as Holandesas em 0,13 pontos percentuais, o que correspondeu a uma superioridade de aproximadamente 4%. Estes pesquisadores concluíram que a utilização de vacas mestiças Holandês x Jersey pode ser interessante nas situações em que ocorre remuneração pelo teor e/ou produção de sólidos, em especial gordura do leite (Tabela 2).

Tabela 1 - Produção e composição do leite, escore de células somáticas (ECS), escore de condição corporal (ECC) e peso vivo para vacas Holandês e mestiças Holandês X Simental. Fonte: Knob (2015).

Qual a relação entre o teor de sólidos no leite e os cruzamento entre as raças leiteiras?

Tabela 2 - Produção de leite, gordura e proteína em até 305 dias de lactação e percentagem de gordura e proteína de acordo com o grupamento genético.

Qual a relação entre o teor de sólidos no leite e os cruzamento entre as raças leiteiras?

Brähmig (2011) apud Knob (2015) mostrou em seu trabalho que vacas resultantes do cruzamento entre as raças Holandês e Simental, apresentaram produção de leite levemente inferior em relação às vacas puras (9.451 x 10.091 kg/lactação). No entanto, as fêmeas cruzadas apresentaram maiores teores de sólidos no leite, compensando a menor produção com maior concentração de gordura e proteína, que é utilizada como critério para pagamento por qualidade do leite.

No Canadá, McAllister (1986) apud Heins et al. (2006b) indicaram que produtos do cruzamento de vacas Holandês e Ayrshire não foram significativamente diferentes das Holandesas puras para a produção de leite, mas foram significativamente distintas para a produção de gordura na primeira lactação. Já na Nova Zelândia, onde os cruzamentos são amplamente utilizados nos sistemas de produção predominantemente a pasto, Ahlborn-Breier e Hohenboken (1991) relataram heterose de 6% para a produção de gordura e de 7% para a produção de proteína de mestiços de Holandês com Jersey (Figura 1), em comparação com exemplares puros das duas raças. Os mesmos autores concluíram e sugeriram que rebanhos leiteiros comerciais poderiam empregar esquemas de cruzamento para a obtenção de progresso genético para a produção de sólidos do leite.

Figura 1 - Fêmeas F1 Holandês x Jersey se destacaram pelos percentuais de gordura e proteína em estudos no Brasil e na Nova Zelândia.

Qual a relação entre o teor de sólidos no leite e os cruzamento entre as raças leiteiras?

Em sete propriedades localizadas na Califórnia, Heins et al. (2006c), estudaram as diferenças entre fêmeas Holandesas puras e mestiças de Normando/Holandês, Montbeliarde/Holandês, e Norueguês Vermelho ou Sueca Vermelha e Branca/Holandês na primeira lactação para produção real de leite em 305 dias, gordura e proteína. Os percentuais de gordura foram 3.55, 3.74, 3.64, e 3.66%, para o Holandês puro e para as F1 Normando/Holandês (Figura 2), Montbeliarde/Holandês e Norueguês ou Sueca Vermelha e Branca/Holandês respectivamente.

No percentual de proteína, as matrizes Holandesas puras apresentaram 3,13% em comparação com os 3,24% das F1 Normando/Holandês, 3,20% das Montbeliarde/Holandesa, e das 3,20% Norueguês-Sueca Vermelha e Branca/Holandês. Rincon et al. (1982) destacaram que exemplares dos cruzamentos de Ayrshire com Holandês e de Pardo Suíço com Holandês apresentaram percentuais de gordura mais elevados e produção de gordura semelhante em comparação com o Holandês puro.

Trabalho conduzido por Dechow et al. (2007) a partir de informações de 19 rebanhos nos Estados Unidos, atestou que a quantidade de produção combinada de gordura e proteína foi superior nos animais F1 do cruzamento de Pardo Suíço com Holandês em relação aos índices encontrados nas Holandesas puras.

Já no Brasil, pesquisa realizada por Felippe (2013) em Santa Catarina com fêmeas criadas em sistema semiextensivo, puras Holandesas, puras Jerseys e mestiças destas raças, demonstrou que o percentual de gordura, nos exemplares ½ sangue (F1) apresentaram teor de 3,92%, Holandesas puras de 3,76%, ¾ Jersey de 4,27% e Jerseys puras de 4,66%. Em relação ao percentual de proteína, animais ½ sangue Jersey, ¾ Jersey e principalmente as Jersey puras, resultaram em maiores teores quando comparadas às fêmeas ¾ Holandês e Holandês puras. Entretanto, vacas mestiças com até 50% Holandês (½ sangue e ¼) apresentaram teor de proteína similar às Jersey. Animais Jersey ou com até 25% de Holandês em sua composição (¼ Holandês) obtiveram maiores produções de proteína por dia. Em relação à lactose, não foi encontrada diferença nos teores entre os grupos genéticos. O autor concluiu que animais cruzados mostram-se como uma alternativa interessante, pois, apresentaram produções de leite semelhantes à raça Holandesa, porém, com maiores teores de sólidos em relação à mesma raça.

Madalena et al. (1982) apud Pereira (2012) avaliando estratégias de cruzamentos entre raças leiteiras na região sudeste do Brasil, ao observar dados de composição do leite de produtos oriundos do cruzamento entre Holandês e Guzerá criados em dois diferentes níveis de manejo (alto e baixo), encontraram médias de percentuais de gordura de 4.28% para animais F1 (½ sangue), 3.99% para animais ¾ Holandês e 3.72% em matrizes puras da raça Holandesa.

Em relação aos percentuais de proteína, os valores médios encontrados foram respectivamente, 3.32%, 3.09% e 2.94%. Segundo os autores, as vacas F1 tiveram maior produção de gordura e proteína, tanto nas fazendas de nível alto como nas de nível baixo de manejo, embora as diferenças no nível alto tenham sido menores entre os diferentes grupos genéticos. Em publicação mais recente, Santos (2013) afirma que o cruzamento de Guzerá Leiteiro com o Holandês, onde é formado o Guzolando, possui potencial de produção de leite com percentual de 4,5 a 5,5% de gordura.

Figura 2 - Em sete propriedades localizadas na Califórnia, fêmeas ½ Normando/Holandês foram superiores em teores de gordura e proteína.

Qual a relação entre o teor de sólidos no leite e os cruzamento entre as raças leiteiras?

Referências bibliográficas

AHLBORN-BREIER, G.; HOHENBOKEN, W. D. Additive and nonadditive genetic effects on milk production in dairy cattle: Evidence for major individual heterosis. JournalofDairy Science, v. 74, p. 592–602, 1991.

DECHOW, C. D. et al. Milk, Fat, Protein, Somatic Cell Score, and Days Open Among Holstein, Brown Swiss, and Their Crosses. Journal of Dairy Science, v. 90, p. 3542–3549, 2007.

FELIPPE, E. W. Comparação de vacas mestiças das raças Holandesa x Jersey com vacas puras quanto à eficiência produtiva e reprodutiva. 2013. 55 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2013.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; SEYKORA, A J. Fertility and survival of pure Holsteins versus crossbreds of Holstein with Normande, Montbeliarde, and Scandinavian Red. Journal of Dairy Science, v. 89, n. 12, p. 4944–4951, 2006b.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; SEYKORA, A J. Production of Pure Holsteins Versus Crossbreds of Holstein with Normande, Montbeliarde, and Scandinavian Red. Journal of

Dairy Science, v. 89, n. 7, p. 2799–2804, 2006c.

KNOB, D. A. Crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo de vacas Holandês comparadas às mestiças Holandês x Simental. 2015. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2015.

NETO, A. T.; RODRIGUES, R. S.; CÓRDOVA, H. A. Desempenho produtivo de vacas mestiças Holandês x Jersey em comparação ao Holandês. Revista de CiênciasAgroveterinárias, Lages, v.12, n.1, p. 7-12. 2013.

PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.

RINCON, E. J. et al. Estimation of genetic effects on milk yield and constituent traits in crossbred dairy cattle. JournalofDairy Science, v. 65, p. 848–856, 1982.

SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.

WEIGEL, K. A; BARLASS, K. A. Results of a producer survey regarding crossbreeding on US dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 86, n. 12, p. 4148–54, 2003.

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NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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FERNANDO MELGAÇO

GOIÂNIA - GOIÁS - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 04/06/2018

Prezados professores Nathã e Dr. Emmanuel,
Sou Veterinário, hoje Auditor Fiscal Federal Agropecuário, aposentado. Fui professor substituto na UFG e trabalhei durante 24 anos no LANARA de Goiânia, onde me dediquei à área de leite, tanto em microbiologia, em cuja disciplina sou Especialista pela UFG, quanto na área de análises Físico- Químicas. Em colaboração com professores da UFG, fizemos várias pesquisas com leites na Bacia Leiteira de Goiânia e de outros Municípios, cujos resultados deram origem a um livro que se intitula: " Qualidade do Leite do Centro-Oeste Brasileiro". Cabe ressaltar que este livro foi publicado pela própria UFG no ano de 1995, que apesar de antigo, ainda está atual em alguns pontos. Naquela época, analisando leites de gado Holandês, meio sangue HxZebu (Girolando), Zebuinos, pudemos notar diferenças significativas no teor de proteínas à medida que os cruzamentos se aproximavam das vacas zebuínas, como neste exemplo: teor de proteínas de leites de zebuínos: 3,47% e de meio sangue HXZ: 3,30%, mostrando portanto valores significativos em nível de p menor que 0,05. Concluindo, quero parabenizá-los pelo excelente trabalho.
Atenciosamente,
Fernando Melgaço.
NATHÃ CARVALHO

ALEGRETE - RIO GRANDE DO SUL

EM 05/06/2018

Ótimo seu depoimento Fernando! Muito obrigado pela contribuição!

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