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Influência do temperamento de bovinos leiteiros em parâmetros produtivos - Parte I de II

VÁRIOS AUTORES

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 17/07/2019

6 MIN DE LEITURA

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Autores do artigo:

Gabriele Marques Lopes, Emmanuel Veiga de Camargo e Nathã Carvalho

Objetivando suprir a crescente demanda pelo produto, as medidas que visam o aumento da produção do setor leiteiro devem ser constantemente (re) avaliadas. A percepção do consumidor em relação aos alimentos que chegam em sua mesa começou a mudar. A sociedade moderna passou a se interessar mais em saber como seu alimento é produzido e exigir produtos que sejam lançados no mercado de forma limpa, segura e ética. Este fato está impactando diretamente os modelos de produção animal pelo mundo e demandará dos produtores adequações de manejo e instalações respeitando as condições adequadas que regem o bem-estar animal necessário à qualidade de vida de espécies de interesse econômico, como os bovinos leiteiros. (PINHEIRO & BRITO, 2009)

As publicações acadêmicas têm servido de base para o entendimento sobre os diversos comportamentos dos animais, incluindo a correlação de temperamento com o bem-estar físico e psicológico, bem como, a maior e melhor eficiência na produção animal (SILVA; MOURÃO, 2011).

Assim como o ser humano, cada animal possui suas particularidades, que denominamos temperamento. Segundo Fordyce et al. (1982), o temperamento pode ser definido como as reações dos animais ao entrarem em contato com o ser humano, geralmente atribuídas ao medo. Experiências anteriores podem influenciar a resposta comportamental, bem como fatores genéticos individuais.


Fonte: Tudo interessante, 2019

O temperamento é a expressão das particularidades comportamentais em decorrência da organização física, hormonal e nervosa do indivíduo, o que contribui para a disposição original de um animal, em contraste com outros membros da espécie (KILGOUR, 1975).

Algumas pesquisas mostram que animais mais reativos precisam de menos de dois segundos para sair de um brete de contenção e obtiveram uma maior concentração basal de cortisol quando comparados a animais que demoraram mais tempo (4 segundos) para sair. Estes animais, mais reativos, também apresentaram menor produção quantitativa de leite quando submetidos a um novo ambiente de ordenha.

Essas observações indicam que os animais com temperamento mais reativo tem maior nível basal de cortisol e maior propensão a perdas de produção de leite, visto que o cortisol é inibidor da secreção de ocitocina, responsável pelo estímulo de secreção do leite (SUTHERLAND et al., 2012). Corroborando, pesquisas anteriores já haviam demonstrado que animais mais reativos tendem a crescer menos e animais mais dóceis são mais pesados e mais altos por crescerem com um maior nível de bem-estar (TULLOH, 1961).

Pesquisas conduzidas na Noruega e na Austrália, já possibilitam a utilização de índices de seleção personalizados, os quais, incluem temperamento como uma variável a ser considerada. Dentro da análise de temperamento são avaliadas características como a velocidade de saída da ordenha. Alguns animais demonstraram que os com temperamento mais dócil durante a saída da ordenha obtiveram um acréscimo de 5% na eficiência produtiva para produção de leite, gordura e proteína (SILVA; MOURÃO, 2011 apud HERINGSTAD et al. 2000; BOWMAN et al. 1996).


Fonte: Fanpage Girolando Associação

Contudo, de maneira controvérsia, pesquisa realizada por Orbán et al. (2011), sugere que o temperamento mais reativo não demonstra influência quantitativa na produção diária de leite. No entanto, animais mais reativos obtiveram uma maior contagem de células somáticas na composição do leite, prejudicando a qualidade do produto.

Traços de temperamento são características hereditárias e estão correlacionadas com características produtivas. O comportamento animal em parte é devido à aprendizagem ocorrida durante a sua vida e parte gerenciado pela herança genética. Ou seja, cada comportamento é correlacionado com a informação genética do animal e fatores ambientais os quais influenciam na expressão dos genes (BROOM; FRASER, 2010). Assim, o sistema de aprendizagem é de grande importância para os animais e ele ocorre quando alguma experiência modifica a resposta posterior do animal frente à mesma situação.

Dessa maneira, Carvalho (2018), relatou mediante a análise de características lineares de animais da raça Gir Leiteiro que a herdabilidade (h²) para o temperamento foi de apenas 0,13, considerada uma estimativa de baixa herdabilidade. Entretanto, um trabalho realizado em Wisconsin (EUA), com animais da raça Holandesa, obtiveram herdabilidade de 0,5 para traços de temperamento. Os resultados destes estudos indicam uma maior influência da variância genética aditiva quando comparada a variância residual para diferentes tipos de temperamento em vacas Holandesas (DICKSON, 1970).

Não há uma única medida objetiva que tenha capacidade de abranger todas as características para determinar o perfil de temperamento para bovinos leiteiros. Assim, medidas fisiológicas e endócrinas foram introduzidas como forma de medição complementar. Como exemplo, temos o aumento do nível sanguíneo de cortisol através de estímulo do eixo hipotalâmico-pituitário-supra-renal e também uma maior secreção de epinefrina, que cursa com o aumento da frequência cardíaca que ocorre também por meio de estímulo do sistema medular supra-renal, sistemas amplamente conhecidos na resposta ao estresse (BRAND, et al. 2015).


Créditos: Zzn Peres

Analisando os conceitos sobre temperamento, pode-se entender tamanha importância desta medida de seleção dentro da cadeia produtiva. Brand et al. (2015) alertam que embora seja de grande importância, a seleção de bovinos embasada em temperamento esbarra na grande complexidade do sistema de avaliação desta característica. Por tudo, o temperamento animal, exatamente como a fisiologia e a sua anatomia, é parte integrante para o funcionamento adequado do organismo animal.

Cada animal possui sua singularidade comportamental e são essas características que os permitem ou não adaptar-se a novos ambientes produtivos. E através desta capacidade de adaptar-se que se torna possível medir o nível de bem-estar destes animais. Pelo exposto, tem-se consolidado a necessidade de dominar os conhecimentos sobre a ciência de temperamento de animais de produção, tornando assim, os manejos produtivos mais rentáveis (BROOM; FRASER, 2010).

O manejo adequado seguindo os critérios estabelecidos de acordo com o bem-estar animal deve ser seguido para um incremento produtivo, assim como, o temperamento animal deve ser um dos critérios de seleção de animais durante os acasalamentos. O temperamento animal é de suma importância para o sucesso da atividade leiteira.

Referências bibliográficas

BRAND, B. et al. Temperament Type Specific Metabolite Profiles of the Pre frontal Cortex and Serum in Cattle. PLoS ONE, Dummerstorf, v.10, n. 4, 2015. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25927228>. Acesso em 10 out. 2018. DOI: i: 10.1371/journal.pone.0125044.

BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4. ed. Barueri: Manole, 2010, 438 p.

CARVALHO, N. S. de. Tendências genéticas das características de produção, conformação e manejo de bovinos Gir Leiteiro. 96 p. Dissertação de mestrado (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

DICKSON, D.P. et al. Social Dominance and Temperament of Holstein Cows. Journal of dairy Science, Wisconsin, v.53, n. 7, 1970. Disponível em: <https://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(70)86316-0/pdf> Acesso em: 05 out. 2018. DOI: https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(70)86316-0.

FORDYCE, G.; GODDARD, M. E.; SEIFERT, G. W. The measurement of temperament in cattle and the effect of experience and genotype. Animal Production in Australia. 1982. Disponível em: < https://www.livestocklibrary.com.au/bitstream/handle/1234/7309/Fordyce82.PDF?sequ ence=1>. Acesso em: 15 out. 2018.

KILGOUR, R. The open-field test as an assessment of the temperament of dairy cows. Animal Behaviour Science, Nova Zelandia, v. 3, n. 23, 1975. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0003347275901396>. Acesso em: 19 out. 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/0003-3472(75)90139-6.

ORBÁN, M. et al. Effect of temperament of Jersey and Holstein Friesian cows on milk production traits and somatic cell count. Archiv Tierzucht, Dummerstorf, v. 54, n. 6, 2011. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/281616970_Effect_of_temperament_of_Jersey_and_Holstein_Friesian_cows_on_milk_production_traits_and_somatic_cell_co unt_Short_Communication >. Acesso em: 05 out. 2018. DOI: 10.5194/aab-54-5942011.

PINHEIRO, A. A.; BRITO, I. F. de. Bem-estar e Produção Animal. In: EMBRAPA Caprinos e Ovinos. 1. ed. Sobral, CE, 2009. p. 4. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/748310/1/doc93.pdf>. Acesso em: 20 de junho 2019. ISSN 1676-795.

SILVA, F. L. de; MOURÃO, G. B. A genética e o comportamento em bovinos leiteiros. MILKPOINT, 28 fev. 2011. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/a-genetica-e-o-comportamento-embovinos-leiteiros-70019n.aspx>. Acesso em: 18 out. 2018.

SUTHERLAND, M. A.; ROGERS, A. R.; VERKERK, G. A. The effect of temperament and responsiveness towards humans on the behavior, physiology and milk production of multi-parous dairy cows in a familiar and novel milking environment. Physiology & Behavior, Hamilton, v. 107, n. 3, 10 Oct. 2012. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0031938412002764#!>. Acesso em: 17 out. 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.physbeh.2012.07.013.
 

TULLOH, N. M. Behaviour of cattle in yards. II. A study in temperament. Animal Behavior, Melbourne, v. 9, n. 2, Apr. 1961. Disponível em: <https://ac.elscdn.com/000334726190046X/1-s2.0-000334726190046X-main.pdf_tid=9f633ec7652444308cac52ed73eb3d09&acdnat=1540512393_44d1f25004842049c1047f34a4 ec41ee>. Acesso em: 17 out. 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/00033472(61)90046-X.

NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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