Diz a lenda que, de alguma forma quem entra neste universo fascinante do mundo de laticínios, acaba carregando para sempre a chamada “praga do bezerro."
A primeira vez que escutei isso foi de um grande mestre queijeiro, Fausto Melo. Na época não entendi muito bem, acreditei que fosse uma piada mineira. Após meses e anos vivenciando uma rotina acelerada dentro dos laticínios, passei a entender exatamente a tal praga do bezerro, e como é fascinante o mundo de queijeiro.
Desde o momento em que o leite entra porteira adentro da fábrica, nossa rotina industrial é uma montanha-russa, muitas vezes parece até que estamos sem cinto.
Entramos sem mesmo ver o sol da manhã e saímos muitas vezes vendo a lua, quando é possível parar para apreciar. Tem noite que passamos buscando formas de resolver inúmeros problemas que acontecem, cada dia parece ser um desafio diferente. E quando existe um desenvolvimento de um novo produto, passando semanas e meses incubando um novo filho.
Nossas conversas são em torno do mundo leiteiro, nosso canal preferido é globo rural ou tudo que nos mantenha antenado no tal do leite. Quando é possível uma ida ao mercado, a primeira coisa é olharmos os produtos do concorrente e tentar convencer alguém na fila sobre o produto que fabricamos, cheios de orgulho.
O networking nesse universo é tão interessante que, a todo momento esbarramos com pessoas que conhecemos há anos, ou que conhecem alguém que nos conhece, e ninguém consegue mais sair dessa rede. Alguns tentam, mas quando veem, já estão de volta entre queijomatic's e prensas.
Nossos passeios são rodeados de natureza e sempre observando se a grama esta verde, se a vaca que está pastando encontra-se bem nutrida — às vezes até pensamos em quanto será a proteína daquela vaca!
Pode parecer um simples artigo, mas talvez seja um desabafo de uma queijeira. Mas não pense ser um desabafo triste, pelo contrário! Cada queijeiro que se identificou com o artigo ama cada problema que tem em sua fábrica, adora a rotina de não saber como será o seu dia, quer conversar por horas com outros queijeiros para ver quem tem mais problemas em sua rotina. Aliás, ter uma rotina agitada para o queijeiro é quase ter ar puro para respirar!
O universo do queijeiro é algo que espero que nem mesmo o avanço da tecnologia reduza a intensidade do fascínio que isso representa. Quem não é ou não possui queijeiros que amam essa rotina é porque verdadeiramente não foi fisgado pela "praga do bezerro."
E aí, quem se identifica com esse artigo?