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Variações diárias no consumo de concentrado em bezerras leiteiras: isso é um problema?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 07/11/2022

9 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 01/11/2022

A ingestão de dieta sólida é extremamente importante para bezerros leiteiros jovens, pois permite o desenvolvimento ruminal, processo necessário para que o desaleitamento seja bem-sucedido.

No entanto, o consumo da dieta sólida composta principalmente pelo concentrado inicial é afetado por vários fatores, como taxa de alimentação da dieta líquida, composição e granulometria do concentrado inicial, saúde, qualidade da forragem quando fornecida e até o alojamento (individual, pareado, alojamento em grupo).

Além da ingestão média observada antes do desaleitamento, a flutuação da ingestão diária pode ser uma ferramenta importante para ajustes no manejo geral e nutricional.

Durante o período de aleitamento, a maior parte do desempenho é explicado pela dieta líquida, o que faz com que muitos produtores aumentem o volume de fornecimento (Davis & Drackley, 1998). Os programas de aleitamento eram, até pouco tempo, classificados como convencional (10 % Peso ao nascer, PN) ou intensivo (>15% PN), sendo este subdividido em três diferentes programas alimentares (ad libitum, intensivo e programado), de acordo com o volume de fornecimento e alterações para o preparo do animal para o desaleitamento.

Recentemente o NASEM (2021) sugeriu que programas alimentares com fornecimento de menos que 600g MS/d, o equivalente a 4,8L/d quando a dieta tem 12,5% de sólidos, seriam programas de baixa taxa de alimentação ou severamente restritos (<400 g MS/d). Taxas de 600 a 900 g MS/d seriam consideradas taxas moderadas de alimentação e quando >900 g MS/d, altas taxas de alimentação.

bezerro comendoEnquanto as baixas taxas de alimentação são justificadas pelo menor custo diário e maior consumo de concentrado, as maiores taxas se justificam pelo maior ganho, maior eficiência de ganho e ainda maior produção de leite futuro (NASEM, 2021).

À medida que se aumenta o volume de dieta líquida ocorrem reduções no consumo de dieta sólida. No entanto, esta relação negativa é mais perceptível a partir de consumos em torno de 800-850 g de MS da dieta sólida, o que representa 7-7,5 L, quando diluído para 12,5% de sólidos (Gelsinger et al., 2017).

Dessa forma, considerando-se as recomendações do NASEM (2021), não existem grandes prejuízos com a adoção de alta taxa de alimentação por um período inicial, seguido de taxas moderadas de forma a estimular o consumo de concentrado, assim como para preparar o bezerro para o desaleitamento.

Assim sendo, sugere-se sempre a adoção de sistema de aleitamento que considera a redução no fornecimento de dieta líquida pouco antes da data prevista para o desaleitamento. Embora durante muitos anos a recomendação tenha sido de desaleitamento quando os animais apresentassem consumo em torno de 800 g/d, durante três dias consecutivos (Quigley, 1996), isso tem sido revisto.

Stamey et al. (2012) sugeriu que para manter as taxas de crescimento, os bezerros deveriam consumir em torno de 1 kg/d para o desaleitamento. No entanto, o NASEM (2021) recentemente recomendou o consumo de 1,5 kg/d para que desaleitamento fosse realizado com garantias de adequado desenvolvimento ruminal.

Em todas estas recomendações, o patamar de consumo precisa ser observado por três dias consecutivos, pela grande flutuação diária no consumo de concentrado pelos bezerros leiteiros. Estas recomendações mostram que a flutuação no consumo ocorre de maneira expressiva e que as estimativas de consumo baseadas simplesmente na idade do animal são pouco satisfatórias para o entendimento do momento adequado para o desaleitamento.

Um dos fatores que afeta o consumo de concentrado é seu fornecimento em idades bem jovens, assim como o fornecimento de água de bebida (Davis & Drackley, 1998). Felizmente, a maior parte dos produtores inicia o fornecimento de concentrado e de água na primeira semana de vida, como mostram alguns levantamentos nacionais (Santos e Bittar, 2015; Azevedo et al., 2020).

As equações de predição de consumo de concentrado, desenvolvidas com dados americanos e também brasileiros para bezerros criados em clima temperado e (sub)tropical publicadas pelo NASEM (2021), mostram que este é um importante fator para determinação de consumo, uma vez que este é um dos componentes destas equações.

Outro aspectos de grande importância para o consumo de concentrado é a sua forma física e tamanho de partícula, que associados a sua composição em ingredientes pode resultar em problemas de acidose, e consequentemente em variações no consumo diário.

O tamanho de partícula do concentrado pode afetar o ambiente ruminal, a produção de AGCC, e a estrutura e função das papilas ruminais. Concentrados finamente moídos reduzem o pH ruminal, principalmente por reduzirem a ruminação e o fluxo de saliva, diminuindo a população de bactérias celulolíticas. Assim, Bateman et al. (2009) sugerem que pelo menos 50% das partículas que compõem o concentrado inicial sejam maiores que 1,19 mm.bezerro comendo

Em alguns trabalhos, pesquisadores avaliaram o efeito da forma física do concentrado inicial e não observaram diferenças no consumo ou no ganho de peso ao compararem concentrados peletizados com farelados para bezerros em aleitamento.

Os levantamentos de Santos e Bittar (2015) e de Azevedo et al. (2020) mostraram também que a maior parte dos produtores fornece concentrados peletizados ou farelados. A depender do tamanho de partícula dos concentrados farelados, que deve ser >1,2 mm, não há diferença quando comparado ao peletizado em relação ao desempenho ou desenvolvimento ruminal (Bateman et al., 2009).

No entanto, como são concentrados com maior taxa de degradação, colocam o animal em maior risco de acidose ruminal, de acordo com o nível de amido ou de FDN dos mesmos, podendo existir necessidade de fornecimento de feno (NASEM, 2021). Por outro lado, os concentrados texturizados, apresentam uma menor taxa de degradação, e muitas vezes contém casca de aveia como fonte de fibra, o que aumenta a mastigação e reduz o risco de acidose (NASEM, 2021).

No entanto, se não for bem misturado e com ingredientes de alta qualidade, pode resultar em seleção no cocho, fazendo com que os animais consumam uma dieta desbalanceada. Assim, para que o consumo seja crescente ao longo do período e com baixas variações diárias é importante que tenha formulação e tamanho de partícula adequados.

O concentrado deve conter ingredientes de alta digestibilidade, com NDT (nutrientes digestíveis totais) em torno de 80%, uma vez que os animais estão com o rúmen em desenvolvimento. Assim, a maior parte dos nutrientes deve ser oriundo de ingredientes nobres como milho e farelo de soja (Davis & Drackley, 1998).

De acordo com o NASEM (2021), o teor de proteína bruta (PB) deve ser em torno de 22%, sendo interessante o aumento para 25% quando os animais forem aleitados de acordo com altas taxas de alimentação (>900g MS de dieta líquida/d). No entanto, poucos produtores adotam estas taxas tão elevadas de aleitamento. Além disso, muitos trabalhos mostraram que existe um platô para o aumento do desempenho em função de maior teor de PB, e isso está em torno de 20-22%.

Com relação as recomendações de fibra, as sugestões de Davis & Drackley (1998) tem sido as mais utilizadas para a formulação de concentrados, muito embora este ainda seja um tema bastante polêmico, mesmo na comunidade científica. A importância da forragem no processo de desenvolvimento ruminal foi por muito tempo subestimada. Contudo, Khan et al. (2016) mostraram em sua revisão que embora a fibra não tenha efeito direto no processo, os efeitos no aumento do consumo de concentrado em função de redução de problemas com saúde ruminal, auxilia no processo de desenvolvimento ruminal, reduzindo a possibilidade de redução de desempenho com o desaleitamento.

Davis & Drackley (1998) sugerem faixas bem largas de recomendação para fibra em detergente neutro (FDN: 15-25% MS) e fibra em detergente ácido (FDA: 6-20% MS).

Enquanto os limites superiores indicam se o concentrado tem ingredientes de alta digestibilidade para um animal com o rúmen e desenvolvimento; os limites inferiores sugerem o limite mínimo de fibra para garantir saúde ruminal.

Assim, bezerras têm exigência em fibra, mas existe um limite para sua inclusão, o que impacta fortemente no manejo alimentar e no desempenho. Bezerros alimentados exclusivamente com feno como dieta sólida tem o rúmen com grande desenvolvimento muscular, mas com papilas pouco desenvolvidas, resultando em baixa capacidade absortiva, o que impossibilita o adequado desaleitamento dos animais.

Por outro lado, o fornecimento de concentrado de alta qualidade, com adequado teor de fibra, resulta em desenvolvimento ruminal suficiente para o animal manter suas taxas de crescimento. Esse adequado provimento de fibra no concentrado será importante para evitar acidose e permitir manutenção do consumo de concentrado menos variável e crescente ao longo do período de aleitamento.

O consumo de concentrado pode ser afetado de forma positiva ou negativa pelo provimento de forragem, a depender da sua qualidade e do fornecimento à vontade ou restrito. A inclusão de feno deve ser feita até no máximo em torno de 5% da MS do concentrado, acima disso, o desempenho pode ser reduzido como mostraram os dados de Hill et al. (2008).

bezerro comendo fenoNo entanto, quando o feno é fornecido em separado, a estratégia deve ser diferente, uma vez que pode haver substituição de consumo de concentrado (alta energia e alta proteína) pelo volumoso (baixa energia e menor proteína). Além disso, a qualidade do volumoso afeta fortemente esta taxa de substituição.

Assim, se o feno disponível for de boa qualidade, o fornecimento deve ser feito de forma controlada de forma seu consumo não ultrapasse 5-7% do consumo total de alimento, evitando-se a substituição. Quando o feno é de média-baixa qualidade, pode ser fornecido à vontade, pois os animais vão consumir voluntariamente em torno de 5-7% do consumo total. O fornecimento de feno utilizando-se dessa estratégia afeta positivamente não só o desempenho, pelo aumento no consumo total de matéria seca e ganho de peso diário, mas também com efeitos no comportamento e bem-estar dos animais.

O consumo de concentrado é afetado por uma grande variedade de fatores, no entanto, sua flutuação diária ainda não é bem entendida.

Embora a maior responsável por esta flutuação é provavelmente sua composição e, consequentemente, sua taxa de fermentação e risco de acidose, fatores como sistema de alojamento e ocorrência de doenças também respondem por essa variação.

É importante entender se o consumo de concentrado apresenta grandes variações diárias durante o período de aleitamento. Isso pode ser indicativo de que a formulação do concentrado, o manejo alimentar ou de instalações precisam de ajustes.

 

Referências

Azevedo, R.A., Martins, L.F., Tiveron, P.M.,Teixeira, A.L., Bittar, C.M.M., Antunes, L.C.M.S., Santos, J.E.P., Rotta, P.P., et al. Alta Cria 2020. 2020. Uberaba, Minas Gerais, 2019. 1ª edição.

Bateman, H. G. II, T. M. Hill, J. M. Aldrich, and R. L. Schlotterbeck. 2009. Effects of corn processing, particle size, and diet form on performance of calves in bedded pens. J. Dairy Sci. 92:782–789.

Davis, C.L. and J.K. Drackley. 1998. The development, nutrition, and management of the young calf. University Press, Ames.

Gelsinger, S.L.; Heinrichs, A.J.; Jones, C.M. A meta-analysis of the effects of preweaned calf nutrition and growth on first-lactation performance 1. J. Dairy Sci. 2016, 99, 6206–6214, doi:10.3168/jds.2015-10744.

Hill, T. M., H. G. Bateman, J. M. Aldrich, and R. L. Schlotterbeck. 2008. Effects of the amount of chopped hay or cottonseed hulls in a textured calf starter on young calf performance. J. Dairy Sci. 91:2684–2693.

Khan, M.A., Bach, A., Weary, D.M., von Keyserlingk, M.A.G., 2016. Invited review: Transitioning from milk to solid feed in dairy heifers. Journal of Dairy Science 99, 885-902.

NASEM. National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. 2021. Nutrient Requirements of Dairy Cattle: Eighth Revised Edition. Washington, DC: The National Academies Press. https://doi.org/10.17226/25806.

Quigley, J. D., III. 1996. Feeding prior to weaning. Pages 245–255 in Proceedings of Calves, Heifers and Dairy Profitability National Conference, Harrisburg, PA. Northeast Regional Agricultural Engineering (NRAES) Service, Cooperative Extension, Ithaca, NY.

Santos, G.; Bittar, C.M.M. A survey of dairy calf management practices in some producing regions in Brazil. R. Bras. Zootec., 44(10):361-370, 2015.

Stamey, J. A., N. A. Janovick, A. F. Kertz, and J. K. Drackley. 2012. Influence of starter protein content on growth of dairy calves in an enhanced early nutrition program. J. Dairy Sci.  95:3327–3336.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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MATHEUS ELIAS CAVALCANTI

APARECIDA DE GOIÂNIA - GOIÁS - ESTUDANTE

EM 16/11/2022

Muito bom ter acesso a essas informações. Mas estou com uma dúvida que não foi mencionada no artigo.

A respeito da adição de ureia. É utilizada no concentrado para bezerros? e se sim, a partir de quantos meses de vida do animal é necessário começar a adaptação?

Parabéns pela publicação!

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