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Qualidade da água na criação de bezerras

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E NATHALIA ISGROI CARVALHO

CARLA BITTAR

EM 30/01/2024

7 MIN DE LEITURA

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A água é um nutriente necessário para o funcionamento de todo o organismo, atuando em diversos processos metabólicos e fisiológicos, como no crescimento, reprodução e produção dos animais. Mas mesmo com toda a sua importância, quando comparada a outros nutrientes, ela possui sua exigência desvalorizada, sendo pouco abordada nos modelos de exigência nutricional.  Essa situação é ainda mais visível quando se trata da criação de bezerras leiteiras, em que há uma quantidade escassa de estudos e informações sobre o impacto da água e sua qualidade no desempenho de bezerros.

Os bezerros devem receber a água já no primeiro dia de vida, mas infelizmente, diversos produtores ainda fornecem água aos bezerros somente na segunda ou terceira semana de vida. Isso acontece devido a uma crença de que as necessidades dos animais são atendidas totalmente somente com a dieta líquida oferecida (leite ou sucedâneo), principalmente nos primeiros dias de vida (Wickramasinghe et al., 2019).

Um levantamento realizado pela ESALQ/USP com 149 fazendas dos estados de SP, MG e PR, mostrou que 19% dos produtores fornecia água de bebida aos bezerros somente a partir de 15 dias de idade (Santos e Bittar, 2015). No entanto, em fazendas mais focadas na criação de bezerras, como as que estão associadas ao programa Alta Cria, se observa que 94% das propriedades fornece água de bebida já no primeiro dia de vida da bezerra (Azevedo et al., 2023).

É importante lembrar que o fornecimento tardio de água pode afetar as exigências hídricas dos animais, resultando em desempenho diminuído. Além disso, bezerros que têm acesso à água à vontade desde o primeiro dia de vida, consomem a dieta sólida mais cedo e têm ganho de peso superior do que bezerros que recebem água mais tardiamente ou somente por meio da dieta líquida (Gottardo et al., 2002; Waldner & Looper, 2007).

Os bezerros realmente consomem a maior parte de sua exigência de água por meio da dieta líquida, mas também têm uma ingestão voluntária de cerca de 20% da sua exigência total, e conforme o seu crescimento e desaleitamento, essa ingestão voluntária aumenta, representando cerca de 82% em vacas adultas. A ingestão voluntária de água pelos bezerros tem relação direta com a idade do animal, com o fornecimento da dieta líquida (leite, sucedâneo, teor de sólidos e volume fornecido), bem como a disponibilidade do concentrado inicial, a temperatura ambiente e a qualidade da água fornecida (Jensen & Vestergaard, 2021).

Além da disponibilidade da água de bebida, um outro aspecto importante é com relação à qualidade desta água. Muitas fazendas utilizam água de poço, o que nem sempre garante água de qualidade do ponto de vista físico-químico e sanitário. O problema da baixa qualidade de água é ainda maior quando os animais são aleitados com sucedâneos, pois o consumo desta água de baixa qualidade é ainda maior e afeta negativamente o desempenho e a saúde dos animais.

Não é incomum a confusão entre problemas na formulação dos sucedâneos, muitas vezes responsabilizados pelo baixo desempenho, e a baixa qualidade da água de diluição e de bebida disponível aos animais. O Padrão Ouro – Bezerras e Novilhas Leiteiras tem recomendações sobre a qualidade da água utilizada na criação, conforme a tabela abaixo.

Tabela 1. Recomendações de parâmetros para avaliação da qualidade da água em sistemas de criação de bezerras

Recomendações de parâmetros para avaliação da qualidade da água em sistemas de criação de bezerras

Quando o bezerro bebe água, esta se dirige ao rúmen, o que auxilia no estabelecimento da microbiota ruminal e nos processos de fermentação da dieta sólida, o que em última análise afeta o desenvolvimento ruminal. Por outro lado, quando os bezerros consome a dieta líquida, esta segue pela goteira esofágica e se dirige ao abomaso e posteriormente aos intestinos, e dependendo da qualidade da água utilizada, pode deixar os animais mais vulneráveis a patógenos.

A qualidade da água fornecida aos bezerros influencia diretamente no seu crescimento, sanidade e desempenho. O fornecimento de uma água de boa qualidade, com baixa carga microbiana, pode ser um aliado na microbiota do bezerro, permitindo que se tenha certa resistência a patógenos. Isso porque a água pode transmitir alguns agentes patogênicos causadores de diarreia como a Escherichia coli e Cryptosporidium spp., principalmente quando essa água é utilizada na dieta líquida (Senevirathne et al., 2018).

No entanto, pouco se sabe sobre o efeito da qualidade da água em bezerros leiteiros, principalmente com relação a sua preferência e desempenho. Dessa forma, Senevirathne e colaboradores (2021) desenvolveram um estudo para investigar a preferência dos bezerros sobre a qualidade da água ofertada.

Neste estudo, 6 bezerras desaleitadas receberam três tipos de água:

  1. AOR- água purificada com osmose reversa
  2. AC- água corrente, proveniente da concessionária municipal
  3. ANT- água não tratada, proveniente de um poço escavado local

Os animais passaram por uma fase de adaptação anteriormente, para se acostumarem com o local, baldes de água e o manejo diário. Após esse período se deu início a fase 1 que teve duração de três dias, quando as bezerras receberam os três tipos de água em baldes individuais e identificados. Nesta fase se avaliou diariamente qual a água preferida, ou seja, a mais consumida pelos animais.

Já na segunda fase, também com três dias de duração, a água preferida pelos animais na fase 1 foi retirada, com fornecimento apenas dos dois tipos de água menos consumida na primeira fase, de forma a classificar a segunda e terceira escolhas de água pelas bezerras.

Tabela 2. Ingestão diária total de água (kg/d) por bezerras e ingestão de água por cada bezerra de água de osmose reversa (AOR), água corrente municipal (AC), e água de poço não tratada (ANT) em cada fase.

Ingestão diária total de água (kg/d) por bezerras e ingestão de água por cada bezerra de água de osmose reversa (AOR), água corrente municipal (AC), e água de poço não tratada (ANT) em cada fase.

Os resultados do estudo mostraram que a maioria das bezerras escolheu a mesma fonte de água durante os três dias de cada fase, e as bezerras tiveram maior preferência pelas águas tratadas do que a não tratada.

A água tratada por osmose reversa foi a mais escolhida, seguida pela água corrente como segunda opção e a água não tratada sendo a última escolha dos animais. Durante a fase de adaptação e na fase 1, as bezerras tiveram uma ingestão de água consistente. Já na fase 2, com a retirada da água preferida, houve uma diminuição no consumo de água.

Segundo Beede (1993), alguns fatores da qualidade da água podem ser facilmente percebidos pelos animais (como odor, sabor, dureza e sólidos totais dissolvidos) e podem influenciar seu consumo. Os resultados obtidos no estudo colaboram com esta informação, em que a quantidade de sólidos totais dissolvidos e a dureza da água não tratada podem ter influenciado na preferência de sabor e no comportamento de consumo de água das bezerras.

Vale ressaltar que as bezerras já estavam acostumadas com a água corrente, a qual era fornecida a todos os animais no sistema, e por isso podem ter uma preferência de sabor tendenciosa em relação a AC e uma maior sensibilidade às diferenças entre a AOR e a ANT.

Em situações onde a água fornecida aos animais não for tratada, como aquela proveniente de lagos, rios ou poços subterrâneos, um sistema de purificação pode encorajar a maior ingestão de água pelos animais, afetando positivamente o desempenho dos animais.  Além de se preocupar com a disponibilidade, dê atenção também à qualidade da água para os animais.

 

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Referências bibliográficas

Azevedo, R.A., A. M. Teixeira, A.L. Silva, et al. 2023. Alta Cria. Uberaba, Minas Gerais, 1ª Ed. 2020.147p.

Beede, D. K. 1993. Water Nutrition and Quality for Dairy Cattle. Page 193 in Proc. Western Large Herd Management Conference, Las Vegas, NV.

Gottardo, F., Mattiello, S., Cozzi, G., Canali, E., Scanziani, E., Ravarotto, L., Ferrante, V., Verga, M., & Andrighetto, I. (2002). The provision of drinking water to veal calves for welfare purposes12. Journal of Animal Science, 80(9), 2362–2372. https://doi.org/10.1093/ansci/80.9.2362

Jensen, M. B., & Vestergaard, M. (2021). Invited review: Freedom from thirst—Do dairy cows and calves have sufficient access to drinking water? Journal of Dairy Science, 104(11), 11368–11385. https://doi.org/10.3168/JDS.2021-20487

Santos, G.; Bittar, C.M.M. A survey of dairy calf management practices in some producing regions in Brazil. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 44, n. 10, p. 361-370, 2015.

Senevirathne, N. D., Anderson, J. L., & Rovai, M. (2018). Growth performance and health of dairy calves given water treated with a reverse osmosis system compared with municipal city water. Journal of Dairy Science, 101(10), 8890–8901. https://doi.org/10.3168/JDS.2018-14800

Senevirathne, N. D., Anderson, J. L., Erickson, P. S., & Rovai, M. (2021). Evaluation of the effects of water quality on drinking preferences of heifer calves. https://doi.org/10.3168/jdsc.2021-0101

Waldner, D. N.and M. L. Looper. 2007. Water for dairy cattle. Division of Agricultural Sciences and Natural Resources, Oklahoma State University, Oklahima.

Wickramasinghe, H. K. J. P., Kramer, A. J., & Appuhamy, J. A. D. R. N. (2019). Drinking water intake of newborn dairy calves and its effects on feed intake, growth performance, health status, and nutrient digestibility. Journal of Dairy Science, 102(1), 377–387. https://doi.org/10.3168/JDS.2018-15579

 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

NATHALIA ISGROI CARVALHO

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MARIANA GOUVEIA FREITAS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/02/2024

Que artigo legal !
Fizemos um estudo com a Prof. Carla, relacionado à nosso equipamento , que transforma água contaminada em água potável, tivemos muito sucesso !
Água é vida !
JOÃO DE DEUS MARIANO CAMPOS

REDENÇÃO - PARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/02/2024

O artigo "Qualidade da água na criação de bezerras", trouxe informações fundamentadas e convincentes. Para quem atua no setor e ama o que faz, conteúdos que tratam da sanidade dos animais é indispensável.

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