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Sucedâneos alternativos às fórmulas comerciais

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 23/12/2015

7 MIN DE LEITURA

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Diversos sistemas e práticas de manejo de animais em aleitamento vem sendo adotados com o objetivo de reduzir o custo com a criação destes animais. Entretanto, a grande variedade de dietas líquidas disponível pode resultar em problemas de sanidade e de nutrição destes animais, resultando em baixos desempenhos. A decisão no uso de sucedâneo deve se basear em seu custo por litro diluído, comparado ao preço do leite vendido à indústria; a oferta de leite descarte na propriedade; e, principalmente, na sua composição.

O início do fornecimento de sucedâneos é incerto e de alguma forma dependente da abordagem que damos a este termo. O fornecimento de soro de leite para bezerros é antigo e este é hoje um dos ingredientes de várias formulações comerciais. Dentre as alternativas de dieta líquida para bezerros podemos listar o leite descarte ou não comercializável, o colostro fermentado, o soro de leite e as formulações comerciais. Muito embora todas estas alternativas possam substituir o leite, com menor ou maior sucesso em termos de desempenho e saúde do animal, somente as fórmulas comerciais tem sido denominadas de sucedâneos ou substitutos de leite.

O leite não-comercializável, também chamado de leite descarte, pode ser composto por colostro de baixa qualidade (não indicado para armazenamento no banco de colostro), leite de transição e ainda leite proveniente de vacas com mastite ou em tratamento com antibióticos. A maior preocupação com o uso de leite descarte tem sido a contaminação bacteriana excessiva e subdoses de antibióticos. Embora bactérias possam estar presentes no leite devido a ocorrência de mastite, a contaminação mais provável está normalmente relacionada ao inadequado manejo de ordenha, principalmente com relação ao manuseio e armazenamento do leite até o fornecimento aos bezerros. Como resultado, é crescente o uso de pasteurizadores para redução de carga bacteriana e eliminação de patógenos como Salmonella e Mycoplasma. O benefício econômico da alimentação com leite descarte pasteurizado em comparação a substitutos do leite tem sido demonstrada. Bezerros alimentados com leite pasteurizado apresentam maior ganho de peso e menores taxas de morbidade e mortalidade.

Embora a redução da contaminação bacteriana do leite fornecido aos bezerros deva ser o principal foco de um programa de alimentação de bezerras leiteiras, medidas relacionadas à adequação da qualidade do leite do ponto de vista nutricional devem ser consideradas. Muitas propriedades formam um pool com todo o leite não comercializável para fornecimento às bezerras, resultando em alterações diárias na qualidade e composição da dieta líquida, principalmente no teor de sólidos. A alta carga bacteriana também é um problema e pode resultar em diarreias. Um trabalho de pesquisa demonstrou que bezerros aleitados com leite descarte pasteurizado tiveram maior probabilidade de apresentar resistência a ampicilina, cefalotina e ceftiofur, nos dias 35 e 56. Mas, valores superiores a 55,5% dos isolados de E. coli foram resistentes a penicilina, perlimicina, eritromicina, tretraciclina e estreptomicina. Assim, fornecer leite descarte para bezerros, mesmo que pasteurizado, pode desencadear a ocorrência de E. coli resistente no intestino de bezerros leiteiros.

O ideal é a separação do leite proveniente de vacas com mastite ou em tratamento para fornecimento para animais mais velhos e alojados individualmente. O colostro de baixa qualidade e o leite de transição devem ser fornecidos para os animais mais novos, tendo em vista os efeitos benéficos do fornecimento prolongado de colostro tanto na saúde quanto no desempenho dos animais.

O colostro fermentado também pode ser uma alternativa de dieta líquida para bezerros leiteiros. A fermentação de colostro excedente foi extensivamente estudada durante as décadas de 70 e 80 como uma possibilidade de armazenamento e de utilização. O primeiro trabalho referente ao fornecimento de colostro ou leite de transição fermentado data do início da década de 70 e estimulou uma série de importantes trabalhos nesta área nos anos subsequentes. De maneira geral, se observou que a fermentação de colostro e leite de transição pode resultar em alimento de boa qualidade que permite taxas de ganho de peso comparáveis àquelas observadas com o fornecimento de leite ou sucedâneo, desde que as condições de manejo alimentar e sanitários sejam adequadas. No entanto, algumas pesquisas mostraram que o fornecimento de colostro fermentado aerobicamente pode resultar em recusa pela bezerra, reduzindo o consumo de matéria seca proveniente da dieta líquida e assim, prejudicar o desempenho. Estes trabalhos foram realizados com fermentação aeróbia, o que no Brasil não funcionou devido a maior temperatura ambiente, resultando em dieta líquida com presença de mofos e bolores e consequentemente baixos desempenhos e alta mortalidade.

No entanto, Saalfeld (2008) desenvolveu uma técnica de fermentação anaeróbia, chamando o colostro fermentado de silagem de colostro. O colostro/leite de transição são armazenados em garrafas plásticas de 0,5, 1 ou 2 L, preenchidas completamente de forma a retirar o ar do sistema, por um período de 21 dias. Em acompanhamento à propriedade particular com o emprego da técnica e desaleitamento com 60 dias de vida, Saalfeld (2008) observou ganho de peso diário de 823 g/d no primeiro mês de vida das bezerras e uma média de 667 g/d até o sexto mês. A fermentação em meio anaeróbio de colostro colhido nas 3 ou 4 primeiras ordenhas após o parto parece uma interessante maneira de se armazenar colostro excedente. O armazenamento é importante em situações onde a demanada por dieta líquida diária é pequena, mas a produção de colostro é alta, como ocorre em rebanhos pequenos com vacas de alta produção.

Por outro lado, o trabalho de Ferreira et al. (2013b) mostrou que embora o material sofra fermentação anaeróbia adequada, garantindo armazenamento sem o aparecimento de fungos e bolores, a qualidade nutricional é bastante prejudicada. Ocorre grande queda no teor de proteína, com acréscimo na porção de nitrogênio não proteico que não é aproveitado pela bezerra nesta fase. Também ocorre redução nos teores da lactose e o consequente abaixamento de pH permite que o material seja armazenado por longo período. Em trabalho subsequente Ferreira et al. (2013a), observaram menor ganho de peso em bezerros recebendo silagem de colostro como dieta líquida quando este foi diluído em água na proporção de 1:1 e comparado a um sucedâneo comercial de média qualidade (181 vs 279 g/d, P<0,05). Este baixo desempenho ocorreu provavelmente em resposta a grande redução na concentração de proteína verdadeira e aumento no N não-protéico da silagem. Além do baixo desempenho, foi observada alta morbidade, com animais apresentando sinais de dor abdominal, e baixa aceitabilidade voluntária da dieta líquida. Por outro lado, o trabalho de Azevedo et al. (2013) mostrou potencial de inclusão de silagem de colostro na dieta líquida de bezerros, quando é feita a diluição em leite. Nesta situação, o ganho de peso foi semelhante ao observado com o leite integral (734,5 vs. 806,4 g/d), enquanto que a diluição em água resultou em baixo ganho de peso (484,5 g/d) e consequente menor peso final, corroborando os dados de Ferreira et al. (2013).

O soro de leite é um subproduto da produção de queijo e pode estar disponível em grandes quantidades em algumas regiões. É considerado um problema para a indústria, devido à impossibilidade de descarte sem tratamento, e por isso muitas vezes comercializa este subproduto a preços irrisórios para produtores de leite. Mais recentemente a indústria desenvolveu métodos de secagem deste material de forma que o soro seco tem sido utilizado na produção de inúmeros outros produtos para alimentação humana ou mesmo animal, como na formulação de sucedâneos. Embora seja utilizado por muitos produtores, o soro de leite é uma dieta líquida extremamente desbalanceada quando comparada a composição do leite integral e não deve ser utilizado para substituir o leite dos bezerros. Apresenta, no seu baixíssimo teor de sólidos (7%), 12% de gordura; 70% de lactose, o que resulta em grande incidência de diarreias; somente 10-12% de proteína; além de altas concentrações de minerais (Liziere e Campos, 2001). Assim, o soro in natura não deve ser fornecido a bezerros em aleitamento.

A tomada de decisão para a substituição do fornecimento de leite por qualquer outra dieta líquida deve considerar não somente os aspectos financeiros mas também as consequências em termos de desempenho e saúde das bezerras. Muitas vezes o fornecimento de dietas líquidas mais baratas acabam aumentando o custo de produção dos animais por resultarem em menores taxas de crescimento e maior ocorrência de diarreias, resultando por sua vez em mais recursos e tempo de mão de obra para tratamento.


Literatura citada

Azevedo, R.A.; Araújo. L.; Coelho, S.G.; Faria Filho, D.E.; Geraseey, L.C. Desempenho de bezerros alimentados com silagem de leite de transição. PAB, v.48, n.5, p.545-552, maio 2013.

Ferreira, L. S.; Bittar, C. M. M.; Silva, J. T.; Oltramari, C. E.; Nápoles, G.G.O.; Paula, M. R. Desempenho e parâmetros sanguíneos de bezerros leiteiros que receberam sucedâneo lácteo ou silagem de colostro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 65, p. 1357-1366, 2013a.
Ferreira, L.S.; Silva, J. T.; Paula, M. R.; Soares, M.C.; Bittar, C. M. M. Colostrum silage: fermentative, microbiological and nutritional dynamics of colostrum fermented under anaerobic conditions at different temperatures. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 35, p. 395-401, 2013b.

Liziere, R.S.; Campos, O.F. Soro de leite in natura na alimentação de gado de leite. Instrução técnica para o produtor de leite. Embrapa, 2001.

Saalfeld, M. H. Uso da Silagem de colostro como substituto do leite na alimentação de terneiras leiteiras. A Hora Veterinária – Ano 27, n.162, março/abril/2008.

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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