O gráfico 1 mostra o preço pago ao produtor deflacionado. É fácil perceber que além de estar em queda em um momento pouco usual, de produção historicamente mais baixa, o preço atual está abaixo do valor de 2011 para essa mesma época. Em junho do ano passado o preço estava 6% maior do que junho desse ano.
Gráfico 1: Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA)
(Fonte: Cepea, elaboração MilkPoint)
Se não bastasse essa situação, os insumos seguem em alta crescente desde o final do ano passado, reduzindo as margens do produtor. O gráfico 2 traz a informação da receita menos o custo de ração. Em 2009 e 2010 houve picos acentuados no meio do ano; já em 2011 esse pico foi bem mais suave, para finalmente ser inexistente em 2012, ainda que os valores do início do ano tenham sido mais altos do que nos anos anteriores.
Gráfico 2: Receita menos custo de ração
(Fonte: MilkPoint)
Nessa equação, o preço da ração tem pesado bastante. No gráfico 3 vemos que maio é o mês que apresenta o valor mais alto dos últimos 24 meses.
Gráfico 3: Preço da ração deflacionado (mistura milho, farelo de soja e mineral)
(Fonte: MilkPoint)
Quando analisamos a margem do produtor, vemos também indícios desse comportamento, com a ausência do habitual pico no meio do ano. O gráfico 4 foi feito a partir dos dados do ICPLeite/Embrapa e preços do leite em Minas Gerais apontados pelo Cepea/USP. No entanto, como o ICPLeite/Embrapa trabalha com os valores relativos apenas, nós arbitrariamente colocamos o valor de R$ 0,525/litro como custo em julho de 2007, corrigindo a partir daí pela inflação dos insumos utilizados pelo produtor.
Gráfico 4: Estimativa de preços/custos/lucro de um produtor de leite em Minas Gerais
(Fonte: ICPLeite/Embrapa, elaboração MilkPoint)
A conjuntura atual é reflexo em parte da maior oferta de leite do primeiro semestre e também das altas importações. Segundo a pesquisa trimestral do leite, divulgada no final de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o primeiro trimestre apresentou uma oferta consistente, com 4,4% acima na comparação com o mesmo período do ano anterior. Só em março de 2012, o aumento foi de 6,3% e ao que tudo indica, o segundo trimestre deve ter mantido essa tendência de produção (gráfico 5). Com exceção do Nordeste que teve a sua oferta afetada pela forte seca, o clima na Região Sul, responsável por aproximadamente um terço da produção brasileira, vem apresentando condições favoráveis de produção e com indícios de uma safra interessante.
Gráfico 5: Captação formal de leite (IBGE)
(Fonte: IBGE, elaboração MilkPoint)
Aliado a isso, as importações também foram um ponto crucial na atual situação de mercado. Em equivalente-leite (a quantidade de leite utilizada para produzir um quilo de determinado produto), 2012 segue os passos do ano passado, ano em que teve o maior volume internalizado desde 2003. Até junho, importamos 50,2% do valor total de 2011, e se esse comportamento mantiver, facilmente bateremos a quantidade importada do ano passado.
Gráfico 6: Quantidade de equivalente leite importada
(Fonte: MDIC, elaboração MilkPoint - obs: 2012 até junho)
Para compor esse cenário, há indícios de que a demanda está sendo influenciada pela crise econômica. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, há quatro semanas o crescimento do PIB para 2012 estava estimado em 2,53%, Atualmente a expectativa já foi reduzida para 2,01%, o que demonstra que a economia do país está crescendo em um ritmo mais brando. Além disso ,o endividamento das famílias vem atingindo níveis recordes. Em dezembro de 2009, a dívida das famílias estava em R$ 485 bilhões, subindo para R$ 524 bilhões em abril do ano passado e atingindo R$ 653 bilhões em abril deste ano.
Com a oferta em alta e a demanda retraída, os preços dos produtos lácteos no atacado praticamente se mantiveram constantes (gráfico 7). Ao considerarmos apenas o leite UHT, julho de 2012 teve aumento de 5% em relação aos preços de janeiro; se fizermos essa mesma comparação em 2011, veremos que o aumento foi de 15%.
Gráfico 7: Preços deflacionados dos lácteos no atacado
(Fonte: Cepea, elaboração MilkPoint)
Com o cenário de preços mais baixos no campo e custos elevados , o segundo semestre deverá ter uma produção um pouco mais tímida, podendo resultar em corrida pelo leite no início do ano que vem. O momento para o produtor é de cautela, controle de custos e espera por momentos mais favoráveis.