GDT: preços internacionais dos lácteos seguem em queda

Nesta semana foi realizado o 318º evento do leilão Global Dairy Trade (18/10), e o cenário baixista prevaleceu por mais uma quinzena, com os preços médios registrando a segunda queda consecutiva.

O trecentésimo décimo oitavo evento da plataforma GDT apresentou um recuo expressivo de 4,81% na média de seus preços, que atingiram o menor valor desde janeiro de 2021, fechando em US$ 3.723 /tonelada.

Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
 

Nesta quinzena, ocorreu um leve recuo no volume negociado. Foram negociadas 29.402 toneladas de lácteos, volume 4,70% inferior em relação ao último leilão.

O comportamento no volume negociado seguiu em linha com os últimos anos, quando também ocorreram leves recuos no volume negociado para o período. Apesar deste comportamento, o volume negociado vem operando em alta, frente a sazonalidade de produção.

Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Dentre as variações dos preços dos derivados, todos os produtos apresentaram variações negativas: leite em pó desnatado (-7,06%, fechando em US$ 3.421 /tonelada), queijos (-3,97%, fechando em US$ 4.769 /tonelada), manteiga (-2,65%, fechando em US$ 4.851 /tonelada).

Os preços médios do leite em pó integral sofreram mais um significativo recuo de 4,25%, passando de US$ 3.573 /tonelada para US$ 3.421 /tonelada. No acumulado de outubro, os preços recuaram cerca de 8,36%, levando aos menores valores desde agosto deste ano.  

Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.

Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 18/10/2022.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Este cenário se formou frente a elevação da oferta mundial, se deparando com uma demanda ainda desestabilizada. Regiões da Europa, e os Estados Unidos vem conseguindo se recuperar, e elevar a sua produção, além disso, tem-se a entrada de uma nova safra na Nova Zelândia, Austrália. Sendo assim, a oferta mundial vem se elevando nos últimos meses, apesar de ainda estar operando em baixa, se comparado com o último ano, conforme podemos observar no gráfico a seguir.

Gráfico 3. Variação do volume de leite produzido por país em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do USDA, 2022.

Por outro lado, o comportamento da China segue desestabilizado, e as compras permanecem em um ritmo menor que os últimos anos. No acumulado do ano (entre os meses de janeiro e agosto), o país asiático, um dos principais players do mercado, apresentou desaceleração na demanda por lácteos de seus principais parceiros comerciais, dentre eles a Nova Zelândia, que registrou um recuo de -15,1% no volume total exportado para a China.

Gráfico 4. Variação total do volume importado de leite e derivados chineses (Jan-Ago 22 x 21).

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do CLAL, 2022.

Conforme relatado na última análise, essa menor demanda por parte dos chineses está relacionada com a mudança nos hábitos de consumo, impactados pelos lockdowns, associados a uma maior produção no país.

Os riscos de recessão econômica mundial também trouxeram um cenário negativo para o mercado. Dados da construção civil dos Estados Unidos, divulgados nessa semana, apontam para uma desaceleração do setor no país, demonstrando na prática os efeitos negativos na economia do aumento da inflação.

Desta forma, o mercado vem projetando uma tendência de novos aumentos nos juros por parte do Federal Reserve. Além dos Estados Unidos, a Europa enfrenta uma forte crise energética, que iniciou devido a problemas climáticos e se intensificou com a Guerra da Ucrânia.

Outro ponto que fortaleceu o cenário baixista foram os preços do petróleo. Após passar por elevações frente ao corte na oferta mundial projetado pela OPEP+, de aproximadamente 2 milhões de barris diários, os Estados Unidos divulgaram a intenção de liberação de aproximadamente 100 milhões de barris de petróleo em estoque, na tentativa de frear a tendência de alta para as cotações internacionais, o que levou a uma pressão de baixa nos preços, com o mercado precificando esse aumento da oferta.

Todos estes fatores contribuíram para o cenário baixista observado nesta quinzena.

Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), ambas as projeções seguem com cenário estável, levemente positivo para os próximos meses. Em meio às incertezas geradas pelo mercado extremamente volátil, as projeções do GDT e da NZX Futures divergem com relação aos preços dos contratos futuros. O GDT projeta uma estabilidade na casa dos US$ 3.400/ tonelada, enquanto o NZX Futures, um cenário de escalada para o restante do ano, ainda que nada expressivo, atingindo US$ 3.650 /tonelada no último mês do ano.

Gráfico 5. Contratos futuros de leite em pó integral.

Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.
 

E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?

Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (17/10/2022) — R$ 5,27 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.421 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,16 /litro.

Esse valor está abaixo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de setembro – fechado na média de R$ 3,05/litro (CEPEA/ESALQ) – também inferior, porém mais próximo, se comparado ao preço do leite spot da primeira quinzena de outubro (R$ 2,65 /litro – média Brasil).

Em meio a alta volatilidade, o real voltou a perder força frente ao dólar. Após passar por uma forte queda e atingir o patamar de R$ 5,20 no início do mês, frente a divulgação dos resultados das eleições, o dólar vem passando por elevações no acumulado semanal desde então, atingindo o valor de R$ 5,27 nesta segunda-feira, frente ao panorama econômico dos Estados Unidos, com uma inflação ainda afetando o mercado norte-americano, e expectativas de novos aumentos nos juros por parte do Federal Reserve, em sua próxima reunião. A proximidade do segundo turno das eleições no Brasil também contribui para ocasionar maior volatilidade da moeda norte-americana.

No mercado interno, após demonstrar estabilidade nos preços praticados nos derivados lácteos, os preços voltaram a recuar. A semana foi desafiadora para as vendas dos produtos, e a demanda aquém do esperado neste início de outubro impactou negativamente nos preços praticados. Esta dinâmica tende a enfraquecer a competitividade dos produtos internacionais nas importações.

Desta forma, o cenário de recuo nos preços do mercado internacional de lácteos, contribuem para elevar a competitividade dos produtos internacionais. Por outro lado, o avanço do dólar, e as quedas no mercado interno atuam no sentido contrário. Em um primeiro momento, ainda deve-se observar importações competitivas e a janela de exportações fechada. Porém, nos próximos meses as importações tendem a perder força, frente a elevação da oferta de leite no mercado interno.