Nesta semana foi realizado o 319º evento do leilão Global Dairy Trade (01/11), e o cenário baixista prevaleceu por mais uma quinzena, com os preços médios registrando a terceira queda consecutiva. O trecentésimo décimo nono evento da plataforma GDT apresentou um recuo de 5,00% na média de seus preços, que atingiram o menor valor desde janeiro de 2021, fechando em US$ 3.537 /tonelada.
Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Nesta quinzena, ocorreu um leve recuo no volume negociado. Foram negociadas 28.867 toneladas de lácteos, volume 1,82% inferior em relação ao último leilão. O comportamento no volume negociado diferiu dos últimos anos, quando ocorreram leves avanços no volume negociado para a primeira quinzena de novembro.
Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Dentre as variações dos preços dos derivados, observou-se os seguintes movimentos: leite em pó desnatado (-8,55%, fechando em US$ 2.972 /tonelada), queijos (+0,69%, fechando em US$ 4.802 /tonelada), manteiga (+0,35%, fechando em US$ 4.868 /tonelada).
Os preços médios do leite em pó desnatado sofreram a segunda queda expressiva consecutiva, e fecharam abaixo dos US$ 3.000 /tonelada pela primeira vez desde julho de 2021.
Os preços médios do leite em pó integral sofreram mais um significativo recuo de 4,15%, passando de US$ 3.421 /tonelada para US$ 3.279 /tonelada. Este é o menor valor desde dezembro de 2020.
Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.
Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 01/11/2022.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.
Este cenário se formou frente a elevação da oferta mundial, se deparando com uma demanda ainda desestabilizada. Frente a sazonalidade de produção, a Nova Zelândia elevou em 88,6% a sua produção entre os meses de agosto e setembro, com tendência de novos avanços para o mês de outubro.
Outros países como Argentina, Uruguai e Estados Unidos também vêm com uma elevação da produção, o que tende a ocasionar uma pressão de baixa nos preços no mercado internacional. O Uruguai elevou em 6,4% sua produção entre agosto e setembro e a Argentina, 1,1%.
Gráfico 3. Volume de leite produzido da Nova Zelândia.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do DCANZ, 2022.
Do lado da demanda, ainda não ocorreram reações por parte dos grandes players do mercado, como por exemplo a China. No acumulado do ano (entre os meses de janeiro e setembro), o país asiático seguiu com uma demanda enfraquecida pelos derivados lácteos. O volume total importado por parte da China da Nova Zelândia, registrou um recuo de -13,70%.
Gráfico 4. Variação total do volume importado de leite e derivados chineses (Jan-Set 22 x 21).
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do CLAL, 2022.
Conforme relatado na última análise, essa menor demanda por parte dos chineses está relacionada com a mudança nos hábitos de consumo, impactados pelos lockdowns, associados a uma maior produção no país.
Recentemente o líder da China, Xi Jinping foi reeleito para o seu terceiro mandato de 5 anos. Este fator, a princípio, contribuiu para fortalecer a tendência da política de tolerância zero a covid-19 no país asiático, e novas restrições foram impostas. Ao menos 33 províncias chinesas se encontram com algum tipo de restrição. Este cenário foi revertido nesta terça-feira, quando um comitê para analisar o andamento das políticas de controle sanitário se reuniu na China, trazendo esperanças para o mercado de que a política da China inicia estudos para colocar um fim nas restrições.
O mercado chinês passou por um cenário altista frente a esta dinâmica, principalmente o setor de serviços. Caso a China retome as compras, elevando a sua demanda, um cenário altista poderá se formar também para os preços do mercado internacional.
Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), ambas as projeções apontam leves altas para os próximos meses, porém com os preços ainda operando em patamares baixos. O GDT projeta uma estabilidade na casa dos US$ 3.300/ tonelada, com leves altas, enquanto o NZX Futures projeta leves altas, com os preços se mantendo na casa dos US$ 3.200 /tonelada.
Gráfico 5. Contratos futuros de leite em pó integral.
Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.
E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?
Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (31/10/2022) — R$ 5,25 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.279 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,06 /litro.
Esse valor está abaixo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de outubro – fechado na média de R$ 2,85 /litro (CEPEA/ESALQ) – e também inferior, porém mais próximo, se comparado ao preço do leite spot da segunda quinzena de outubro (R$ 2,55 /litro – média Brasil).
Em meio a alta volatilidade, o real voltou a ganhar força frente ao dólar. A moeda norte-americana vem oscilando frente ao cenário político em que o Brasil se encontra. Logo após o término das eleições, o dólar chegou a atingir R$ 5,40, devido as incertezas do processo de transição política.
Porém, o cenário se reverteu e a moeda fechou em R$ 5,25 nesta segunda-feira. Vale destacar que o cenário ainda está extremamente incerto, e novas oscilações tendem a ocorrer nos próximos dias, principalmente quando o ministro da economia for anunciado.
No mercado interno, os preços dos derivados lácteos vêm recuando nas últimas semanas, frente a um cenário desafiador, com uma demanda ainda enfraquecida e uma oferta em ascensão devido a sazonalidade de produção, refletindo em uma pressão de baixa para os preços praticados nos derivados lácteos.
Desta forma, o cenário de recuo nos preços do mercado internacional de lácteos, associados a queda do dólar, contribui para elevar a competitividade dos produtos internacionais. Por outro lado, as quedas no mercado interno atuam no sentido contrário. Em um primeiro momento, ainda deve-se observar importações competitivas e a janela de exportações fechada. Porém, devido a sazonalidade histórica das importações, nos próximos meses os volumes negociados tendem a perder força.