![]() | Vicente Rômulo CarvalhoVicente Rômulo Carvalho é Advogado e Produtor de leite. Trabalhou por 20 anos na extinta CIBRAZEM, que se fundiu com a COBAL, CFP e CIBRAZEM, para formar a CONAB. Hoje está em Lavras-MG, onde além da Advocacia, com especialidade na área Trabalhista, toca uma fazenda que fica no Município de Bom Sucesso-MG, a 60 km de Lavras. |
Vicente Rômulo Carvalho, fazendeiro (produtor de leite) e advogado. Trabalhou por 20 anos na extinta CIBRAZEM, que se fundiu com a COBAL, CFP e CIBRAZEM, para formar a CONAB. Na CIBRAZEM foi de cobrador, fiel de armazém e gerente de armazém, a chefe de parte do jurídico, sempre baseado em Brasília, tendo viajado/atuado por todo o País, resolvendo pendências de ordem administrativa e/ou contenciosa na defesa dos interesses daquela empresa, na qual trabalhou de 1970 a 1990. Hoje está em Lavras-MG, onde além da Advocacia, com especialidade na área Trabalhista, toca uma fazenda que fica no Município de Bom Sucesso-MG, a 60 km de Lavras.
MKP: Como é a sua propriedade leiteira?
VRC: A propriedade foi de meus avós, depois de meus pais e, agora, detenho parte da mesma, em torno de 183 hectares. Toda água da propriedade nasce nela. Aqui vale um comentário, para descontrairmos. As nascentes são protegidas (todas cercadas). Observamos que a água aumentou após esta proteção. Todavia, na mesma proporção, aumentou o preço do KWH. Faço até uma brincadeira com a situação. Será que se não houvesse protegido as nascentes e a água diminuído, o preço do KWH teria diminuído também?
Já fui cafeicultor, juntamente com a atividade leiteira. Em 2001, erradiquei os 40 mil pés de café e fiquei só no leite. Trabalhei com holandês semi-confinado, hoje estou com o girolando, em regime de pasto e, no período da seca, apenas os animais em lactação são tratados no cocho, com capineira e cana. Iniciei na atividade em 1989.

MKP: Quais são as principais dificuldades que você tem na atividade?
VRC: A primeira dificuldade é não ter um contrato estipulando direitos e obrigações, entre eu - produtor de leite - e o laticínio/cooperativa. O contrato deveria, obrigatoriamente, estabelecer dentre outras condições, o valor do litro de leite. Mão-de-obra está ficando complicada. Também, a desproporção da relação de troca, entre o leite e o custo de produção (adubos, inseticidas, defensivos, produtos veterinários, minerais, medicamentos, diesel, energia, etc.).
MKP: O que está melhorando no setor?
VRC: A qualidade da matéria-prima que nós produtores estamos mandando para o mercado consumidor.
MKP: O que acha que falta no setor?
VRC: Consciência dos produtores para regularmos o mercado. Não entendo porque reclamar do preço e não buscar diminuir a produção, para equilibrar a oferta. Falta ter preço justo e digno. O povo precisa de alimento e o produtor, fazendo uso social da terra, precisa de preços justos/dignos, o que é muito diferente de fazer caridade - que é o que estamos fazendo, já faz tempo. Veja alguns dados, tal como a faixa etária do produtor rural. Esta está ficando cada vez mais alta.
Mantidas as proporções, ao invés de celeiro do mundo, seremos grande importador. Faltam políticas de médio e longo prazos para o setor. Produtor não precisa e não deve ter prorrogações de dívidas (exceto em situações excepcionais, tal como em caso de catástrofe, dentre outros semelhantes). Produtor precisa é de preços justos, previamente estabelecidos e garantidos pelo Governo, nos sistemas (AGF e EGF). Precisa-se plantar sabendo antecipadamente o preço mínimo, justo/digno, saber que ao colher terá um armazém do Governo e/ou credenciado pelo mesmo, para armazenar o produto, pegar o certificado e ir ao banco optar por uma das modalidades, resolvendo sua vida financeira, tudo dentro das regras do jogo que estavam traçadas.
Veja bem, há anos se discute a questão da dívida do setor rural. As vendas de carro caíram há um mês e já há solução do governo para isto. Coitado do setor rural, que descaso.
MKP: Qual personalidade admira no setor?
VRC: No meu ponto de vista, pessoas capacitadas e com visão do setor rural, inclusive com visão internacional, há várias. Mas, ao chegarem em Brasília, se deixam levar por uma turma que, de fato, é a que decide os destinos da Nação, defendendo apenas os seus próprios interesses e/ou de seus grupos. Ministro da agricultura tem que ter poder. Quando eu era criança, por morar em fazenda, com aquela visão de menino do interior, confundia Ministro da Fazenda, pensando que era este quem cuidava dos problemas dos fazendeiros, e não dos da Fazenda Nacional/finança/tesouro. Queria não ter aquela confusão e que, na verdade, o Ministro da Fazenda cuidasse dos problemas, atinadamente ao Ministério da Agricultura; ou seja, o homem que tem a chave do caixa, sempre é um Ministro forte.
Quando o Roberto Rodrigues foi para o Ministério, fiquei esperançoso. Mas, qual foi o resultado? Ele não chegou a lugar algum, embora cheio de boas intenções e com ótima visão. A questão, ali em Brasília, é muito delicada, é o sistema, é a democracia, é a maioria, é a base de sustentação, e isto fica acima de tudo e dá no que todos nos já sabemos.
MKP: Qual empresa admira no setor?
VRC: Em número, gênero e grau, a EMBRAPA.
MKP: Dica de sucesso ou frase preferida
VRC: Primeira parte - Perseguir sonhos: é só trabalhar com dignidade e honestidade que as coisas acontecem. Segunda parte - Produzir alimento, tal como o leite, e com qualidade, alimento indispensável. Se houvesse um preço justo, seria muito gratificante.
MKP: Quais os serviços do MilkPoint você utiliza mais? Como o MilkPoint lhe auxilia no dia-a-dia?
VRC: As análises dos mercados estadual, nacional e internacional, as tendências destes mercados, as visões de pessoas e/ou autoridades ligadas à área. A liberdade oferecida aos leitores para fazerem comentários de artigos veiculados. A atenção na resposta para algum questionamento destinado ao próprio MilkPoint. A visão e os conhecimentos que se adquire através dos artigos veiculados, dentre outros.

