O cenário internacional para os preços das commodities que o Uruguai exporta pode ter "alguma trégua" em 2024, segundo o economista Aldo Lema. De qualquer forma, o analista lançou uma mensagem de cautela para o quinquênio de 2025-2030, uma vez que a economia mundial estaria crescendo abaixo de sua média histórica.
O economista participou da última Expo Prado na prévia de um painel chamado “O laticínio uruguaio não está crescendo. Por que os desafios enfrentados pelo setor não estão sendo superados?”
Lema destacou a taxa média de crescimento de 4% que o setor leiteiro uruguaio teve nos últimos 45 anos, algo muito positivo em um olhar histórico além do desempenho da última década. Ele também indicou que, após o choque da seca, a captação de leite pelas plantas cresceu a uma taxa com ajuste sazonal de 14% entre fevereiro e julho e de 6% com relação ao ano anterior durante o sétimo mês do ano.
Além disso, o especialista projetou um aumento da captação em um eixo de 3% até 2024, uma "taxa razoável" dado o contexto da economia mundial, determinante para a demanda e os preços dos produtos lácteos internacionalmente.
Em sua apresentação, Lema opinou que "a China não é uma bomba-relógio" e considerou que ainda tem espaço para tomar novas medidas de estímulo para administrar uma desaceleração em sua taxa de crescimento. Ele acrescentou que teremos que nos acostumar a ver as taxas de expansão do gigante asiático em 4% a 5% porque "ele já cresceu muito no passado" e agora tem uma população mais velha e baixa produtividade. Apesar de investir 45% do PIB, algo positivo, os retornos obtidos pelas empresas chinesas estão em queda. "A China deixou para trás a fase fácil de crescimento rápido", disse ele.
Sobre o comportamento das commodities, Lema considerou que há possibilidade de alguma estabilidade no curto prazo. Em parte porque a "depreciação" do yuan em relação ao dólar estaria chegando ao fim. "A evolução do dólar no mundo é decisiva para o preço das commodities", lembrou. Neste contexto, apontou que seguramente 2024 "dá uma trégua" a uma tendência de queda acentuada do preço dos principais produtos agrícolas de exportação.
De qualquer forma, numa visão de médio prazo (2025-2030) o cenário é de "grande incerteza" devido ao desfecho da guerra entre Rússia-Ucrânia, as relações geopolíticas da China e as eleições norte-americanas em 2024. "Não vamos ter um grande impulso para as commodities", previu. Segundo Lema, esse cenário pode levar a uma "queda nas margens" para os lácteos.
O dólar
Sobre a evolução do dólar e a defasagem cambial que a economia uruguaia enfrenta há meses, Lema transmitiu certa cautela sobre o impacto na Taxa de Câmbio Real (TCR) no curto prazo que pode ter uma redução, por exemplo, de 200 pontos-base (2%) da taxa de juros nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Uruguai, ou intervir diretamente no mercado comprando dólares, algo que as atuais autoridades da equipe econômica descartaram por enquanto.
"As perspectivas serão muito desafiadoras. O canal mais certo para aumentar a competitividade é a produtividade", concluiu Lema.
As informações são do Tardáguila Agromercados, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.