Quase todos os dias vemos notícias alegando que a flora intestinal pode influenciar nossa saúde de formas novas e surpreendentes, seja afetando nosso peso, humor ou capacidade de resistir a doenças. E, devido à explosão no interesse pelo nosso ecossistema interno, as prateleiras de supermercados e farmácias agora contam com uma variedade de produtos probióticos – contendo bactérias vivas e leveduras – que alegam conseguir melhorar o microbioma intestinal. Mas isso é realmente possível?
Para descobrir, o programa "Trust Me, I'm a Doctor" fez uma experiência na Escócia, na cidade de Inverness, com ajuda do serviço público de saúde local, 30 voluntários e cientistas de vários cantos do país. Os voluntários foram divididos em três grupos e, durante quatro semanas, foi pedido para cada grupo que tentasse uma abordagem diferente para tentar melhorar a flora intestinal.
O primeiro grupo consumiu uma bebida probiótica comprada em supermercados. Estas bebidas geralmente têm uma ou duas espécies de bactérias que podem sobreviver à passagem pelos poderosos ácidos de nosso estômago e se instalar nos intestinos. O segundo grupo tentou um bebida fermentada tradicional chamada kefir, que tem muitas bactérias e leveduras. Já o terceiro grupo consumiu alimentos ricos em uma fibra prebiótica chamada inulina. Os prebióticos são substâncias que alimentam as boas bactérias que já moram em nossos intestinos e a inulina pode ser encontrada na alcachofra-de-jerusalém (raiz também conhecida como tupinambor), raiz de chicória, cebolas, alho e alho-poró.
Descobertas
O grupo que consumiu a bebida probiótica teve uma pequena mudança em um tipo de bactéria que se sabe ser boa para manutenção do peso, a Lachnospiraceae. No entanto, esta mudança não teve importância estatística. Mas os outros dois grupos apresentaram mudanças significativas. O grupo que consumiu alimentos ricos em fibra prebiótica teve um aumento no tipo de bactéria boa para a saúde geral dos intestinos – resultado semelhante ao de outros estudos. No entanto, a maior mudança ocorreu no grupo que consumiu a bebida fermentada (feita com leite) kefir.
Estes voluntários tiveram um aumento em uma família de bactérias chamada Lactobacillales. Sabemos que algumas destas bactérias são boas para a saúde geral do intestino e que podem ajudar em problemas como diarreia e intolerância à lactose. "Alimentos fermentados, devido à sua natureza, são muito ácidos e então estes micróbios precisaram evoluir para lidar com este tipo de ambientes. Eles sobrevivem naturalmente em ácido", disse Paul Cotter, do Centro de Pesquisa Teagasc, em Cork, que ajudou na análise. "Isto os ajuda a passar pelo estômago para que elas possam ter uma influência mais abaixo, no intestino."
Teste em laboratório
"Então decidimos investigar mais os alimentos e bebidas fermentadas – queríamos saber no que estar de olho ao escolher produtos desse tipo". Com a ajuda de Cotter e dos cientistas da Universidade de Roehampton, várias bebidas fermentadas de supermercados ou farmácias foram selecionadas, assim como bebidas fermentadas feitas em casa. Elas foram enviadas para testes em laboratórios. Depois dos testes algumas diferenças marcantes foram constatadas entre estes produtos.
Os alimentos mais caseiros e produtos feitos com métodos mais tradicionais tinham uma variedade maior de bactérias, enquanto que alguns dos produtos comerciais tinham uma quantidade reduzida.
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Decifrando o kefir
As informações são do jornal Folha de São Paulo, adaptadas pela Equipe MilkPoint.