Ontem, mais duas operações foram fechadas, informou Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA, ao Valor. Outras 30 deverão ser concluídas neste mês, em patamares próximos a US$ 100 milhões. A expectativa é que 20% da carteira de clientes do setor do banco, estimada em R$ 50 bilhões em 2021, possa ser de recursos vindos das CPRs em dólar.
“Esperamos que seja o principal produto do banco para clientes do agronegócio que desejam ter dívida indexada a câmbio. O objetivo é fazer os recursos chegarem de forma mais rápida e barata ao produtor”, afirmou. A operação da primeira CPR foi feita em favor de um produtor do oeste da Bahia para financiar a lavoura de soja. O título foi registrado na B3 e a liquidação será em prazo inferior a um ano, bem como as outras duas finalizadas ontem.
“O produtor recebeu uma quantidade em reais, valor da operação convertida pela taxa na data do desembolso, e no vencimento vai pagar em reais o montante devido com a taxa de câmbio do dia”, explicou. “Dentro da gestão de risco dele, o cliente venderá a soja em dólar para alguma trading com mesma data de vencimento para garantir que não há exposição cambial”, concluiu.
O banco também recebe uma taxa de juros “em linha com seus principais programas de crédito mais competitivos”, disse o diretor. Embora os depósitos sejam apenas em reais, o Itaú BBA, como qualquer outra instituição financeira, precisa captar recursos em dólar para fazer tal operação. O banco levou quatro meses para criar o produto e a nova linha de financiamento. Pedro Fernandes acredita que a CPR em dólar será uma alternativa para o custeio de lavouras e pré-pagamentos e notas de crédito de exportações.
Diferentemente da CPR física, em que há a promessa da entrega de um produto na data de vencimento em troca da antecipação de recursos, a CPR financeira é liquidada em dinheiro. Mesmo referenciada em dólar, a liquidação continua sendo em reais. Apenas a denominação passa a ser em moeda estrangeira em uma combinação entre a quantidade de sacas de soja e o preço do produto em dólar, definindo o valor a ser pago no prazo futuro. Sem um dado oficial devido a não obrigatoriedade de registro desses títulos, a estimativa é que as duas categorias movimentem mais que o Plano Safra.
Tiago Lessa, sócio do Pinheiro Neto Advogados, disse que a emissão de CPR em dólar já era possível, mas que a nova lei deu segurança jurídica. “Algumas operações foram feitas há alguns anos, mas havia risco. Depois dessa pacificação, o mercado começa a ficar mais confortável em estruturar. Estamos trabalhando em operação gigante, também para um banco”, disse, sem revelar detalhes.
Para ele, a CPR em dólar é opção interessante para pequenos e médios produtores casarem custos e receitas, já que muitos trabalham dolarizados mas ainda se financiam em reais. Com esse instrumento, eles têm acesso a um mercado até então limitado a grandes produtores de forma mais ágil e barata.
“O tomador de recursos faz um hedge natural ao emitir a CPR em dólar, pois o seu ativo é dolarizado, como soja, milho e algodão e mesmo o arrendamento de terra ou maquinário, pago em sacas dos produtos. Assim, conseguem acessar recursos estrangeiros sem precisar comprar operação de derivativo para se proteger”, completou Lessa.
A maior expectativa é para o uso das CPRs em dólar como lastro para fomentar o mercado de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) referenciado também em dólar com depósito direto no exterior, o que exime investidores de burocracias no Brasil e risco com a moeda local. O Pinheiro Neto deve concluir no início de 2021 a estruturação da primeira operação do gênero.
As informações são do Valor Econômico.