Produção mundial enfrenta desafios, diz especialista

A indústria global de lácteos enfrentará tempos difíceis daqui para frente tendo em vista que se esforça para suprir os crescentes desafios de preservação da oferta, disse o presidente da Associação Européia de Lácteos (EDA), Joop Kleibeuker ao site Dairy Reporter. Segundo ele, se as atuais condições persistirem, existe uma genuína possibilidade de que o mercado possa enfrentar escassez de leite em um futuro próximo.

No ano passado, os preços de matérias-primas como o leite em pó, vital para os processadores de lácteos, continuaram aumentando à medida que a demanda ultrapassou a oferta. Kleibeuker disse que os acréscimos nos preços foram resultados de complexos fatores econômicos e ambientais, e não especificamente relacionados a qualquer fator único. Apesar disso, ele concordou que os aumentos significantes na demanda de mercados emergentes e nações ricas em petróleo certamente tiveram importante participação no aumento dos preços.

Além disso, ainda há um fator importante, como as amplas reformas que estão ocorrendo dentro da UE, que caminha em direção à implementação total de sua Política Agrícola Comum (PAC). Quando esta estiver totalmente implementada, a produção de matérias-primas lácteas necessárias aos processadores e consumidores estará menos protegida e, conseqüentemente, reduzida.

A UE já anunciou a anulação total dos subsídios a todas as exportações de produtos lácteos pela primeira vez em 40 anos, à medida que os preços continuam aumentando. Apesar de as medidas serem somente uma reação temporária à maior demanda, Kleibeuker destacou que é uma indicação de para onde a indústria está se movendo. "À medida que ela caminha para a abolição das cotas em 2015, existe um claro desenvolvimento dentro do setor de lácteos europeu para o não suporte de mercado".

Mas não é só a Europa que está vendo mudanças significantes em suas práticas de produção de leite. A Austrália está vivendo um importante declínio em sua produção por efeito da seca que continua afetando a indústria. Desta forma, a produção de lácteos deverá cair em 4% durante 2007, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A previsão na Nova Zelândia é de aumento da produção de lácteos em 1%, porém essa taxa de crescimento está em seu menor nível desde 2000. Isso tem ocorrido em parte devido aos maiores preços das terras que estão começando a limitar a expansão.

Já os EUA, apesar de oferecerem alguma possibilidade de aumento da produção leiteira, Kleibeuker disse que uma mudança no foco agrícola em direção aos biocombustíveis está evitando que o país alcance todo seu potencial.

Considerando estes fatores, Kleibeuker está incerto sobre o futuro da produção de lácteos. "É difícil dizer quanto tempo a situação pode se sustentar. De qualquer forma, não existem sinais claros ainda de que os preços cairão". Segundo ele, em termos de oferta, as opções são escassas, e que tem havido aumento na oferta em mercados como China e Ucrânia, mas que continuam insignificantes.

Kleibeuker sugeriu que a Europa pode ainda manter algumas vantagens competitivas sobre suas rivais na corrida por permanecer competitivos dentro da produção leiteira. Primeiramente, citou a expansão da UE neste ano para 25 estados membros. Com países como a Polônia fazendo parte do bloco agora, as vastas áreas de terras agrícolas não aproveitadas podem ser desenvolvidas para produção leiteira. Além disso, com as cotas sendo lentamente abolidas, os mercados existentes, como os da Alemanha e França, podem focar em locais agrícolas mais custo-efetivos.

Mais importante ainda, Kleibeuker citou o papel vital que os processadores terão na substituição em direção a produtos lácteos mais sofisticados, para obter melhores retornos de seu fornecimento. "A UE tem uma forte experiência na produção de produtos de valor agregado no setor de lácteos".