Além do aumento na produção de leite em regiões-chave, um dos principais fatores que influenciarão a redução dos preços dos produtos lácteos é o crescimento da população mundial. Durante os próximos 10 anos, o crescimento da população mundial deverá desacelerar para pouco mais de 1% anual em média, comparado com o crescimento de 1,3% durante os últimos 10 anos. O relatório, o primeiro feito em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization - FAO), mostra que o crescimento populacional está desacelerando em todas as regiões e declinando na Europa em uma taxa média anual de 0,73%.
Ao mesmo tempo, a renda média deverá crescer em uma taxa anual de 3,1%, comparado com os ganhos de 2,62% dos últimos 10 anos. O crescimento na renda média deverá acelerar em todas as regiões, com o crescimento mais rápido ocorrendo na Ásia. O aumento na renda, juntamente com o menor crescimento populacional, levará a mudanças no mix de produtos lácteos que serão comercializados nos mercados mundiais. A tendência em direção à urbanização nos países em desenvolvimento também deverá levar a contínuas mudanças em direção ao consumo de produtos com valor agregado.
Com exceção do soro de leite em pó, os preços mundiais das commodities lácteas deverão manter a tendência de baixa durante 2007, antes de voltarem aumentar em 2008. Mesmo que os preços médios não atinjam níveis tão altos como os dos últimos dois anos durante os próximos 10 anos, a expectativa é que estes permaneçam bem acima da média dos últimos 10 anos, indicando o que alguns consideram como um novo e maior piso de preços mundiais.
Com relação à oferta, o relatório espera que a produção global de manteiga aumente a uma taxa anual de 1% durante os próximos três anos e que isso levará a uma redução nos preços. No próximo ano, os preços globais da manteiga deverão cair US$ 36,95 por tonelada, para US$ 2.254 por tonelada, FOB, preço de exportação, seguido por um declínio ainda maior em 2007, para US$ 2.167 por tonelada. O consumo de manteiga e de leites em pó deverá declinar nos mercados maduros, onde existe abundância de alimentos e onde os consumidores continuam migrando para dietas mais variadas e com menor teor de gorduras saturadas. Nos países em desenvolvimento, entretanto, onde vivem 75% da população mundial e onde a maioria do crescimento ocorrerá, a diversificação da dieta levará ao crescimento da demanda por produtos lácteos.
Os analistas esperam que a produção global de leite em pó desnatado caia até 2010, com os preços caindo até 2007. As projeções são de que o preço do leite em pó desnatado cairá US$ 24,63 nos próximo ano, para US$ 2.439 por tonelada, FOB, preço de exportação, norte da Europa, e, então, decline para US$ 2.414 em 2007. Os preços do leite em pó integral, FOB, preços de exportação, deverão seguir um padrão similar, caindo de US$ 2.549 por tonelada neste ano para US$ 2.475 no próximo ano e US$ 2.378 em 2007. Ao mesmo tempo, o consumo de leite em pó integral deverá se manter forte, mas o consumo de leite em pó desnatado deverá declinar durante o período de 10 anos previsto no relatório.
Apesar da redução da escassez de produção de soro de leite, os preços do soro de leite em pó deverão aumentar firmemente até 2010.
O mercados mundial de lácteos deve permanecer em cerca de 7% do total produzido mundialmente. As nações da África e da Ásia continuarão importando mais leite em pó integral e a Nova Zelândia continuará na posição dominante nas exportações de manteiga, queijos e leite em pó, à medida que a dominância da União Européia (UE) diminui. Finalmente, a Argentina aumentará sua presença no mercado de leite em pó integral, segundo o relatório, e este país poderá possivelmente até desafiar o papel dominante da Nova Zelândia como exportador de leite em pó integral.
Ressalvas
Para Otávio Farias, gerente geral da trading Hoogwegt no Brasil, as previsões da OCDE devem ser vistas com cautela, embora indiquem uma tendência que deve se consolidar. "É temeroso falar em valores específicos, mas o fato é que a produção mundial está crescendo mais do que o consumo, de forma que deveremos ter ajustes nos preços daqui para frente", alerta ele. Para ele, no longo prazo é difícil sustentar essa afirmação, visto que os riscos de seca na Oceania e na Europa podem afetar a oferta.
Os preços internacionais, como pode ser analisado no gráfico abaixo para leite em pó integral (fonte: USDA), são os mais altos dos últimos 5 anos. A produção cresce nos Estados Unidos (mais 2,5% sobre 2004), na Argentina (mais 5%), além de recuperação na Europa e Oceania. Porém, se houver ajustes nos preços, estes não serão de grande magnitude, longe dos preços historicamente baixos de 2002.
Após 2007, os preços devem novamente aumentar. Até 2010, a China deve elevar suas importações em 216.000 toneladas, os EUA em 96.000 toneladas e a Rússia em 80.000 toneladas. Somando-se todos os importadores, a demanda poderá crescer cerca de 1 milhão de toneladas por ano, até 2010.
Previsões feitas pela Hoogwegt
Preços EUA FOB West Coast; preços mundiais determinados pela Europa e/ou Oceania FOB
Fonte: Hoogwegt Horizons, publicação da Hoogwegt U.S, e MilkPoint
